Voltaire de Souza: Bicicleta não

Voltaire de Souza

Racismo. Ignorância. Preconceito.
Aconteceu no Leblon.
Jovem negro é acusado de ser ladrão.
Motivo: a bicicleta dele era cara demais.
Ticiana arregalou os belos olhos azuis.
—Onde já se viu?
O namorado dela se chamava Celso.
—Você não sabe o que é ser negro…
A origem africana de Celso era motivo de orgulho.
—Já te acusaram de ser ladrão?
—Claro, Ticiane. Eu era criança ainda…
As lágrimas vieram aos olhos do rapaz.
—Minha mãe tinha me dado um tênis novo.
Marca de grife.
—Um capitão da polícia militar me levou até o distrito…
—Verdade, Celso?
—Me deu uma surra.
—Que horrível, amor.
—Eu lembro até hoje do nome desse capitão.
—Qual era?
—Capitão Morretes.
Ticiana teve um choque.
—Irmão da minha mãe. Caceta.
O namoro de Ticiana e Celso era recente.
—Logo agora que eu ia te apresentar para minha família.
Ela propôs uma solução.
—Usa máscara. Luvas. Chapéu. Diz que é por causa da Covid.
Morretes não se impressionou.
—Essa Ticiana. Quando não namora negro escolhe logo um maricas.
Alguns andam de bicicleta. Outros de moto.
Mas muitos preferem usar as quatro patas.

Bicicleta caída em calçada
Racismo. Ignorância. Preconceito. Aconteceu no Leblon. - Unsplash
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