A pandemia do coronavírus fez ressurgir um modelo de exibição há muito tempo deixado de lado: os drive-ins. Com os cinemas fechados em boa parte das cidades, eles foram a solução encontrada por exibidores e fãs para matar a saudade dos filmes de uma forma segura, com menor risco de contágio.
O curioso é que a origem dos cinemas drive-ins também está em uma necessidade. Nos anos 1930, nos EUA, Richard Hollingshead, morador de Camden, em Nova Jersey, tinha um problema a resolver. A mãe dele, obesa, reclamava das poltronas dos cinemas.
Ele passou a fazer testes caseiros, em busca de uma alternativa de exibição mais confortável para a mãe. Em um deles, colocou lençóis atados a árvores e o projetor de cinema na capota de seu carro. Surgia o drive-in, patenteado por Hollingshead em 1933, ano em que ele abriu o primeiro cinema no modelo da história, o Automobile Movie Theatre.
Mas apenas no pós-guerra, quando quando Hollingshead perdeu sua patente, os drive-ins começaram a fazer sucesso. Em seu auge, entre os anos 1950 e 1960, havia cerca de 5.000 nos EUA, principalmente em áreas rurais. Um dos maiores era o All-Wheather Drive-In, com espaço para 2.500 carros, parquinho para crianças e serviço de restaurante.
Eram locais frequentados por famílias e jovens e exibiam, em sua maioria, filmes B, embora alguns drive-ins tivessem programação semelhante ao cinema convencional. Nos anos 1980, com a popularização dos videocassetes, o modelo perdeu força. Calcula-se que hoje existam 500 em todos os Estados Unidos.
No Brasil, os drive-ins, ou autocines, como eram chamados, chegaram mais tarde, nos anos 1970, em cidades como São Paulo, Rio e Brasília, e com menos sucesso. “Era uma opção mais elitizada, pois era preciso ter carro, não havia sessões todos os dias e elas ocorriam à noite”, diz Humberto Neiva, coordenador do curso de Cinema da Faap e programador do Espaço Itaú de Cinema.
Em São Paulo, um dos mais famosos foi o Auto Cine Chaparral, na marginal Tietê, na Penha (zona leste), com espaço para 180 carros e serviço de lanchonete e restaurante. A tela era uma estrutura de concreto de 240 metros quadrados e o som chegava aos veículos por pequenos alto-falantes. Funcionou até os anos 1980.
Pioneiro, o Auto Cine Snob’s foi inaugurado em 1968, em Santo Amaro (zona sul). Recebia até 250 carros, mas também possuía uma área destinada a frequentadores a pé. Tinha uma tela de 8,5 m de altura por 20 m de comprimento, um cardápio que incluía uísque e até um mecânico de plantão para socorrer os donos dos veículos. Durou até os anos 1990.
Modelo de exibição também apareceu nos filmes
O longa retrata dois jovens nos anos 1950, Danny e Sandy, interpretados respectivamente por John Travolta e Olivia Newton-John, que se apaixonam no verão e, na volta às aulas, descobrem que estudam no mesmo colégio. Entre idas a lanchonetes, conversas com amigos, bailes e corridas de carros, eles tentam descobrir se o amor das férias vai vingar.
Claro que, em um filme sobre a juventude norte-americana dos anos 1950, não faltam o culto aos carros e o cinema drive-in. Em uma sequência, o casal de namorados vai assistir a um filme e acaba brigando após o personagem de Travolta tentar ultrapassar o que Sandy acha adequado para um namoro.
Já o recente filme brasileiro “O Último Cine Drive-In”, de 2014, é uma homenagem a um dos únicos remanescentes do modelo no país, o Cine Drive-In de Brasília.
Na vida real, o Cine Drive-In de Brasília funciona desde 1973, em um espaço de 15 mil metros quadrados, com capacidade para 400 carros.
Por fim, vale lembrar do clássico “Cinema Paradiso”. A trama não mostra um drive-in ao pé da letra, mas possui sequências belíssimas de exibições de filmes ao ar livre.
Numa delas, com o personagem Totó ainda criança, um filme é projetado nas paredes da praça central da cidadezinha italiana onde se passa o longa. Já jovem, Totó trabalha como projecionista do Cinema Paradiso e é responsável pelas sessões ao ar livre, no verão italiano, em que espectadores em barcos fazem uma versão marítima dos drive-in.
(preços e disponibilidade nos serviços de streaming pesquisados no dia 20 de agosto)
O ÚLTIMO CINE DRIVE-IN (2014)
Netflix: grátis para assinantes
GREASE, NOS TEMPOS DA BRILHANTINA (1978)
Vivo Play: R$ 8,90 (aluguel)
Prime Video: grátis para assinantes
Netflix: grátis para assinantes
iTunes: R$ 11,90 (aluguel) e R$ 24,90 (compra)
Google Play: R$ 4,90 (aluguel) e R$ 29,90 (compra)
Microsoft Store: R$ 5,90 (aluguel) e R$ 23,90 (compra)
americanas.com.br: DVDs a partir de R$ 19,90
CINEMA PARADISO (1988)
Old Flix: grátis para assinantes
NOW: R$ 6,90 (aluguel)
Drive-in deve continuar para ocasiões especiais
O modelo de exibição em drive-in dificilmente se manterá após a pandemia, avalia o professor Humberto Neiva, coordenador do curso de Cinema da Faap e programador do Espaço Itaú.
“Eles foram importantes como oportunidade para as pessoas irem ao cinema com segurança, no momento que vivemos, e para dar uma sobrevida aos exibidores, mas o custo da operação é alto, eles não se sustentam”, avalia.
Infraestrutura maior e mais cara, incluindo aluguel dos espaços e equipamentos como telas grandes e projetores, e sessões apenas aos fins de semana e à noite são algumas limitações para os exibidores.
Em consequência, os ingressos nos drive-ins são, em geral, mais caros do que os dos cinemas convencionais.
Para Neiva, a tendência é que o modelo drive-in seja utilizado no que ele chama de “cinema evento”. “Serão ocasiões especiais, como estreias ou exibições de óperas e balés, por exemplo.”
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