Movimento cai em restaurantes de bairros comerciais de SP

Nos estabelecimentos de regiões residenciais procura por refeições tem aumentado

São Paulo

Clientes de restaurantes localizados em regiões comerciais deixaram de comer nos locais, desde que começaram a trabalhar no sistema de home office, provocando a queda de até quase 90% no fluxo de transações em alguns distritos da capital paulista.

Em contrapartida, restaurantes de bairros residenciais estão lucrando praticamente o mesmo ou, em alguns casos, até um pouco mais do que antes da pandemia da Covid-19.

Estudo feito pela empresa Sodexo Benefícios e Incentivos, que administra VRs (Vales Refeições) em todo o país, indica queda de 89% no número de transações em restaurantes da Vila Olímpia, bairro da zona sul de São Paulo conhecido pela concentração de escritórios, atualmente esvaziados em decorrência da quarentena.

Na zona oeste, o Itaim Bibi registra a segunda maior queda na quantidade de transações em restaurantes, com 82%. O estudo também verificou que ocorreram interrupções do serviço de VR nestes dois bairros, de 51% e 39%, respectivamente. Isso indica que estabelecimentos fecharam as portas, temporária ou definitivamente.

O empresário Bruno Zonta sente na pele a queda abrupta de clientes em seu restaurante, no Itaim Bibi, de pelo menos 85%. Antes da pandemia do novo coronavírus, ele garante que servia entre 350 e 400 almoços por dia. Em 20 de março, quatro dias antes de a quarentena ser decretada pelo governo estadual, o movimento começou a cair nitidamente no comércio.

Sérgio Luiz Pompeu conseguiu manter o fluxo de vendas em seu restaurante, na Vila Mascote (zona sul da capital paulista), durante a quarentena. Ele afirma que as compras de refeições são feitas por pessoas do bairro, trabalhando no sistema home office - Rivaldo Gomes/Folhapress

Zonta insistiu ainda por dez dias tentando vender refeições no sistema delivery, mas acabou fechando as portas após este período, reabrindo-as há cerca de três semanas, após a autorização para que restaurantes atendessem ao público presencialmente-- desde que respeitados protocolos sanitários especificados pela gestão Bruno Covas (PSDB).

“Mesmo assim, o movimento está horrível, uns 15% do que era antes da quarentena, isso somando as vendas presenciais e de delivery”, expôs.

Ele atribui a queda nas vendas ao fato de seus clientes, cerca de 90%, trabalharem atualmente no sistema de home office, deixando de frequentar a região e, consequentemente, seu restaurante.

A assessora de investimentos do setor financeiro Hermara Lourenceti frequentou por cerca de um ano restaurantes do Itaim Bibi, por trabalhar em um escritório da região. Porém, com a decretação da quarentena, ela passou a trabalhar em casa, na Vila Mascote (zona sul), bairro que registrou a maior alta de transações (67%), ainda de acordo com o estudo da Sodexo.

Ela disse que, uma semana antes do fechamento forçado de estabelecimentos no estado de São Paulo, já era nítido o esvaziamento de restaurantes na zona oeste, que costumavam lotar, no horário do almoço, com funcionários de escritórios próximos.

A dinâmica de trabalho de Hermara lhe permite realizá-lo de qualquer lugar, desde que tenha conexão de internet. Por causa disso, ela afirmou que toda a equipe do escritório que frequentou, até pouco antes do início da quarentena, vai trabalhar no sistema de home office este ano.

“Para meu trabalho nada mudou [com a quarentena]. E aqui na Vila Mascote há ótimos restaurantes e padarias”, afirma.

Os sem crise na pandemia

Diferentemente dos restaurantes de regiões comerciais, estabelecimentos que vendem refeições em bairros residenciais conseguiram manter as vendas estabilizadas após a quarentena.

Sérgio Luiz Pompeu garantiu ter dobrado as vendas em seu restaurante, na Vila Mascote, desde que o reabriu há quase três meses. A região lidera o crescimento de transações feitas com VR, com 67% de alta, sendo seguida pelo Jardim Peri Peri (zona norte), com 60%, e Artur Alvim (zona leste), com 39%.

“Notei que o aumento na região foi bastante grande. E ele ocorreu pelo delivery”, afirmou, acrescentando que as vendas passaram de 60 refeições diárias para entre 120 e 150.

Pompeu atribui o aumento de vendas ao fato de moradores do bairro, que trabalhavam e almoçavam em regiões comerciais, passarem a comprar suas refeições de casa, onde estão atualmente “batendo ponto".

"Só com o delivery, lucro 90% do que era vendido presencialmente antes da quarentena", explicou. Ele também atende clientes presencialmente, seguindo protocolos sanitários.

A opinião dele é a mesma de Gustavo Guaraldo Schmitt. Ele mantém, desde 2013, um restaurante especializado em pratos feitos com bacalhau, também na Vila Mascote. Como ele já realizava muitas entregas, antes da quarentena, o sistema foi mantido e garante o fluxo de vendas, até o momento, do local que ainda não reabriu fiscamente à clientela.

“Trabalho com um produto muito específico. Por isso, nossas maiores vendas ocorriam às sextas-feiras e fins de semana. Mas desde que o pessoal começou a trabalhar em home office, percebemos que os pedidos cresceram em dias da semana também”, garantiu.

Mudança de comportamento

Fernando Cosenza, vice-presidente de marketing estratégico, inovação e digital da Sodexo Benefícios e Incentivos, afirma que os dados do estudo resultam de uma mudança de comportamento dos consumidores. “As pessoas deixaram de consumir em regiões mais comerciais e passaram a almoçar, usando o VR, comida oferecida por restaurantes dos bairros onde moram.”

Isso, acrescentou, gera oportunidades aos pequenos empreendedores, além “de ser um legado permanente”, pois acredita que, mesmo após a pandemia da Covid-19, "parte das pessoas continuará a trabalhar no sistema home office."

Cosenza disse ainda que o levantamento feito pela Sodexo apontou um aumento na demanda por refeições, durante o horário comercial, nos bairros residenciais. Em decorrência disso, ele acredita que estabelecimentos familiares, de pequeno porte, podem se fortalecer ou ainda serem abertos em regiões predominantemente residenciais.

“Onde tem demanda, surge a oferta. A prestação de serviço que fazemos, realizando a análise [de transações], é para ajudar o empreendedor a identificar essa oportunidade. Se não houver oferta, pessoas [clientes] vão se virar, pedindo comida onde ela for oferecida”, destacou.

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