Pandemia traz hábitos de limpeza e higiene para sempre

Medidas para prevenir a Covid-19 viraram rotina nas casas brasileiras

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São Paulo

A pandemia do novo coronavírus está longe de terminar, mas já é possível dizer que ela mudou comportamentos em todo o mundo. No Brasil, alguns hábitos de limpeza e higiene que antes não eram tão valorizados se tornaram frequentes nas casas de todo o país.

É o caso vivido pelo designer gráfico Guilherme Criscuolo, 33 anos, e pela sua mulher, a consultora de vendas Karoline Ferreira, 30. O casal passou a tomar uma série de medidas que hoje considera essenciais, mas que antes não faziam parte de suas rotinas. Os cuidados são ainda maiores porque eles tornaram-se pais de uma menina, que atualmente tem 1 ano e meio.

Um dos cuidados adotados por ambos é sempre tirar os sapatos antes de entrar em casa. “Antes da pandemia não fazíamos isso. Ficávamos sem graça de pedir para as visitas tirarem o sapato. Mas, atualmente, coloquei uma sapateira na entrada de casa e já tem até alguns chinelos lá para oferecer”, diz Criscuolo.

Ele explica que essa é uma forma de proteção para a filha, que tem o costume de brincar no chão.
Além dos sapatos, a família também criou a rotina de higienizar as compras ou entregas que recebem e também a de lavar as mãos e usar álcool em gel.

“Sempre que volto para casa lavo as mãos. E quando estou na rua a cada cinco, dez minutos dou uma passada de álcool gel sempre que mexi ou encostei em algo”, completa Criscuolo.

O designer diz que até mesmo a filha já participa do novo contexto. “É até engraçado. Minha filha, às vezes, está se entretendo e brinca que está passando álcool em gel nas mãos. Qualquer vidrinho com alguma coisa ela já olha e fala: ‘álcool’ e esfrega as mãos”, acrescenta.

Quem também passou a adotar maiores cuidados com a higiene e a limpeza foi a assistente de processo Renata Barbosa de Lima, 43.

Trocar de roupa e tomar banho ao chegar da rua são algumas das prioridades. “Antes da pandemia, eu chegava da rua e fazia alguma coisa e ia tomar banho. Mas agora eu chego da rua e a primeira coisa que faço é tomar banho”, conta.

“Mas o que mais pegou foi limpar as compras. Ponho as sacolas no chão e espirro álcool”, continua.
Lima mora com outros familiares, alguns com comorbidade. Por isso, os cuidados são essenciais e se estendem aos sapatos que são utilizados na rua. “Eles ficam na porta de casa e só retornam para dentro depois que limpamos”, finaliza.

Já acostumada aos processos, ela admite que os hábitos seguirão após a pandemia. “Não sei se vou perder essa mania. Acredito que vou continuar tomando certas precauções”, encerra.

Especialistas concordam com hábitos

Médicos ouvidos pelo Agora foram unânimes em afirmar que quando medidas de higiene são usadas dentro de uma normalidade, mesmo que não sejam prioritárias na prevenção da Covid-19, são positivas.

Mônica Levi, diretora da Sociedade Brasileira de Imunizações, explica que as primeiras recomendações saíram quando pouco se sabia sobre a doença. Por isso, foram adotadas medidas já usadas na prevenção de outras enfermidades respiratórias. Entre elas estavam a lavagem das mãos, o uso do álcool gel, a retirada dos sapatos, entre outras.

Depois percebeu-se que as taxas de transmissão se davam muito mais por contágio respiratório e menos pela superfície contaminada. Assim, passou a se dar menos importância a algumas das medidas, “embora a limpeza seja sempre importante”, pondera Levi.

Para o infectologista da Universidade Estadual Paulista, Alexandre Naime, lavar as mãos e tirar os sapatos são essenciais: “A higiene das mãos é louvável porque evita a transmissão da covid e outros vírus”.
O epidemiologista da Universidade de São Paulo, Eliseu Alves Waldman, completa: “as medidas são abrangentes e servem não apenas para a covid-19.”

Excessos podem ser prejudiciais

Se limpeza não é ruim, então qual é o problema? O médico psiquiatra Daniel Costa, do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas e do Programa de Transtorno Obsessivo Compulsivo da USP, explica: “Só falamos em doença quando há sofrimento ou interferência muito marcada. Gente que está tomando mais tempo com medidas de higiene e limpeza do que a maioria das pessoas”.

“Para alguns não basta lavar a mão uma única vez. Eles fazem isso repetidas vezes e, em alguns casos, usam produtos que nem são recomendados, gerando um quadro de dermatite”, exemplifica o psiquiatra.
Não existem estudos que apontem o aumento de casos de TOC (Transtorno obssessivo-compulsivo) durante a pandemia, mas o médico afirma que é possível notar que pessoas que já tinham predisposição desenvolveram a doença. Já aqueles que estavam curados sofreram algum tipo de recaída. “Funcionou como um gatilho. A pandemia tem sido um fator de estresse psicológico para todos”, crava.

Para os que já estavam em tratamento houve sensação de normalidade. “Os pacientes sentiam ali que os comportamentos e as manifestações deles estavam legitimados”, conclui.

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