Algumas UBSs (Unidades Básicas de Saúde) da capital paulista estão tendo que lidar com a falta de doses para aplicar o reforço em quem se vacinou com a primeira dose da Coronavac. Nesta quarta-feira (5), postos de saúde das zonas leste e sul da capital relataram ausência de insumos para a segunda dose da vacina.
A reportagem do Agora entrou em contato com 50 UBSs de todas as regiões da cidade. Sete delas afirmaram estar com a Coronavac em falta para vacinar aqueles que estão com retorno da 2ª dose programado para esta semana.
Na zona leste, o problema foi relatado na UBS São Mateus 1 e na UBS Itaquera. Já na zona sul, são cinco locais sem vacina: UBS Jardim Orion/Guanhembu, UBS Jordanópolis, UBS Anchieta, UBS Chácara do Conde e UBS Vila Natal.
No entanto, muitas das outras unidades estão com poucas doses de Coronavac disponíveis para a segunda dose. Por telefone, funcionários de várias UBS relataram baixa quantidade de vacinas e que não há previsão de reposição de doses.
A agente de saúde de uma das unidades que tem Coronavac disponível disse não ser possível afirmar se amanhã, quinta-feira (06), haverá vacina para a segunda dose.
Segundo a programação do estado de São Paulo, pessoas com 67 anos e os profissionais de educação maiores de 47 anos que tomaram a Coronavac estão com o retorno previsto para esta semana.
Procura por imunizante
O dentista Walter Marino, 67 anos, foi à UBS Itaquera (zona leste) para tomar a segunda dose da vacina Astrazeneca, por volta das 12h40 desta quarta-feira (5). Quando a enfermeira aplicou o imunizante, ele disse ter ouvido a profissional da saúde afirmar ser aquela a última dose da unidade de saúde, contra a Covid-19.
“Não tinha a mínima ideia de que isso poderia acontecer comigo, ser o último a ser vacinado. Mas pelo menos consegui tomar as duas doses e agora eu posso me sentir mais protegido”, afirmou.
A sorte do dentista não foi a mesma da aposentada Tânia Jager Sliachtivas, 68. Ela afirmou que pretendia tomar “qualquer vacina” disponível na UBS. “Mas falaram [atendimento] que acabaram todas as doses das duas [Coronavac e Astrazeneca]. Mas não tem problema. Não tenho medo dessa porcaria [Covid-19]”, disse a aposentada, que segurava a máscara de proteção na mão.
Uma funcionária da unidade afirmou, sem saber que falava com a reportagem, que a UBS já estava sem doses da Coronavac “a manhã toda”, acrescentando também o fim dos estoques da Astrazeneca. “Vamos torcer para que amanhã chegue algo”, afirmou.
A cozinheira Silvana Salvador Caldeira, 49, que trabalha em uma creche, ficou sem tomar a sua segunda dose contra o novo coronavírus. Moradora de Guaianases (zona leste), ela foi ao bairro vizinho na esperança de se imunizar na UBS de Itaquera, com a segunda aplicação da Coronavac.
“O jeito agora vai ser procurar outros hospitais. A sensação que tenho disso é de descuido do governo com a população”, desabafou. Porém, Silvana não teve sorte. Mais tarde, em contato com a reportagem, ele disse ter ido à UBS Jardim Robru, mas também não encontrou a dose e agora vai tentar na sexta-feira (7).
Ainda na zona leste, a UBS Nair Alves de Rezende Norimbeni, em São Mateus, também viu seus estoques da Coronavac acabarem no fim da manhã desta quarta-feira.
Escolha de vacina
Uma funcionária da UBS de São Mateus afirmou que foram aplicadas 70 doses da Coronavac entre as 8h e o meio-dia. “Não temos certeza se amanhã terão mais doses, precisamos esperar. E há outro problema: tem gente se negando a tomar a Astrazeneca”, acrescentou.
Este é o caso do aposentado Orivaldo de Oliveira, 63. Ele foi à UBS atrás de informações sobre a vacina da Pfizer, da qual um lote de 135.720 doses foi distribuído pela capital paulista com o intuito de imunizar pessoas com idades entre 60 e 62 anos.
“Prefiro esperar para ver se consigo me vacinar com a Pfizer. Se não der, aí tomo as outras vacinas. Mas vou esperar uns dez dias para isso, pelo menos”, afirmou.
Além do aposentado, ao menos quatro pessoas se negaram a ser vacinadas na UBS de São Mateus nesta quarta, quando souberam estarem disponíveis somente doses da Astrazeneca.
A autônoma Ivone Ana da Silva Freitas, 64, pensa diferente. Ela ficou empolgado ao receber sua primeira dose da Astrazeneca. “Eu não tenho dessa não, o que vier de vacina para mim é lucro”, afirmou, conferindo a data de seu retorno para a segunda dose, agendada para 28 de julho.
Até lá, ela vai segurar a ansiedade pois afirmou que, desde o início da pandemia, deixou de ir a cultos religiosos, além de manter distância de familiares. “Quando for possível ter segurança para isso, a primeira coisa que quero fazer é abraçar todos da minha família”, ressaltou.
Resposta
A Prefeitura de São Paulo, por meio da Secretaria Municipal da Saúde, diz que "há um remanejamento/abastecimento de doses diariamente entre as unidades vacinadoras da capital".
"No entanto, a unidade que, pela grande demanda de segunda dose de Coronavac, apresentar falta pontual do imunizante, está autorizada a reagendar o retorno dos munícipes", diz trecho de nota.
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