Saiba onde ver "A Malvada", filme que completa 70 anos

Obra que mostra os bastidores do teatro é até hoje uma das recordistas em indicações ao Oscar

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Cena do filme "A Malvada"
Os atores Bette Davis (da dir. para a esq.), Gary Merrill, Anne Baxter e Hugh Marlowe em cena de “A Malvada” - Divulgação
São Paulo

“A Malvada”, longa dirigido por Joseph L. Mankiewicz com uma das melhores interpretações de Bette Davis, comemora neste ano 70 anos de seu lançamento nos cinemas norte-americanos. No Brasil, o filme chegou em janeiro do ano seguinte. A obra é, até hoje, uma recordista em indicações ao Oscar, 14 no total, e faturou seis prêmios, entre eles os de melhor filme, diretor e roteiro.

Para criar a trama de “A Malvada”, Mankiewicz baseou-se em um artigo na revista Cosmopolitan escrito por Mary Orr. No texto, ela contou a história real de uma atriz da Broadway que empregou uma fã como sua assistente e depois a viu roubar seu estrelato.

No longa, Bette Davis é a diva do teatro Margo Channing e Anne Baxter, Eve, a jovem que se faz de fã dedicada, mas tem ambições maiores. É ela quem está no título original do filme, que pode ser traduzido como ”tudo sobre Eve”.

Se abrem, então, os bastidores do teatro, mais precisamente da Broadway. Além da grande diva, estão no filme o diretor, o autor, o crítico e a atriz iniciante (Marilyn Monroe, também em início de carreira). Tudo amarrado em um flashback e com diálogos inteligentes, marca de Mankiewicz. Antes de ser diretor, ele havia trabalhado como criador de diálogos.

A rivalidade entre Margo e Eve expõe um tema que ainda hoje é atual: o envelhecimento das atrizes e como ele é visto na indústria do entretenimento. E também das mulheres em geral. No longa, Margo está na faixa dos 40 anos e se sente ameaçada por Eve principalmente pelo fato de a rival ser jovem, ter o frescor que a diva não possui mais. Muita coisa mudou de 1950 para cá, mas atrizes contemporâneas ainda reclamam da falta de convites e de bons personagens na maturidade.

Em uma sequência, Margo diz que, para se tornar uma atriz de sucesso, deixou muito para trás e se esqueceu de ser mulher. Ela mantém um relacionamento com o diretor de teatro, mas só pensa em casamento após se ver ameaçada por Eve. É como se a ela não houvesse outra opção, como se, para ‘voltar a ser mulher’, fosse preciso se casar e deixar que a jovem tome seu lugar no teatro.

Bette Davis, anos após o lançamento de “A Malvada”, quando questionada se a frase de Margo se aplicava a seu caso, disse, citando seus quatro casamentos: “Não tinha nada para esquecer. Eu nunca esqueci que era mulher no meu caminho para cima”. A seguir, sugiro outros filmes dirigidos por Mankiewicz disponíveis nos serviços de streaming (preços e disponibilidade pesquisados no dia 22 de outubro).

A MALVADA (1950)
iTunes: R$ 9,90 (aluguel) e R$ 29,90 (compra)

Cena do filme "Julio Cesar"
Louis Calhern como Júlio Cesar (da esq. para a dir), Marlon Brando como Marco Antônio, Greer Garson como Calpurnia e Debora Kerr como Portia - Divulgação

Diretor fez adaptação de Shakespeare e megaprodução

O teatro também está presente em “Júlio César”, adaptação cinematográfica de Mankiewicz para o texto homônimo de Shakespeare sobre a trama que leva ao assassinato do líder romano.

De 1953, o filme tem ares de superprodução, principalmente nas cenas de multidões, o que Mankiewicz levaria ao extremo em “Cleópatra”. O elenco conta com Marlon Brando como Marco Antônio.

No longa, diante da escalada de poder de Júlio César, o senador Cassius convence seu colega Brutus que a melhor saída para Roma é a morte do líder. Eles arregimentam outros senadores e cumprem o plano, quando Júlio César diz a famosa frase “Até tu, Brutus”.

Mas Marco Antônio, fiel a César, em um discurso com atuação marcante de Brando, convence o povo romano de que os assassinos são traidores e os expulsa da cidade.

Dez anos depois, Mankiewicz esteve à frente do ambicioso plano de levar a rainha Cleópatra às telas, na maior superprodução de Hollywood até então. Mas ele não foi a primeira escolha para a empreitada.

O diretor original havia desistido do projeto, e Elizabeth Taylor, que faria o papel título, uma das estrelas com maior poder em Hollywood, conseguiu acrescentar a seu contrato a exigência de que ela teria de aprovar o diretor do filme. Mankiewicz, com quem a atriz havia trabalhado em “De Repente no Último Verão”, foi o escolhido.

Os números do longa eram superlativos. Seu custo, considerando a correção pela inflação norte-americana, foi de US$ 370 milhões. “Vingadores - Ultimato”, último filme da franquia da Marvel, custou cerca de US$ 400 milhões.

Foram construídos 79 sets de filmagem e criados 26 mil figurinos, 65 deles para Elizabeth Taylor, incluindo um vestido feito com tecido de ouro de 24 quilates.

A despeito de tanto dinheiro, a produção passou por dificuldades. Inicialmente, a escalação de Elizabeth como Cleópatra sofreu resistência por parte do governo egípcio (atualmente, uma nova polêmica envolve a escolha de Gal Gadot, a Mulher Maravilha, para o mesmo papel, em mais um caso de uma atriz branca interpretando personagens de outras etnias).

Mankiewicz planejava dividir o filme em duas partes. Mas o estúdio Fox recusou, pois a primeira não teria a presença do ator Richard Burton, e os produtores apostavam no relacionamento do ator com Elizabeth como chamariz de público. Quando lançado, o longa foi a maior bilheteria do ano nos EUA, mas seu custo só foi recuperado com a bilheteria no mundo e a venda para a TV.

JÚLIO CÉSAR (1953)
iTunes: R$ 7,90 (aluguel) e R$ 19,90 (compra)

DE REPENTE NO ÚLTIMO VERÃO (1959)
Google Play: R$ 11,90 (aluguel) e R$ 24,90 (compra)

CLEÓPATRA (1963)
iTunes: R$ 9,90 (aluguel) e R$ 29,90 (compra). Google Play: R$ 11,90 (al.) e R$ 24,90 (com.). Microsoft Store: R$ 3,90 (aluguel) e R$ 29,90 (compra)

Cena do filme "Ninho de Cobras"
Os atores Kirk Douglas e Henry Fonda em cena do filme "Ninho de Cobras" - Divulgação

Faroeste com comédia é um dos últimos filmes

“Ninho de Cobras”, um misto de faroeste e comédia, é o penúltimo filme dirigido por Mankiewicz. No longa, Kirk Douglas é o ladrão Paris Pitman, preso após roubar um fazendeiro no sul dos EUA. Levado à prisão, ele tenta subornar o diretor do presídio, interpretado por Henry Fonda.

NINHO DE COBRAS (1970)
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Hanuska Bertoia
Hanuska Bertoia

50 anos, é formada e pós-graduada em jornalismo. Gosta de ver filmes em qualquer plataforma (TV, celular, tablet), mas não dispensa uma sala de cinema tradicional.

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