Em menos de duas décadas, o percentual de pessoas obesas no Brasil mais que dobrou, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística): passou de 12,2% em 2002/2003 para 26,8% em 2019. Isso significa que um em quatro adultos no país vive com a condição, que pode trazer complicações como diabetes e pressão alta.
Quando observadas as pessoas com excesso de peso, o número é ainda maior: 61,7% da população em 2019, o que equivale a quase duas em cada três. Em 2002/2003, esse percentual era 43,3%.
A obesidade é um problema multifatorial, afirma Mario Carra, presidente do Departamento de Obesidade da SBEM (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia). Do ponto de vista genético, a predisposição para um baixo metabolismo atrapalha o gasto das calorias consumidas.
A isso, estão aliados fatores ambientais, como a pouca prática de exercícios físicos, alimentação desregrada e fácil acesso a alimentos de baixa qualidade nutricional, mas alto teor calórico.
"É uma epidemia porque atinge mais da metade da população e fugiu do controle das autoridades sanitárias. Foi-se degenerando a forma como a população se alimenta", afirma o médico.
A nutricionista Elisabeth Chiari, diretora-secretária do CFN (Conselho Federal de Nutrição), cita, ainda, a contribuição do estilo de vida urbana para o aumento dos números de obesidade.
"As pessoas ficam muito tempo sentadas, andam pouco a pé, não param para almoçar direito, comem rápido e come mal. Tem também a influência do estresse, que ainda gera uma situação cíclica [aumentando a alimentação compulsiva]. Também há o consumo de medicamentos que provocam aumento de peso e a má qualidade do sono."
Além das descompensações de pressão e glicose, a condição pode causar, ainda, doenças respiratórias e ortopédicas.
Por ter vários fatores que contribuem para a doença, o tratamento também precisa ser feito com diversas abordagens, diz Carra. "O tratamento é feito com alimentação e atividade física, mas para muitas pessoas tem que ter um medicamento que mude o padrão de gasto calórico." Mas isso sempre com acompanhamento médico.
Mudar o comportamento, afirma Chiari, é imprescindível. "É preciso tratar todo o ser humano, não só uma parte dele, e visar sempre o emagrecimento sustentado."
A educação alimentar na infância é algo que pode ajudar a prevenir os casos de obesidade e sobrepeso na vida adulta, de acordo com Carra. Crianças que lidam com o problema têmmais propensão a permanecer com o peso desregulado.
"Temos que educar as crianças e pais sobre como escolher melhor a alimentação", ele afirma. Adicionalmente, diz, é importante dificultar acesso a comidas ultraprocessadas e pressionar a indústria alimentícia a produzir alimentos com maior qualidade e controle de calorias. "É um trabalho de formiguinha para cuidar de uma epidemia."
'Gordofobia' também é problema a ser enfrentado
Apesar de o excesso de peso ser comumente associado a uma saúde prejudicada, segundo os especialistas isso não necessariamente acontece. "Chama muito a atenção que todo mundo acha que tem que ser magro. O excesso de peso pode ser o primeiro sinal de que alguma coisa não vai bem e de que é necessário tomar uma atitude para não piorar", afirma Mario Carra, presidente do Departamento de Obesidade da SBEM (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia).
"Uma pessoa que tem sobrepeso, mas que tem qualidade de vida boa, com exames em dia e comportamento social dentro de um padrão da normalidade pode estar saudável dentro de um corpo que não está no padrão", diz a nutricionista Elisabeth Chiari, diretora-secretária do CFN (Conselho Federal de Nutrição).
Segundo Juliana Meirelles, psicóloga especialista em Transtornos Alimentares, é necessária uma conversa sobre a "despatologização" da obesidade. Por causa do preconceito, diz, as pessoas que vivem com a obesidade acabam entrando num ciclo vicioso ainda mais danoso.
"O olhar estigmatizante, ao invés de fazer com que as pessoas se engajem em comportamentos saudáveis e busquem mais serviço de saúde, faz o contrário: deixa de procurar cuidado profissional porque elas não se sentem confortáveis."
O estigma do peso, afirma Meirelles, faz com que pessoas com peso fora do considerado "normal" tenham mais propensão a desenvolver ansiedade e estresse crônico.
Saiba mais
Para diagnosticar a obesidade em adultos, o parâmetro utilizado mais comumente é o do índice de massa corporal (IMC). Esse número é calculado dividindo-se o peso do paciente pela sua altura elevada ao quadrado
IMC | Classificação | Obesidade (grau) |
Menor que 18,5 | Magreza | 0 |
Entre 18,5 e 24,9 | Normal | 0 |
Entre 25,0 e 29,9 | Sobrepeso | 1 |
Entre 30,0 e 39,9 | Obesidade | 2 |
Maior que 40,0 | Obesidade Grave | 3 |
EXCESSO DE PESO E OBESIDADE (em %)
HOMENS (acima de 20 anos)
Ano | OBESIDADE | EXCESSO DE PESO |
2002/2003 | 9,6 | 43,3 |
2008/2009 | 13,1 | 51,8 |
2013 | 17,9 | 58,1 |
2019 | 22,8 | 60 |
MULHERES (acima de 20 anos)
Ano | OBESIDADE | EXCESSO DE PESO |
2002/2003 | 14,5 | 43,2 |
2008/2009 | 18 | 50,1 |
2013 | 25,7 | 60,7 |
2019 | 30,2 | 63,3 |
Fatores que contribuem para a obesidade
- Má alimentação (consumo de alimentos ricos em calorias e baixa qualidade nutricional)
- Excesso de alimentação (consumo maior de alimentos que o gasto calórico)
- Genética (metabolismo desacelerado)
- Hereditariedade (se um dos pais tem excesso de peso, a chance de o filho também ter é de 25%; se se os dois têm, a chance do filho é de 60%)
O tratamento da obesidade visando ao emagrecimento pode ser feito com:
- dieta elaborada por um nutricionista
- medicamentos para acelerar o metabolismo prescrito por um médico endocrinologista
- acompanhamento psicológico
- a cirurgia bariátrica é indicada para pessoas com IMC acima de 40
Fonte: IBGE e SBEM (Sociedade Brasileira de Endocrinologia)
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.