Estado de SP tem 135 obras de saúde paradas ou atrasadas

Valor total dos empreendimentos R$ 262,3 milhões, segundo levantamento do TCE

São Paulo

Levantamento feito pelo TCE (Tribunal de Contas do Estado) revela que, até a metade deste ano, o estado de São Paulo tinha 135 obras de equipamentos de saúde paralisadas ou atrasadas. O valor total dos empreendimentos atingiu R$ 262,3 milhões.

A maioria das obras citadas pelo relatório do TCE é de responsabilidade de prefeituras. Na capital, o levantamento cita três serviços cujos prazos foram desrespeitados. Todos eles foram contratados pelo HC (Hospital das Clínicas), da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo).

O levantamento não considera os empreendimentos cuja gestão é da prefeitura de São Paulo, já que, nesses casos, a fiscalização é feita pelo TCM (Tribunal de Contas do Município).

Na capital, os contratos feitos pelo governo estadual e cujas entregas foram atrasadas somam R$ 103,1 milhões. Entre eles estão os trabalhos para reforma e ampliação da UTI (Unidade de Tratamento Intensivo) e da Divisão de Anatomia Patológica do HC.

Outra obra que já teve o prazo descumprido é a construção do Complexo Hospitalar Cotoxó, na zona oeste de São Paulo, que deveria ter sido inaugurado em junho de 2014. A unidade, que terá 21,3 mil metros quadrados de área construída, funcionará como hospital de retaguarda e terá atendimento para álcool e drogas. A gestão também será feita pelo HC.

O valor inicial da obra, segundo o TCE, era de R$ 63,4 milhões. Atualmente, o valor do investimento já subiu para R$ 72,6 milhões, segundo informa uma placa em frente ao futuro hospital. Ou seja, houve um aumento de 14,5% em relação à previsão original. O informativo diz que a entrega será em dezembro.

Segundo vizinhos, a construção chegou a ficar paralisada. Agora, está em ritmo lento. A reportagem do Agora esteve no local nesta semana e viu poucos funcionários trabalhando por lá. "Fomos informadas de que ainda faltam a parte hidráulica e o acabamento. Mas eu duvido que fique pronto neste ano", diz a comerciante Maria Inês Fernandes, 56 anos.

Na opinião dela, a entrega do equipamento irá ajudar a desafogar a demanda por saúde pública na região. "Temos duas UBSs [Unidades Básicas de Saúde]. Um hospital desse porte faz falta", avalia. Maria Inês refere-se às unidades da Vila Anglo e do Jardim Vera Cruz, que atendem as pessoas do entorno.

Licitações

Entre as principais razões para os atrasos em obras públicas estão os problemas com a licitação, segundo avalia o especialista em gestão pública Matheus Delbon, professor da Faap em Ribeirão Preto.

Ele explica que, pelo fato de a licitação dar preferência às empresas que apresentem menor orçamento, é comum que as participantes de um certame apresentem uma projeção de custos muito baixa, mas que é insuficiente para a conclusão da obra.

"As empresas ganham [a licitação] com um valor muito baixo e depois ficam pedindo ativo [contratual]. E se o serviço já começou, o poder público fica refém: ou dá o aditivo ou a obra para", acrescenta.
Outro problema comum, diz Delbon, é a falta de planejamento por parte das prefeituras, principalmente de municípios menores. "Muitas prefeituras atrasam os pagamentos.

As empresas têm que ter caixa muito alto para conseguir manter a obra funcionando com o pagamento em atraso", destaca. Segundo ele, as companhias de pequeno porte são as mais afetadas nesses casos.

Construção de hospital na rua Cotoxó (zona oeste) deveria ter sido entregue em 2014 - Fábio Munhoz/Folhapress

Resposta

A secretaria estadual de Saúde, gestão João Doria (PSDB), afirma que o hospital em construção na rua Cotoxó, zona oeste de São Paulo, ficará pronto até o "início de 2021" - sem detalhar o mês exato para entrega.

O complexo hospitalar, que terá 240 leitos, deveria ter sido aberto em 2014. Segundo a pasta, o atraso ocorreu porque "foram necessárias a readequação ambiental e replantio de árvores e a adequação do projeto às características do entorno".
Sobre os aumentos no valor do contrato, a secretaria afirma que "os custos incluem aditivos para atualização de legislações e melhorias das obras, e estão abaixo dos praticados pelo mercado para uma obra dessa natureza".

A respeito das obras na UTI e na Divisão de Anatomia Patológica do Hospital das Clínicas, a secretaria diz que os serviços já foram finalizados e que as unidades estão em "pleno funcionamento".

Sobre o hospital municipal em Cajamar, a prefeitura do município, gestão Danilo Joan (PSD), diz que a obra já foi retomada e que o atraso ocorreu em razão de problemas políticos na cidade. "O município sofria uma crise política com a troca de 13 prefeitos num período de seis anos, o que acarretou na paralisação de diversas obras". A entrega, inicialmente programada para 2015, está prevista para abril de 2022.

O TCE (Tribunal de Contas do Estado) informa que o levantamento contém dados prestados pelos municípios até o dia 10 de julho. Por esse motivo, pode haver discrepância entre a informação citada no relatório e a situação real atual de algumas obras.

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