A crise provocada pela quarentena, decretada em 24 de março pelo governo do estado, atingiu em cheio a Galeria do Rock, tradicional ponto turístico e de comércio no centro da capital paulista. Segundo o síndico do local, cerca de 30 estabelecimentos fecharam as portas definitivamente, provocando aproximadamente 400 demissões.
Antônio de Souza Neto, 68 anos, conhecido como Toninho da Galeria, é síndico do complexo de lojas há 26 anos. Ele afirmou nunca ter testemunhado uma crise semelhante à vivida atualmente pelo setor —que comercializa roupas com temática de bandas, discos, DVDs e LPs para um público que, antes da pandemia da Covid-19, segundo ele, chegava a 15 mil pessoas por dia.
Segundo o síndico, o movimento geralmente diminui em janeiro e fevereiro, por causa das festas de fim de ano, mas é recuperado gradualmente no decorrer do ano primeiro trimestre. “Mas em 2020, o movimento caiu muito além do normal já em fevereiro, por causa do Carnaval. Na sequência, veio a pandemia do coronavírus e ferrou com tudo de vez”, afirmou. Na galeria, acrescentou, funcionavam antes da crise cerca de 450 comércios.
Toninho também é lojista no centro comercial, onde vende camisetas e acessórios de rock. Antes da quarentena, ele tinha oito funcionários, mas acabou demitindo três para poder se manter durante a crise.
Além disso, ele também dispensou quatro prestadores de serviço da galeria, deu férias para 20 colaboradores e para 15 terceirizados. "Estou tentando mandar o mínimo de gente embora. Isso é um peso na consciência, ver a pessoa sendo deixada na mão, sem emprego", desabafou.
Sacrifícios
Para não demitir seus dois funcionários, o comerciante Dionísio Febraio, conhecido como Magrão, dividiu por três o que havia sobrado da reserva de caixa de sua loja de discos, que mantém há cerca de 30 anos.
Ele afirmou que, antes do novo coronavírus, costumava vender diariamente cerca de 100 produtos como LPs, CDs e DVDs. No período do Carnaval deste ano, Magrão diz que as vendas caíram para aproximadamente 30 por dia.
Após a decretação da quarentena, Magrão tentou manter o comércio com vendas online. Porém, foram feitas somente quatro encomendas em quase um mês. “O que eu tinha de dinheiro guardado já acabou. Estou dependendo atualmente da ajuda de minha mãe [85 anos]”, revelou.
Nivaldo Silva Costenaro, 59 anos, também mantém uma loja de discos há cerca de 30 anos na Galeria do Rock. Ele trabalha sozinho, mas está sem perspectivas de que os negócios voltem a ser como eram antes.
“O mercado de discos não está bom há tempos. As vendas estão caindo, está sendo horrível para quem trabalha neste ramo”, afirmou.
Ele disse ainda que as pessoas que costumam comprar discos atualmente estão com outras prioridades. Desde 24 de março, Costenaro vendeu somente R$ 500 em produtos. “Ainda tenho reservas, mas em breve terei de me endividar para pagar as contas”, admitiu.
Estado diz conceder incentivos
A Secretaria estadual de Desenvolvimento Econômico, sob gestão João Doria (PSDB), afirma manter diálogo com os setores produtivos, de comércio e serviços. A pasta acrescentou que pretende intensificar as conversas com comerciantes e empresários para estruturar, a partir de 11 de maio, a flexibilização das atuais restrições de funcionamento, provocadas pela quarentena.
"O Plano São Paulo irá considerar sugestões dos diferentes segmentos econômicos. Elas serão analisadas e submetidas à análise do Centro de Contingência do coronavírus de São Paulo", diz trecho de nota.
A governo estadual acrescentou já ter concedido incentivos às empresas que optaram pelo Simples Nacional, tendo 90 dias para pagar o ICMS [Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços] devido.
"Também foram liberados mais de R$ 650 milhões em empréstimos subsidiados por meio da Desenvolve SP, Banco do Povo e também em parceria com o Sebrae, para auxiliar as empresas a atravessarem a crise", afirma.
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