Mesmo após permitir a reabertura do comércio, a Prefeitura de São Paulo, gestão Bruno Covas (PSDB), não decidiu ainda a situação dos ambulantes legalizados na cidade. Enquanto isso, camelôs irregulares trabalham normalmente nas regiões de comércio popular da capital paulista.
O município atualmente está na fase 2, do chamado Plano São Paulo, identificada como laranja, em que foi liberada a abertura de comércios de rua e shoppings.
A ambulante Aldenir Maria Monteiro da Silva, 66 anos, comercializa miudezas e roupas na região da rua 25 de Março, famosa via de comércio popular da capital paulista. Pela primeira vez, em cerca de 30 anos, ela foi obrigada a interromper a fonte de seu ganha pão, em decorrência da quarentena decretada pelo governo estadual, em 24 de março.
“Não estou ganhando dinheiro, pois não vendo nada. A única coisa que tenho é uma cesta básica, que ganho de doação, uma vez por mês, e que às vezes não dá para todo mundo,” explicou se referindo ao marido cardiopata de 77 anos, à filha com problemas neurológicos, 43, e da neta de 15 anos com quem mora na região de Santa Efigênia (centro).
A ambulante disse ainda que “todos vão morrer de fome”, caso a prefeitura demore para anunciar quando os ambulantes legalizados poderão voltar ao batente. “Eu já precisei ajudar amigos [camelôs] dividindo com eles parte do pouco que recebo da cesta básica”, desabafou Aldenir.
Para não aumentar dívidas, camelô cogita vender irregularmente
Desde 1970, o ambulante Marcos José Xavier, 64 anos, vende produtos nas ruas da capital paulista para pagar as contas de casa e colocar comida na mesa. Seu ponto comércio mais recente, onde fazia negócios até a decretação da quarentena feita pelo governo estadual, gestão João Doria (PSDB), é o Bom Retiro (centro).
O ambulante, conhecido como Marcão, explicou que as vendas já estavam fracas desde antes da pandemia da Covid-19, piorando as coisas para ele, que já gastou o que tinha de grana guardada e que agora se vira com dinheiro emprestado por amigos.
Marcão também lamenta que a prefeitura tenha liberado a abertura de comércios “e se esquecido” dos ambulantes legalizados. “O ‘poder de fogo’ do comércio estabilizado é maior, é sem precedentes com relação a nós ambulantes. Se não liberarem para a gente voltar a trabalhar logo, vou pegar minhas roupas e ir vender junto com os irregulares no Brás ou Pari”, afirmou se referindo a camelôs irregulares que comercializam, principalmente itens de vestuário, de madrugada no centro de São Paulo.
"Nossas barracas ficam ao ar livre", afirma vice-presidente de sindicato
De acordo com Alcides Benvindo Oliveira da Franca, 54 anos, vice-presidente do Sindicato dos Permissionários de SP, cerca de dois mil ambulantes legalizados ficaram sem fonte de renda na capital, após o início da quarentena no estado.
Ele criticou o fato de a gestão Bruno Covas (PSDB) não ter liberado a volta dos ambulantes legalizados. “Nossas barracas ficam a cerca de cinco metros uma da outra e ao ar livre, dificultando a [eventual] contaminação pelo coronavírus. Já as lojas padrão são fechadas e as pessoas ficam mais aglomeradas e expostas”, comparou.
Franca também acrescentou “ficar sem entender” a proibição para que ambulantes legalizados trabalhem, enquanto os irregulares tomam as ruas e calçadas dos centros comerciais. “A prefeitura diz que vem a fiscalização e retira [os irregulares], mas ela não fica integralmente nos locais, aí os ilegais voltam e continuam a vender.”
Resposta
A Prefeitura de São Paulo foi questionada sobre a não inclusão dos ambulantes regularizados em seu programa de reabertura do comércio na cidade. Porém, não comentou sobre o assunto até a publicação desta reportagem.
O governo municipal afirmou ter apreendido mais de 22 mil lacres de produtos vendidos iregularmente na cidade. A fiscalização é feita por cerca de dois mil agentes, que interditaram 620 establecimentos que descumpriram determinações de prevenção à Covid-19.
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