Cinegrafista pega a Covid-19 e se cura após 12 dias internado

Cuidado da mulher evita que família também seja contaminada

São Paulo

Trabalhando no jornalismo de uma emissora de TV de São Paulo, Daniel Arcangeli da Silva, 42 anos, tem participado da cobertura da pandemia do novo coronavírus desde o início. Mesmo com todos os cuidados e equipamentos de proteção utilizados no dia a dia, ele acabou contaminado. A ficha caiu quando foi filmar em uma comunidade. Após subir no quarto andar de uma casa e chegar exausto e com falta de ar, ele percebeu que não estava normal.

“Com certeza peguei o vírus em alguma pauta. Gravei com familiar de pessoa infectada, com infectologista que depois ficou doente. Naquela época, a gente não usava máscara, mas usávamos álcool e tomávamos cuidado com o distanciamento. Eu e a repórter pegamos praticamente juntos”, conta Daniel.

O cinegrafista Daniel Arcangeli ficou internado por 12 dias e se recuperou da Covid-19 na capital paulista; em casa, nem a esposa, Simone, nem os filhos pegaram a doença
O cinegrafista Daniel Arcangeli ficou internado por 12 dias e se recuperou da Covid-19 na capital paulista; em casa, nem a esposa, Simone, nem os filhos pegaram a doença - Arquivo pessoal

Os primeiros sintomas surgiram na última semana de março, logo que a quarentena foi determinada pelo governo estadual em São Paulo, com mal-estar e fraqueza, como se fosse uma preguiça. Depois ele passou a ter pigarro na garganta e, na sequência, tosse seca, que durou mais dois dias.

“Comecei a sentir cansaço na caminhada que faço com minha esposa. Eu parava no meio das frases para pegar o ar e ali comecei a perceber que tinha alguma coisa estranha. Como fazia bastante matéria do coronavírus, achei que eu estava sugestionado, de ver pessoas intubadas. Só que isso começou a aumentar. No quarto dia dos sintomas eu tive de parar a caminhada porque estava faltando o ar mesmo. Até falei com minha mulher.”

Na quinta-feira (2/4), Daniel diz ter passado a noite em claro por causa da tosse. Por isso, resolveu ir ao Hospital Moriah, em Moema (zona sul de SP), às 6h da manhã da sexta (3). Com forte falta de ar e baixa oxigenação do sangue, ele fez o teste do cotonete e passou por uma tomografia, que mostrou uma lesão entre 25% e 30% dos pulmões.

Assim, ele já foi internado na ala destinada à Covid-19, onde ficou por 12 dias. Logo no início o tratamento foi feito com cloroquina, azitromicina e Tamiflu.

“No sábado eu fiquei mal, talvez por causa do medicamento, com febre e diarreia. No domingo, deu uma piorada, com dor de cabeça, dor no corpo, diarreia. Na segunda, já não tive mais diarreia, porque eles me deram outro remédio. E na terça e na quarta comecei a melhorar.”

Após receber alta no Hospital Moriah, Daniel permaneceu em isolamento em casa por 18 dias até que foi liberado para voltar ao trabalho
Após receber alta no Hospital Moriah, Daniel permaneceu em isolamento em casa por 18 dias até que foi liberado para voltar ao trabalho - Arquivo pessoal

Um dos principais problemas para os pacientes com o coronavírus é a falta de apetite. Mesmo assim, Daniel conta que fez tudo o que o médico mandou para melhorar. Até um pouco mais.

“Não sentia fome, mas me alimentei. Uma das determinações dos médicos é que eu tinha de me alimentar. Aí eu pedia alimentação mais molinha, como sopa, e bebia. Comia tudo e a enfermeira até achava estranho. Teve um dia que até pedi lanche porque estava enjoado da comida. Para tentar buscar apetite.”

Após a alta, o cinegrafista passou os 14 dias de afastamento social em casa antes de fazer novo teste. Este porém, deu que ele ainda tinha vírus no organismo. Então, continuou isolado, mas com acompanhamento do hospital, que ligava para saber sua situação. Após quatro dias, refez o teste e, dessa vez, deu negativo, o que o liberou para voltar ao trabalho.

“Porém ainda tinha falta de ar e cansaço. Até hoje não me sinto pleno na parte pulmonar. Para subir com a câmera em alguns lugares eu sinto cansaço”, afirma Daniel, que trabalha carregando 11 kg de equipamento.

Casado com Simone, 43, e pai de Vinícius, 16, e Bruna, 5, ele agradece que nenhum deles pegou a doença. Muito graças à disciplina da mulher.

“Minha esposa trabalha em uma agência de publicidade que tem a sede na Europa e lá a Covid já estava consumindo as pessoas. Então, o CEO da empresa fez várias palestras para ensinar a cuidar da doença, até antes do isolamento em São Paulo. A empresa já estava em home office porque sabia como ia ser. Nessa época minha esposa começou com os cuidados. Eu meio que desqualificava os procedimentos dela, mas foi o que salvou. Só eu que saía. Meus filhos ficavam em casa e ela em home office. Eu não tinha muito contato com ela e com as crianças. Quando comecei com a tosse já estava dormindo em quarto separado, isso fez com que nem ela nem meus filhos pegassem.”

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