Descrição de chapéu câncer

Álcool e cigarro aumentam o risco de câncer de garganta

Doença que matou o guitarrista Eddie Van Halen deve atingir 7.650 pessoas no Brasil em 2020

São Paulo

No início de outubro, o mundo lamentou a morte do guitarrista Eddie Van Halen, 65 anos, vítima de câncer de laringe, comumente chamada de garganta. A doença deve ser diagnosticada em 7.650 pessoas no Brasil em 2020, segundo o Inca (Instituto Nacional de Câncer), e tem uma taxa de mortalidade alta, especialmente devido ao diagnóstico tardio.

Em 2018, ano mais recente do balanço de mortes do Inca, a doença matou 4.455 brasileiros, sendo 3.859 (86,6%) homens --é o 10º câncer que mais mata a população masculina. Segundo o médico Augusto Mota, oncologista da SBOC (Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica) e coordenador do Comitê de Tumores de Cabeça e Pescoço, isso se dá porque os fatores de risco estão mais associados ao comportamento masculino.

Os principais causadores do câncer de laringe são hábitos de vida não saudáveis, como fumar e beber em excesso, com risco potencializado quando ambos estão associados. Há, em menor número, registro de casos em decorrência de refluxo persistente --quando o ácido estomacal volta pelo tubo digestivo e irrita a garganta-- e de infecção pelo HPV (papilomavírus humano).

25.10 Viva Bem - Câncer de Laringe
Arte Agora São Paulo - Arte Agora

Uma parte expressiva dessas pessoas só é diagnosticada em estágios avançados, quando a chance de sobrevida pode ser menor que 10%. "É um indivíduo que, por esse perfil [tabagismo e alcoolismo], tende a ter menos cuidado com a própria saúde", afirma Mota.

Quando chegam ao consultório, os pacientes já estão com a doença num estágio "localmente avançado", afetando gânglios laterais ou outros órgãos do pescoço, e até comprimindo vasos sanguíneos e cartilagens.

O tratamento varia de acordo com o caso, mas pode incluir cirurgia, radioterapia e quimioterapia. Sem o diagnóstico precoce, a alternativa de tratamento se restringe a cuidados paliativos.

Os principais fatores a observar devem levar em conta o tempo de permanência. Ferida, rouquidão e dificuldade de engolir por dor ou sensação de garganta obstruída que perdurem por 21 dias devem ser analisadas por um profissional, que pode ser um otorrinolaringologista, um dentista ou um cirurgião de cabeça e pescoço. Também é importante estar atento ao aparecimento de caroços ou assimetrias no pescoço.

Mota afirma que, para o câncer de laringe, não há evidências da efetividade de exames de rastreamento, que são feitos em indivíduos saudáveis e sem sintomas. "O mais importante é não fumar e beber e valorizar os sintomas de alerta."

Saúde da garganta depende de hábitos saudáveis

As principais tarefas da laringe são emitir sons e proteger a respiração, duas funções essenciais ao corpo. Evitar fumar e beber, especialmente em excesso, manter uma higiene bucal adequada e ingerir bastante líquido são formas de manter a saúde da região, afirma a médica otorrinolaringologista Karen Vitols Brandão.

A famosa dor de garganta pode ser causada por infecções por vírus e bactérias, refluxo, alergia, tireoidite, abuso vocal, afta, ronco e até o câncer. A causa, quem vai determinar é o médico. "Se alguém fala que está com dor de garganta, temos que primeiro que saber onde", diz Brandão.

Por mais que o problema pareça simples, a médica diz que o cuidado é necessário para garantir que não evolua negativamente, por exemplo para uma infecção por HPV. "Se uma dor de garganta intensa, que a pessoa não consegue engolir, durar por mais de 15 dias, ela já deve procurar um médico."

"Tudo depende da intensidade e da duração do sintoma. Muitas pessoas acham que sim, mas não é normal viver com dor, nem que seja causa benigna, como refluxo, tireoidite ou causas irritativas. Até as causas benignas podem levar à morte."

Saiba mais

O CÂNCER DE LARINGE

  • O que chamamos de "câncer de garganta" é, na verdade, o câncer de laringe

INCIDÊNCIA

  • O Brasil deve ter, em 2020, 7.650 novos casos de câncer de laringe, 84,5% deles em homens
  • A cada 100 mil homens, haverá 6,20 casos novos de laringe em 2020. A cada 100 mil mulheres, serão 1,06 casos novos
  • O câncer de laringe ocorre principalmente em homens com idade acima dos 40 anos
  • Em 2018 (dado mais recente), 4.455 pessoas morreram em decorrência do câncer de laringe. 86,6% eram homens
  • Homens são mais suscetíveis à doença por causa do fator comportamental, pois têm um alto consumo de álcool e tabaco

FATORES DE RISCO

  • O fator que representa o maior risco ao câncer de laringe é o consumo excessivo de bebidas alcoólicas, especialmente destiladas, e cigarro
  • Há casos de pessoas que desenvolveram câncer de laringe em decorrência de refluxo, pois a presença do ácido estomacal na região acaba causando lesões que podem evoluir malignamente

MORTALIDADE

  • O alto índice de mortalidade desse câncer é muito relacionado ao diagnóstico tardio: a maior parte dos casos é identificada somente em estágios avançados, quando a única alternativa é realizar tratamentos paliativos
  • Quando diagnosticado no estágio 3, por exemplo, a chance de sobrevida é de cerca de 50%. No estágio 4, é de menos de 10%
  • Se o câncer de laringe for diagnosticado inicialmente, o tratamento pode ser feito com cirurgia, radioterapia e/ou quimioterapia

SINTOMAS E DIAGNÓSTICO

  • O diagnóstico é feito por meio do exame clínico com a laringoscopia
  • Os sintomas que devem ser observados são: feridas, rouquidão ou dificuldade de engolir por dor ou sensação de garganta obstruída persistentes por mais de 21 dias. Caroços ou assimetrias no pescoço também são motivo de alerta
  • Não há evidência científica de que o rastreamento (investigação quando não há sintomas) do câncer de laringe traga mais benefícios do que riscos e, portanto, ele não é recomendado

PREVENÇÃO

  • Manter hábitos de vida saudável, com alimentação balanceada, realização de atividade física, hidratação adequada e diminuição de hábitos de risco são medidas importante para preservar a saúde da laringe


FONTES: Inca, National Cancer Institute, oncologista Augusto Mota, otorrinolaringologista Karen Vitols Brandão

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