O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), afirmou que dez mil litros de insumos, que segundo ele podem resultar em 18 milhões de doses da vacina Coronavac produzidas no Instituto Butantan, estão retidos na China, por tempo indeterminado, por conta de uma trava diplomática.
A afirmação foi feita em uma coletiva de imprensa realizada nesta segunda-feira (10), após o início da vacinação de pessoas com síndrome de Down, no Instituto Jô Clemente, na zona sul da capital paulista. Neste primeiro dia, foram imunizadas cerca de 1.100 pessoas desse grupo, a partir de 18 anos, de acordo com o governo estadual.
“Estamos com falta de insumos porque o governo da China não autorizou o embarque. Temos 10 mil litros, quase 18 milhões de doses. É muita vacina, é muito necessário”, afirmou o governador.
Na visão do tucano, os insumos não foram liberados em decorrência de um “problema diplomático”. “Isso ocorre por causa das manifestações erráticas, desnecessárias do governo federal, do presidente Jair Bolsonaro, de seus filhos, e dos ministros que falam mal da China, do governo, do povo chinês e da vacina que nos salva."
Bolsonaro sugeriu, no último dia 5, que a China teria se beneficiado economicamente da pandemia, afirmando que a Covid-19 pode ter sido criada em laboratório, tese sem respaldo em uma investigação da OMS (Organização Mundial da Saúde) sobre as possíveis origens do vírus. No dia seguinte, o porta-voz do Ministério de Relações Exteriores chinês, Wang Wenbin, afirmou que o país se opõe "a qualquer tentativa de politizar e estigmatizar o vírus".
Além da Coronavac, desenvolvida em parceria entre o laboratório chinês Sinovac e o Instituto Butantan, Doria lembrou que a vacina Oxford/AstraZeneca, produzida no Brasil pela Fiocruz, também depende de insumos chineses.
“Se precisamos dos insumos da China para produzir as vacinas, tanto do Butantan quanto da AstraZeneca, qual a razão de o governo federal ficar atacando os chineses? É incompreensível isso, muito triste. Acontece que temos uma trava diplomática.”
O governador afirmou que Dimas Covas, diretor do Instituto Butantan, participou de uma reunião virtual, na sexta-feira (7), com a embaixada da China, com o intuito de liberar os insumos retidos em Pequim. Participaram também do encontro o chanceler Carlos Alberto França, novo ministro das Relações Exteriores, além dos ministros Marcelo Queiroga e Paulo Guedes, respectivamente da Saúde e da Economia.
Nesta quarta-feira (12), o Instituto Butantan deverá liberar mais um lote com 1 milhão de doses da Coronavac, que serão encaminhados ao Ministério da Saúde, para serem distribuídas para todo o país.
Itamaraty
Questionado sobre a fala do governador sobre o impasse diplomático, o Itamaraty afirmou trabalhar "constantemente" no enfrentamento "da crise sanitária", acompanhando o processo de autorização de exportação de IFAs (insumo usado para a fabricação de vacinas), além de atuar "com a agilidade necessária".
"Em diversas ocasiões", acrescentou a nota do Ministério das Relações Exteriores, autoridades chinesas se comprometeram em fazer "todo o possível para cooperar com o Brasil", durante a pandemia do novo coronavírus.
"Eventuais atrasos não são intencionais, dado que a China está exportando IFAs para diversos países, o que gera expressiva demanda e sobrecarga nos trâmites burocráticos", diz trecho de nota.
Kit entubação
A Secretaria Estadual da Saúde iria concluir nesta segunda-feira (10) uma ata para a compra de 9 milhões de insumos para o chamado kit intubação, constituído por anestésicos e relaxantes musculares.
O secretário Jean Gorinchteyn afirmou, no mesmo evento para vacinação de pessoas com síndrome de Down, que no atual momento da pandemia, o estado consome mensalmente, em média, cerca de 3,5 milhões de insumos do kit intubação.
Ele não comentou qual o atual estoque dos medicamentos, mas garantiu que são o suficiente para todo o estado, conforme as demandas encaminhadas pelos municípios.
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