Descrição de chapéu Zona Oeste trânsito

'A dor é imensa, nunca vai ser preenchida', diz mãe de ciclista morta em SP

Bióloga Maria Claudia Mibielli Kohler quer transformar dor pela morte da filha em políticas públicas mais eficientes

São Paulo

“A dor é imensa, a dor nunca vai ser preenchida”, afirma a bióloga Maria Claudia Mibielli Kohler, 56 anos, sobre a morte da filha, a cicloativista Marina Kohler Harkot, 28 anos, no início da madrugada de domingo (8), em Pinheiros (zona oeste da capital paulista).

Maria afirmou ao Agora, na tarde desta sexta-feira (13), que irá transformar a dor pela perda de Marina em um movimento que agregue, traga amor e, principalmente, segurança. “Estes elementos precisam ser assimilados em políticas públicas com um olhar para a cidade, de uma maneira mais equilibrada e justa.”

A filha de Maria morreu quando pedalava sua bicicleta, pela avenida Paulo 6º, após se encontrar com uma amiga.

O microempresário José Maria da Costa Júnior, 33 anos, é apontado pela polícia como o condutor do Hyundai Tucson que atropelou e matou a ciclista. Ele se apresentou no 14º DP (Pinheiros), na terça-feira (10), de onde saiu livre após se negar a prestar depoimento sobre o caso. Ele já foi indiciado por homicídio culposo (sem intenção) e por omissão de socorro.

A bióloga afirmou que a família vai brigar na Justiça para que Júnior seja responsabilizado. Ela acrescentou também que a morte da filha, “menina bem formada e de família estruturada”, vai dar voz a outras vítimas silenciadas, por conta de sua condição social simples, em uma cidade que precisa de uma gestão pública “mais gentil”.

A bióloga e consultora ambiental Maria Claudia Mibielli Kohler, 56 anos, e a filha Marina Kohler, morta após ser atropelada por um carro, domingo (8), em Pinheiros (zona oeste da capital paulista) - Arquivo Pessoal

“Quantas outras pessoas de famílias simples e de comunidades carentes compartilham da mesma dor que sinto? Elas, infelizmente, não têm a voz que estamos tendo. Essa voz, é uma voz para todo o mundo, para conseguir chegar à gestão pública e conseguir levar esse movimento, não só do cicloativismo, mas de um olhar de uma cidade mais gentil. Desejamos muito isso”, afirmou.

Maria destaca que tragédias também ocorrem nas outras regiões da cidade e não somente em Pinheiros, bairro nobre de São Paulo, onde houve o acidente. “Nossa bandeira é do direito de você estar como quiser estar, mas com segurança.”

A bióloga se revoltou quando Júnior não foi preso, beneficiado pela legislação eleitoral, que impede detenções cinco dias antes e 48 horas após o primeiro turno das eleições, que ocorre neste domingo (15). “A gente quer justiça para esses pobres coitados que cometem um ato desse e saem dando risada”, afirmou Maria, referindo-se a um vídeo em que o suspeito aparece sorrindo supostamente após o acidente.

“A Marina me ensinava tanto”

A mãe de Marina afirmou que a filha tinha carteira de habilitação e que nos raros momentos em que ocupava um carro orientava quem conduzia o veículo a respeitar ciclistas e pedestres. “A Marina me ensinava tanto. É uma outra lógica que precisamos ter: quando eu estava com ela de carro, ela falava ‘mãe olha o pedestre, cuidado com a bicicleta’. Temos que ter amorosidade em todos os sentidos, incluindo no nosso deslocamento pela cidade.”

Desde pequena, Marina se aventurava pedalando, relembra a mãe, hábito mantido pela filha em todos os lugares do mundo que conheceu, como Europa, Estados Unidos e América Latina.

Nascida no Rio de Janeiro, a cicloativista se mudou com a família para a capital paulista quando tinha oito meses. Cerca de quatro anos depois, a família cresceu, com o nascimento do irmão, hoje com 24 anos.

Aos 14 anos, ela se mudou com a família para Santos (72 km de SP), cidade em que Marina se engajou no cicloativismo. Três anos depois, durante os quais passou um na Alemanha, ele voltou a morar na capital paulista, cidade onde se graduou em ciências sociais pela USP (Universidade de São Paulo), e onde também se pós-graduou em mobilidade urbana.

“A Marina tinha uma alma muito urbana, falava com sotaque de paulistana e era linda como uma carioca”, destacou Maria.

A bióloga afirma acreditar que a geração de sua filha vai mudar a atual realidade da convivência e dos deslocamentos pelas cidades. “É uma dor muito grande e a gente quer que essa mensagem chegue para que as famílias transformem seus olhares. Vamos transformar a cidade, votar direito, cobrar direito [às autoridades], essa é a mensagem.”

A bióloga e consultora ambiental Maria Claudia Mibielli Kohler, 56 anos, e a filha Marina Kohler, morta após ser atropelada por um carro, domingo (8), em Pinheiros (zona oeste da capital paulista) - Arquivo Pessoal

Missa e protestos

A missa de sétimo dia de Marina Kohler Harkot estava prevista para ocorrer às 17h desta sexta, na igreja Nossa Senhora da Glória, no Rio e Janeiro. Logo em seguida, cicloativistas fariam um protesto, no largo do Machado, onde fica o templo católico.

Ainda para esta sexta, estavam previstos atos em Minas Gerais e Rio Grande do Sul. Para este sábado (14), ocorrem atos em solidariedade à morte de Marina na Paraíba e Mato Grosso do Sul.

Erramos: o texto foi alterado

Diferentemente do publicado na edição anterior deste texto, a grafia correta do nome da cicloativista é Marina Kohler Harkot. O texto foi corrigido.

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