Demanda por oxigênio continua alta, apesar de queda na ocupação de leitos de UTI em SP

Estoque atual no estado de São Paulo é suficiente para abastecer estado por somente um dia, segundo levantamento

São Paulo

A indústria que produz oxigênio medicinal continua registrando altas demandas pelo produto e algumas empresas operam com até em três turnos de trabalho, isso mesmo com a queda da taxa de ocupação de leitos de terapia intensiva e enfermaria registrada no estado.

Pelos dados do governo João Doria (PSDB), 25.260 pessoas estavam internadas por causa da Covid-19 no estado nesta quarta-feira (13). O número é 11,7% inferior ao registrado há uma semana, no dia 7, quando 28.631 pessoas estavam internadas.

Essa redução ainda não teve impacto na linha de produção do oxigênio medicinal, segundo empresas do setor.

Linha de produção de oxigênio medicinal na empresa Air Products, em Mogi das Cruzes (interior de São Paulo) - Eduardo Knapp/Folhapress

Newton Oliveira, diretor-presidente da IBG (Indústria Brasileira de Gases), com sede em Jundiaí (58 km de São Paulo), empresa que detém quatro fábricas e fornece seus produtos para dez estados, afirmou que as plantas estão trabalhando com capacidade total para produção de oxigênio medicinal.

“Nos últimos 12 meses, nossa produção mais do que dobrou. Agora atingiu um pico forte. Os estoques caíram muito e se faz necessário um estoque de segurança”, afirmou.

Para dar conta da demanda, a empresa, que operava com apenas um turno para entrega de oxigênio líquido, agora atua em três turnos.

“Tivemos de enfrentar dois gargalos: o de produção, que conseguimos ampliar, e a da distribuição. Para isso, colocamos os nossos caminhões, que antes rodavam em apenas um turno, para rodar em três, inclusive aos sábados, domingos e feriados. redirecionamos parte do pessoal que atuava na entrega às empresas”, disse Oliveira.

A Air Products, da Mogi das Cruzes (Grande SP), fornecedora de oxigênio medicinal para unidades de saúde, como o Hospital das Clínicas e Santa Casa, na capital paulista, disse que a demanda, já crescente desde 2020, dobrou em março deste ano e continuou crescendo. “Especificamente para São Paulo, nos primeiros 20 dias de março tivemos um aumento de 50%”, afirmou Marcus Silva, gerente geral da Air Products Brasil e Argentina.

Funcionário da Air Products conecta mangueira que leva oxigênio líquido medicinal até tanque instalado em caminhão - Eduardo Knapp/Folhapress

Uma das maiores empresas do setor, a White Martins, afirmou em nota que o consumo de oxigênio entre os seus clientes medicinais da rede pública e privada se estabilizou em alta nas duas primeiras semanas de abril no estado de São Paulo.

Segundo a empresa, no dia 9 de abril, o consumo de oxigênio líquido dos clientes medicinais atingiu o volume diário de 294 mil metros cúbicos e oxigênio líquido medicinal, quantia 17,6% superior aos 250 mil metros cúbicos entregues há 30 dias, e 59% acima do entregue há 60 dias.

Para atender a essa alta na demanda, a empresa afirmou ter realizado 76 adequações de estocagem e substituição de centrais reservas por tanques e adicionou 20 veículos à frota.

Apesar das empresas não terem detalhado o seu estoque, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) obrigou que todas elas fornecessem dados de fabricação, venda e estoque sob pena de infração sanitária.

Segundo esses dados, que são alimentados pelas empresas responsáveis por produzir o oxigênio medicinal, o país conta com 105 produtores, sendo 22 deles no Estado de São Paulo.

Desde o dia 13 de março, quando os dados começaram a ser tabulados, até agora, foram comercializados 7,8 milhões de metros cúbicos de oxigênio medicinal, média de 260 mil metros cúbicos ao dia. O estoque atual é de 253 mil metros cúbicos, o que não cobre a demanda nem de um dia se comparado ao que foi consumido no último mês.

Produção

O oxigênio é produzido em usinas de separação de ar, em processo parecido com o que ocorre com o refino do petróleo. A diferença é que para extrair óleo diesel, gasolina e outros derivados, são empregadas altas temperaturas que podem chegar a 700ºC. No caso do oxigênio, temperaturas baixíssimas, perto dos 200ºC negativos.

No processo de produção, o ar é captado na atmosfera e passa por um sistema de filtragem. Essa peneira vai separar o C02 (dióxido de carbônico) e outras impurezas e levará o ar para uma enorme tubulação (chamada de coluna), onde o ar será rapidamente resfriado para uma espécie de destilação.

Ao atingir menos 184ºC já é possível extrair o oxigênio. Com 196ºC, é extraído o nitrogênio.

São necessários ao menos 4,5 toneladas de ar para produzir 1 tonelada de oxigênio. Essa diferença acontece porque a concentração de oxigênio no ar é de 21%, e a de nitrogênio, de 78%. O 1% restante é o argônio. Como não há demanda suficiente no mercado para o nitrogênio, ele é devolvido ao ambiente.

Para uso medicinal, o oxigênio precisa ter grau de pureza de pelo menos 99% e ser certificado por um farmacêutico. Pelo processo de destilação, é possível chegar a um grau de pureza de 99,5%.

Na indústria, o produto fica armazenado em grandes tanques. De lá, pode ser armazenado na forma líquida ou gasosa. Na forma líquida, ele é transferido por meio de grandes mangueiras para tanques de caminhões especiais. Em geral, a distribuição da forma líquida é feita para grandes hospitais, que precisam manter vários leitos funcionando. Existe também a forma gasosa, onde o produto é armazenado em cilindros específicos.

Erramos: o texto foi alterado

A versão anterior deste texto informava incorretamente a composição nitrogênio, que é de 78%, e não 87%.

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