Bairros da região central e da zona leste concentram, proporcionalmente, o maior número de mortos por Covid-19 com menos de 60 anos na capital paulista.
O levantamento feito pela reportagem leva em consideração os óbitos por 100 mil habitantes, segundo os dados mais recentes disponibilizados pela Secretaria Municipal da Saúde, sob a gestão de
Bruno Covas (PSDB).
Entre todos os 96 distritos da capital, o Pari (região central) é aquele com a maior proporção de mortos entre os mais jovens. Levantamento aponta que foram 100 casos na população abaixo dos 60 anos a cada 100 mil habitantes de mesma faixa etária.
A taxa por 100 mil habitantes é a maneira encontrada para tornar possível a comparação entre distritos com número de moradores tão diferente entre si.
Quando se leva em consideração os 20 com maior taxa de mortos nesse ranking, surgem também os distritos vizinhos do Brás, Belém e Água Rasa. A alta mortalidade entre aqueles que ainda não são idosos avança à leste, num corredor que se estende desde Aricanduva até o Jardim Helena, já na divisa com Guarulhos (Grande SP).
Chama a atenção o fato de que o primeiro distrito da zona sul a constar nessa listagem aparece apenas em 40º —Socorro, com 51 mortes por 100 mil habitantes com menos de 60 anos.
De forma geral, bairros ricos das zonas oeste e sul, como Vila Leopoldina, Perdizes, Alto de Pinheiros, Moema, Campo Belo e Morumbi são aqueles com a menor proporção de mortos na população até os 60 anos.
Em Perdizes (zona oeste), por exemplo, o coronavírus matou 1 em cada 8.543 pessoas dessa faixa etária. Em Artur Alvim (zona leste), 1 em cada 1.278 —proporção quase seis vezes maior de mortos até 59 anos.
Variantes
Os números são preocupantes porque mutações do coronavírus têm provocado mais mortes em pessoas mais jovens, em comparação com o que ocorria no início da pandemia.
Bairros vizinhos da zona norte da capital, Anhanguera e Perus já têm em 2021 mais mortos entre a população até 60 anos do que entre idosos. No primeiro, foram 8 de 15 casos e, no segundo, 13 de 19.
Comunicação falha faz jovem negar gravidade
Especialistas apontam a falha na comunicação com a população mais jovem como um dos fatores que têm levado pessoas abaixo dos 60 anos a morrerem pela Covid-19, principalmente agora, com as novas cepas.
O infectologista Renato Grinbaum afirma que o principal problema para conter o coronavírus entre a população mais jovem é a falta de vacinas em quantidade suficiente e a dificuldade para estimular a prática do distanciamento social. “É uma faixa de idade ativa, dinâmica, que viveu as restrições de forma mais intensa e não sofreu na primeira onda tantas consequências físicas diretas. Provavelmente, foi muito influenciada pelo discurso de desmerecimento da pandemia”, explica.
Para a epidemiologista Ethel Maciel, a comunicação com a população mais jovem é muito ruim até o momento, principalmente por parte do governo federal. “É possível que as pessoas estejam ainda mal orientadas, como se não fossem adoecer e morrer. Como a maior parte das pessoas que morreram era formada por idosos, pode ter dado uma sensação a esse grupo de que não era vulnerável. Isso mudou e precisa ser melhor comunicado.”
A epidemiologista lembra que, no atual momento, é necessário um acordo para a transmissão de informações corretas, principalmente com lideranças religiosas, pra que expliquem a real gravidade do problema. “Estamos vendo o poder muito grande delas nas comunidades. É preciso que haja um pacto social informando para a população a mudança, a grave crise sanitária, o colapso do serviço de saúde”, diz.
Veja os números
Por distrito, mortes entre pessoas com menos de 60 anos
Distrito | Por 100 mil habitantes |
Pari | 100 |
Artur Alvim | 78 |
Belém | 72 |
Aricanduva | 71 |
Brás | 70 |
Vila Medeiros | 69 |
Parque do Carmo | 67 |
Jardim Helena | 67 |
Freguesia do Ó | 67 |
Vila Formosa | 67 |
Vila Curuçá | 66 |
São Lucas | 65 |
Água Rasa | 65 |
Itaquera | 65 |
Perus | 64 |
São Mateus | 64 |
Vila Matilde | 63 |
Limão | 62 |
São Miguel | 62 |
Lajeado | 61 |
São Domingos | 60 |
Pirituba | 60 |
Vila Guilherme | 59 |
Tucuruvi | 59 |
Cidade Líder | 58 |
Vila Prudente | 58 |
Carrão | 56 |
Vila Maria | 56 |
Ermelino Matarazzo | 56 |
Sapopemba | 55 |
Brasilândia | 55 |
Mooca | 54 |
Cangaíba | 54 |
Cachoeirinha | 53 |
Vila Jacuí | 53 |
Iguatemi | 52 |
Cambuci | 52 |
Jaguaré | 51 |
Jaraguá | 51 |
Socorro | 51 |
Ponte Rasa | 49 |
José Bonifácio | 49 |
Guaianases | 48 |
Jaguara | 48 |
Casa Verde | 48 |
Itaim Paulista | 48 |
Santa Cecília | 47 |
Capão Redondo | 47 |
Raposo Tavares | 47 |
Liberdade | 47 |
Ipiranga | 47 |
Cidade Ademar | 47 |
Mandaqui | 46 |
Sé | 46 |
Anhanguera | 46 |
Jaçanã | 46 |
Penha | 46 |
Tremembé | 45 |
Sacomã | 44 |
Parelheiros | 44 |
Jabaquara | 44 |
Santana | 42 |
Cursino | 42 |
Jardim Ângela | 42 |
Bom Retiro | 42 |
Tatuapé | 42 |
Cidade Tiradentes | 42 |
Lapa | 42 |
Campo Grande | 42 |
Rio Pequeno | 40 |
Campo Limpo | 40 |
Cidade Dutra | 40 |
São Rafael | 39 |
Pedreira | 38 |
Jardim São Luís | 38 |
Grajaú | 37 |
Vila Sônia | 32 |
Butantã | 31 |
Santo Amaro | 30 |
República | 30 |
Vila Andrade | 28 |
Marsilac | 28 |
Bela Vista | 27 |
Jardim Paulista | 27 |
Pinheiros | 27 |
Vila Mariana | 27 |
Saúde | 24 |
Barra Funda | 23 |
Itaim Bibi | 22 |
Consolação | 21 |
Morumbi | 19 |
Campo Belo | 17 |
Moema | 17 |
Alto de Pinheiros | 14 |
Perdizes | 12 |
Vila Leopoldina | 8 |
Fontes: Secretaria Municipal da Saúde e Seade
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