O servente de pedreiro
O advogado de defesa Glauber Bez afirmou que não fará "nenhuma declaração sobre esta carta."
Segundo o pai de Vitória, conhecido como Beto, um detento que cumpria pena na penitenciária de Tremembé, onde Ergesse está preso, lhe entregou uma folha de caderno, cortada ao meio, nesta terça-feira (23) em Araçariguama. Em cada metade estavam escritas as mesmas coisas, sendo que um dos pedaços era endereçado ao pai de Vitória. “As cartas demoraram uns 15 dias para chegarem em minhas mãos [desde que o preso saiu da cadeia]”, disse Beto.
Após receber as cartas, que teriam sido escritas por Ergesse, Beto procurou a delegada Bruna Racca Madureira, que cuidou as investigações do caso. A policial o atendeu nesta quinta-feira (25).
Segundo a carta (leia íntegra abaixo), também lida pela delegada, Ergesse afirma que um Fiat Uno não teria sido periciado por causa de “um erro de comunicação” entre as polícias de Araçariguama, que investigou o caso, e de Sorocaba (99 km de SP), onde são feitos exames periciais na região. “Como a mídia não tem conhecimento [do Uno], então não há pressa nenhuma da polícia [em investigar]”, diz trecho do manuscrito.
Em outro trecho da carta, Ergesse menciona um homem, identificado como “Galego”, que estaria foragido “e dando cobertura ao dono do carro”, um suposto traficante de drogas. “Faça isso chegar ao conhecimento da mídia, aí a polícia trabalha”, orienta Ergesse ao pai de Vitória, finalizando: “Não é justo estar preso pelo o que os outros fizeram.”
"Não tem sentido nada do que ele escreveu", afirma delegada
A delegada Bruna Racca Madureira afirmou ao Agora, na manhã desta sexta-feira (26), que o inquérito do caso está finalizado. “Todos os fatos foram apurados na época [do crime].”
Bruna acrescentou não existir nenhum suspeito chamado Galego e que Ergesse, na carta, “coloca a principal testemunha como autor”. A delegada ainda afirmou não haver nenhum Fiat Uno apreendido. “Não sei de onde ele [Ergesse] tirou esse Uno. Não tem sentido nada do que ele escreveu”, afirmou.
Após ler a carta de Ergesse, a primeira sensação que o pai de Vitória Gabrielly sentiu foi de “se sentir usado”. “Não tive outra alternativa do que sentir. Principalmente pela frieza da carta. Ele [Ergesse] não faz sequer uma abordagem a mim [sobre a morte de Vitória]. Ele escreveu o que interessava para ele”, desabafou.
Beto acredita que o condenado queria lhe usar “como pombo correio” para levar para fora do presídio um plano “frio e calculista.”
Ergesse pegou pena máxima
O servente de pedreiro Lima Ergesse, 25 anos, pegou pena máxima e foi condenado, em outubro do ano passado, a 34 anos de prisão pela morte de Vitória Gabrielly, então com 12 anos, em junho de 2018, em Araçariguama.
Ele é um dos três acusados pelo homicídio qualificado, sequestro e ocultação de cadáver da garota. O corpo de Vitória, desaparecida em 8 de junho de 2018, foi encontrado oito dias depois na zona rural de Araçariguama. A última vez que a menina havia sido vista com vida foi em imagens de câmeras de segurança, quando ela andava de patins perto de um ginásio esportivo.
A Polícia Civil concluiu o inquérito sobre o assassinato de Vitória Gabrielly em julho de 2018 e indiciou os três suspeitos do crime por homicídio triplamente qualificado.
Com o inquérito, encaminhado ao Fórum de São Roque, a polícia pediu na ocasião a prisão preventiva dos do servente de pedreiro Bruno Marcel Oliveira, 33 anos, da faxineira Mayara Borges de Abrantes, 24 anos, e do servente de pedreiro Lima Ergesse. Os dois primeiros permanecem presos mas ainda não foram julgados pelo crime.
Leia carta na íntegra
O Fiat Uno azul, que foi usado no crime, está preso na delegacia de Araçariguama, mas ainda não foi feita perícia [nele], um erro de comunicação, entre Araçariguama e Sorocaba, porque quem faz a perícia é a polícia de Sorocaba, mas como a mídia não tem esse conhecimento, então não há pressa nenhuma da polícia o Galego está foragido e quem está dando cobertura a ele é o dono do carro que também é traficante. Faça isso chegar ao conhecimento da mídia, aí a polícia trabalha. O [nome de testemunha] deve estar [nome ininteligível] bairro rural onde o Galego tem uma chácara. Não é justo estar preso pelo o que os outros fizeram.
Ou fazer uma denúncia anônima, por telefone, ou por web denúncia e que a mídia saiba disso.
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