Descrição de chapéu Zona Sul

Justiça decreta prisão de donos de clínica de reabilitação suspeitos de maus-tratos em SP

Homem de 61 anos e sua sócia, de 60, não foram encontrados pela polícia em operação na manhã desta segunda (20); eles são considerados foragidos

São Paulo

A Justiça decretou a prisão dos proprietários de três clínicas de recuperação de dependentes químicos, na zona sul da capital paulista. Segundo a polícia, pacientes sofriam maus-tratos nesses locais. O pedido de prisão foi expedido no fim da tarde de sexta-feira (17).

A Polícia Civil foi a três endereços na zona sul da capital paulista, por volta das 6h desta segunda-feira (20), para cumprir dois mandados de prisão preventiva e um de busca e apreensão. Porém, o dono da clínica, de 61 anos, e sua sócia, de 60, não foram localizados e são considerados foragidos desde então. A defesa deles não foi encontrada até a publicação desta reportagem.

Segundo o chefe de investigações da 1ª Delegacia Seccional do centro, Luiz Carlos Zaparoli, tanto o Ministério Público como a Justiça concordaram com a denúncia feita pela polícia contra os sócios das clínicas. “Os investigados não cooperam com as autoridades sanitárias e com a polícia. Eles burlaram fiscalizações e mudam a todo o instante de local [endereço], não permitindo acesso aos pacientes e provas”, explicou o policial.

Em 7 de julho deste ano, a polícia já havia indiciado os donos da clínica. Na ocasião, um vídeo enviado ao Agora mostra o suspeito de 61 anos dando nove socos no rosto e peito de um rapaz, que é mantido amarrado com gazes em uma beliche de madeira. Outro homem dá dois chutes na região da costela da vítima e comenta, após as agressões, ter molhado um dos pés, por causa do colchão que estaria úmido. A data em que o vídeo foi feito não foi informada.

A rapaz amarrado à cama estava na unidade, em Parelheiros, para fazer tratamento contra dependência química, de acordo com a polícia. A identidade dele será mantida em sigilo por questões de segurança.

Da mesma forma que ele, outros dependentes químicos teriam sido vítimas de agressões, segundo depoimento de um ex-funcionário, feito a policiais ligados à 1ª Delegacia Seccional do centro e à Delegacia da Pessoa com Deficiência.

Durante o cumprimento dos mandados em três endereços nesta segunda-feira, foram apreendidos medicamentos controlados, prontuários médicos e anotações. O material será anexado ao inquérito que investiga a dupla. “Vamos agora dar continuidade às apurações para localizar os dois foragidos”, acrescentou Zaparoli.

Investigação

A Polícia Civil iniciou investigação e, em 30 de junho, cumpriu três mandados de busca e apreensão, sendo dois em clinicas dos suspeitos, em Parelheiros (zona sul), e um na residência do proprietário das unidades, em Santo Amaro, também na zona sul. Ninguém foi encontrado nos endereços, nem mesmo pacientes.

O chefe de investigação da 1ª Seccional afirmou na ocasião que, apesar de as clinicas estarem vazias, o ambiente e mobiliário provavam as péssimas condições em que os dependentes químicos eram mantidos nos locais. “É difícil de acreditar que exista isso nos dias de hoje. Observamos que as clinicas eram preparadas para prática de maus-tratos e tinham condições sub-humana”, afirmou à época.

Zaparoli acrescentou que o ambiente cheirava a urina, além de contar com amarras, feias de pano ou gaze, em todas as camas --onde pacientes eram mantidos presos com as cordas improvisadas. “Nos foi relatado que as agressões aos pacientes já começavam nas ambulâncias, quando eram levados de suas casas para as clínicas”, compartilhou o investigador.

Em depoimento, um ex-funcionário da clínica afirmou que o proprietário e sua sócia comandavam “tudo de errado” que acontecia nas unidades. “Não tinha médico, nem enfermeiro. [O suspeito] agredia muito os pacientes, inclusive com pauladas, ele era muito truculento. Os funcionários também agrediam pacientes com pedaços de pau”, diz trecho do relato do ex-funcionário.

Ele continua seu depoimento afirmando que os parentes das vítimas precisavam avisar com antecedência sobre visitas. Caso chegassem de surpresa às clinicas, eram impedidos de entrar. “Ninguém podia entrar na clinica porque eles [suspeitos] tinham que disfarçar as coisas no local, pois não tinha como os familiares chegarem a ver tudo desarrumado e os pacientes amarrados”, afirma trecho de relato da testemunha, acrescentando que nas clínicas havia um “quarto do castigo.”

Paciente é mantido amarrado em beliche, em clinica de reabilitação na zona sul da capital paulista. Homem de 61 anos e sua sócia, de 60, tiveram as prisões preventivas decretadas pela Justiça na secta-feira (17). Ambos são considerados foragidos
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