Descrição de chapéu Coronavírus

Procura por serviços de internet na periferia dispara na quarentena

Além de novos clientes, empresas que atuam na região são requisitadas para ampliar pacotes

São Paulo

Durante o isolamento social provocado pela pandemia do novo coronavírus, a procura por instalação de serviços de internet fixa nas periferias de São Paulo aumentou até três vezes, segundo empresas do setor. Além disso, também há pedidos para melhorar o pacote contratado. Os preços variam de R$ 80 a R$ 200, dependendo da velocidade.

Segundo o Sinditelebrasil (Sindicato Nacional das Empresas de Telefonia e de Serviço Móvel Celular e Pessoal), desde o início da quarentena houve um aumento de 30% no tráfego do país.
No dia 24 de março, todo o estado de São Paulo interrompeu o funcionamento de serviços não essenciais diante da pandemia do novo coronavírus.

Ascanio Caracciolo, de 28 anos, é o fundador da Express Network, empresa que fornece internet na região do Jardim Ângela e do Capão Redondo, zona sul de São Paulo. Ele afirma que desde que a quarentena começou, os pedidos diários por instalação de internet aumentaram cerca de três vezes.

Técnico faz a instalação de internet em rua na zona leste de São Paulo
Técnico faz a instalação de internet em rua na zona leste de São Paulo - Rivaldo Gomes/Folhapress

Para suprir a procura, a empresa ampliou a capacidade dos servidores e comprou novos equipamentos, mas estes ainda não chegaram. "Tem mão de obra, cliente, mas faltava o equipamento", afirma Ascanio.

Mesmo sem equipes de divulgação na rua, a empresa Imunidade Digital, que atua em Guarulhos (Grande SP) e na região do Jardim Fontalis, zona norte da capital, a demanda aumentou em torno de 20% do mês de fevereiro para março. Segundo a gerente comercial Noely Fernandes Reis, 30 anos, o bairro Vila Ayrosa liderou as solicitações.

Segundo o gerente de comunicação e vendas da Vip Telecom, Cleber Ricardo, 40 anos, a procura por instalações aumentou entre 15% e 20% no final de março e início de abril.

Cleber afirma que o crescimento ocorreu em todas as regiões que a empresa atende, como as cidades de Mauá, Ribeirão Pires, Suzano e Mogi das Cruzes. No entanto, o extremo leste de São Paulo liderou o aumento. "A Vip atua dentro de comunidades onde grandes operadoras não estavam", afirma sobre um dos pontos positivos do trabalho.

Pequenas empresas ganham espaço no mercado

A engenheira elétrica Tereza Cristina Carvalho, doutora na área de redes de computadores pela USP (Universidade de São Paulo) e professora associada da Escola Politécnica da USP, diz que a tecnologia é essencial para as pessoas conseguirem suportar o isolamento.

Ela destaca que a internet está sendo utilizada tanto para atividades educacionais quanto trabalho, entretenimento e contato com amigos.

Porém, o repentino aumento da procura não é proporcional à infraestrutura disponível. A professora diz que as empresas estudam o perfil das pessoas e a demanda por região para direcionar investimentos. Assim, há diferença na qualidade e oferta de serviços em cada local, sendo que alguns já estão com a rede esgotada.

Essa limitação pode abrir espaço para pequenas empresas. Diferentemente das grandes, elas têm custo menor e podem ser mais ágeis. E quando há diversificação no mercado, a tendência é melhorar o preço e a qualidade do serviço ofertado, segundo a professora.

Instalação é motivada por trabalho e estudos

A empregada doméstica Débora Alves, de 42 anos, instalou um pacote de internet no último dia 15 de abril. Ela passou dois meses sem o serviço porque morava em um local que não tinha rede disponível.
Débora vive com mais quatro pessoas e utiliza a internet principalmente para conversar com a família, por meio das redes sociais e aplicativos de comunicação.

No entanto, o que a motivou a procurar o serviço neste momento de quarentena pelo novo coronavírus foi possibilitar o ensino a distância. "Coloquei para os meus filhos estudarem pela internet. Agora com essa onda de coronavírus, não tem como ir para a escola", afirma a moradora do Jardim Iguatemi, bairro da zona leste de São Paulo.

Quando o técnico em telecomunicações Adriano Correia de Lima, de 38 anos, vai fazer uma instalação em uma residência, é comum ouvir que a pessoa precisou de uma internet melhor para poder trabalhar em casa. Essa tem sido a rotina de funcionários em todo o território nacional.

A pandemia causa preocupação e afeta a rotina de trabalho de Adriano, que agora precisa utilizar luvas, máscaras e álcool em gel. "Tanto para a nossa proteção quanto do cliente."

Sindicato diz que cada empresa monitora rede

Segundo o Sinditelebrasil, o setor de telecomunicações é fundamental neste momento de reclusão. "Estamos vivendo um cenário imprevisível no qual temos que concentrar esforços na saúde das pessoas, na estabilidade da rede e na eficácia do atendimento compatível com a situação".

O sindicato afirma que cada empresa monitora a sua rede e toma as medidas para manter a conectividade dos clientes. E ressalta que é importante usar conscientemente todos os recursos, inclusive o das redes de telecomunicações.

Assuntos relacionados

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.