Apoio dos colegas dá ânimo para enfermeiro superar a Covid-19

No auge da crise, Wilson Pádua pensou que não resistiria

São Paulo

Na fase mais complicada do seu tratamento contra a Covid-19, o supervisor de enfermagem Wilson Paes de Pádua, 57 anos, apegou-se às orações e às palavras de apoio dos companheiros de trabalho no Hospital Geral de Vila Penteado para conseguir dar a volta por cima.

“Eles me ajudaram muito nessa passagem ruim, com palavras de esperança. Foi nisso que me apeguei, porque estava vendo uma situação declinando e pensei que dessa vez não escaparia”, lembra Wilson de sua fase mais complicada nos 11 dias em que esteve internado no hospital da zona norte da capital paulista.

O supervisor de enfermagem Wilson Paes de Pádua recebe alta no Hospital de Vila Penteado com festa dos colegas de trabalho
O supervisor de enfermagem Wilson Paes de Pádua recebe alta no Hospital de Vila Penteado com festa dos colegas de trabalho - Reprodução/Facebook

“Tive até uma mãozinha divina. Rezei muito e meus colegas também rezaram, porque em alguns momentos achei que ia morrer. Rolou muita lágrima, porque eu não conseguia respirar. Tossia e não saía nada, não tinha catarro. Era como se afogar no seco. Puxava o ar e não vinha porque o pulmão não expandia. E tinha aquela dor no peito de tanto forçar”, emociona-se.

Wilson começou a sentir os sintomas do novo coronavírus no dia 1º de maio, uma segunda-feira, quando amanheceu rouco e com o corpo estranho. Na quarta, começou a tosse, o que o fez ter quase certeza de que estava com a Covid. Então, foi fazer o teste no Pronto Socorro. Quando a enfermeira passou o cotonete para colher amostra na garganta dele, teve início uma tosse incontrolável e ele foi afastado por três dias.

“Fiquei superchateado por ter pego essa doença, por ter parado minhas atividades profissionais. O pior foi que tive de passar um recado para a família para cuidar da minha mãe, Zilda, de 89 anos, que mora comigo e de quem eu não poderia cuidar. Me isolei no quarto.”

Como trabalha na linha de frete do hospital, ele acredita ter-se contaminado em algum momento do processo, apesar de estar sempre com os equipamentos de proteção individual.

“O meu papel é supervisão, mas tenho de rodar os corredores, os quartos, ouvir um paciente ou outro, supervisionando todos os enfermeiros, técnicos e auxiliares. Acho que foi numa dessas idas e vindas, em alguma situação que não sei qual, que eu me contaminei. A gente usa máscara, avental, luva... Pode ter sido na hora de tirar uma máscara ou alguma roupa, ou alguma maçaneta que estivesse contaminada. Não dá para saber.”

Os três dias iniciais de afastamento não chegaram a se completar. Na sexta-feira, Wilson estava tão mal em casa que precisou ser levado pelo filho para o hospital. “Eu já estava fraco, sem força, não conseguia nem discutir para onde ia. Estava totalmente dependente dos outros. Eles tiveram de me pegar e colocar no carro. Não tinha força para nada. A tosse era horrível. Quando tosse, você perde oxigênio. Quando vai respirar, tosse de novo. Então, eu não conseguia respirar, e bateu o desespero.“

A pior lembrança de Wilson foi mesmo a tosse, que o deixou quatro dias completamente dependente de ajuda dos enfermeiros, além de estar sempre com máscara de oxigênio.

“Enquanto eu ficava quietinho na cama, sem me mover, conseguia controlar minha respiração e não tossia. Mas nos momentos em que tinha de me mexer ou de ir ao banheiro, a tosse atacava de novo, incontrolável. Até pedia desculpas para os colegas por ficar tossindo. Eu me sentia até envergonhado. Graças a Deus eles estavam muito bem paramentados.”

Durante o tratamento, Wilson conta que o médico perguntou se ele queria fazer uso da cloroquina. “Falei que poderia usar. Nessas horas, água benta, canja de galinha, o que tiver eu aceito. Não tinha o que ficar escolhendo. Como sou diabético e hipertenso, tomei anti-hipertensivo e fiz o controle da glicemia certinho. Eu estava bem protegido e o corpo reagiu.”

O ânimo de Wilson mudou após um banho, à noite. Após ter sido ajudado pelo enfermeiro para ir até o banheiro com a mangueira de oxigênio e depois se trocar, um simples gesto mostrou que ele estava superando a doença.

“Eu coloquei a roupa e levantei o pé espontaneamente para secá-lo. Foi quando eu percebi que estava melhorando. Eu não conseguia fazer o movimento espontâneo de levantar o pé, e consegui naquela hora. Estava rindo sozinho. Até para colocar meia no meu pé eu precisava de ajuda. Deu ânimo novo e pensei: Fui salvo!”

Após a alta, no dia 19, ele foi muito festejado pela equipe do hospital, que aplaudiu em sua passagem na cadeira de rodas. Totalmente recuperado, ele já está de volta ao trabalho. “Não dá para ficar parado.”

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