Ruas de São Paulo ganharão corações gigantes retratando histórias de amor

Exposição poderá ser vista em vários pontos da capital paulista a partir de setembro

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São Paulo

A partir do início de setembro vários pontos da cidade de São Paulo ganharão novas cores e imagens com os trabalhos do projeto Art of Love, idealizado pela Artery. Tratam-se de esculturas em formato de corações gigantes que retratam histórias de amor reais contadas por anônimos e que estarão expostas pela primeira vez nas ruas da cidade de São Paulo.

Segundo Carolina Barreto, sócia proprietária da Artery e curadora do projeto, a empresa, que já atua no ramo das artes, recorreu ao tema do amor como forma de dar a sua colaboração para as pessoas durante o período de pandemia. E esse amor também se estenderá após o término da exposição, já que as peças serão leiloadas e metade do que for arrecado será revertido para causas humanitárias.

"Pensamos em algo que tivesse a ver com esse momento de necessidade das pessoas, algo que nosso trabalhe entregue que é essa parte da arte, cor, otimismo", explica Barreto. "A diferença desse para os outros projetos é que resolvemos retratar jornadas reais e as pessoas ficam muito sensibilizadas com histórias verídicas, de motivação, de superação", completa.

As obras começaram a ser produzidas no dia 19 de julho no Espaço Multiuso do Memorial da América Latina e devem ser entregues até o final do mês de agosto.. Seis artistas estão envolvidos no projeto. O processo criativo dos artistas é baseado nas histórias de amor verdadeiras contadas por anônimos, que enviaram vídeos para o projeto nos ultimos meses. Das mais de 100 relatos enviados entre os dias 26 de maio a 26 de junho, 62 deles foram selecionados e já começam a ganhar forma.

Os artistas participantes do projeto também passaram por uma selação. O Art of Love atraiu cerca de 500 profissionais e amadores interessados. Os selecionados se debruçam agora em traduzir o que leram e ouviram em esculturas no formato de coração com 2 metros de altura.

Histórias de amor

A artista Telma Takara, 36 anos, foi uma das que teve a oportunidade de pintar a escultura. Ela recebeu a história de Rodrigo. De acordo com Takara, a mulher de Rodrigo, Adriana, e ele estavam à espera de gêmeos. Porém, no início da gestação, perderam um dos filhos. O outro nasceu prematuro, passou por muitas cirurgias e os médicos chegaram até a dizer que não tinha mais o que ser feito. O menino, contudo, recuperou-se. Quando tudo parecia bem, a mulher dele se acidentou e ficou em coma. Depois de 1 ano e 3 meses internada, Adriana morreu.

"Os cactos estão ali porque é uma planta que resiste a tudo. É uma planta forte, que tem espinhos e ela também dá flores. É um caminho duro que o Rodrigo passou, mas ele soube encontrar forças em meio a tudo isso, soube encontrar beleza na paternidade e soube se agarrar a isso para seguir em frente. Essa foi minha ideia. Colocar ele e o filho de um lado do coração e do outro a mulher. Coloquei a frase que ele falou também no vídeo que a razão dele existir era ser pai. Precisava estar ali na arte", conta Takara.

Outra selecionada foi Janaina Mariano de Sobral, 31 anos, educadora social e artista independente. Jana No Hibi, como responde artisticamente, pegou a história de uma mulher diarista, que com o dinheiro das faxinas comprou um fusca para levar o filho para a escola. Com isso, vizinhos começaram a pedir que ela levasse os filhos deles e ela percebeu que o transporte poderia ser mais rentável que as faxinas. Com o tempo, comprou uma van escolar e depois outra. Montou uma empresa de transporte escolar, que acabou ficando com a renda prejudicada na pandemia. Ela, então, passou a lavar carros para se virar, chegou a entrar em depressão e começou a praticar crossfit. A prática do esporte a fez melhorar da depressão.

"Muitas vezes me senti próxima e me identifiquei com a história, pois também sou mãe. Então eu tentei retratar e representar esse vínculo que todas as mulheres que lutam e trabalham tanto para se virar representa", afirmou No Hibi. "Também me esforcei para passar esse relato da independência e amor por carros e dirigir, algo que não é muito incentivado nas mulheres. Foi mais um ponto que me identifiquei com a história porque eu gosto muito de dirigir e isso me ajuda muito a ser independente no meu trabalho e vida pessoal", completou.

Já Nany Mandrágora ficou com a missão de retratar a história de uma mãe de um filho com deficiencia cerebral. Ela superou suas dificuldades e terminou seus estudos graças a seu trabalho como doméstica. Na adolescência, a mulher teve dificuldade para terminar os estudos por conta de uma doença chamada ceratocone. Mãe de uma criança especial, começou a passar dificuldade, porque o cuidado com a criança era redobrado. Precisou perder o medo de deixar seu filho com alguém para poder dar sustento a ela e conquistar seus objetivos pessoais, que estavam pausados. Se tornou diarista para ter sua independência e não deixar seu filho passar necessidade. Com isso viu sua vida mudar, sua autoestima voltar e conseguiu ter forças para encarar todo preconceito que sofria junto com seu filho, por conta da doença. Terminou os estudos e até hoje trabalha de diarista e está à procura de um transplante de córnea para seu filho.

"Me espelhei muito na questão de ela ser uma mãe solo. Justamente essa ânsia, tristeza de deixar o filho sozinho. É algo que nós como mães sofremos. A obra representa muito isso. Como às vezes carregamos um peso sobre as nossas costas de justamente fazer todas as correrias e ainda levando o nosso filho no colo e tentar sustentar eles, nos sustentar. Assim como eu e ela, a obra representa todas as mães que fazem essa correria do dia a dia que levam os filhos no colo e na barriga", disse Mandrágora.

No mês de setembro as obras serão espalhadas pelas ruas da cidade (confira alguns pontos já confirmados abaixo). Depois, em outubro, elas ainda vão ser colocadas em shoppings parceiros. Por enquanto o Shopping Pátio Paulista é o primeiro a fechar a parceria, mas segundo Carol Barreto, ao menos, outros dois também deverão receber as obras.

Caridade

A partir do momento em que as obras forem expostas na rua, um leilão online será aberto e as pessoas poderão adquiri-las. Para participar do leilão, as pessoas poderão se informar no site do projeto (www.artoflove.art).

Metade do valor arrecadado será doado para as instituições de caridade que serão escolhidas pelos patrocinadores por cada obra vendida. Outros 15% serão repassados para os artistas e 35% serão utilizados para cobrir os custos do evento.

Confira onde as obras poderão ser vistas

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