A Prefeitura de São Paulo planeja comprar 20 fuzis e dez carabinas para a GCM (Guarda Civil Metropolitana), conforme publicado na edição de sexta-feira (30) do Diário Oficial do Município. A compra do armamento custará R$ 400 mil e o recurso será disponibilizado por meio de uma emenda parlamentar do vereador Delegado Palumbo (MDB).
Especialistas em Segurança Pública ouvidos pela reportagem são contrários à compra pela gestão Ricardo Nunes (MDB), alegando que este tipo de armamento já é utilizado por forças especiais da Polícia Militar e que desvirtua as atribuições da Guarda —criada para zelar pelo patrimônio público da cidade, segundo consta no próprio site da Secretaria Municipal de Segurança Urbana.
“É uma aquisição importante para o bom atendimento da população. A cidade de São Paulo tem 12,5 milhões de habitantes e a ação da prefeitura tem que ser de acordo com sua população”, disse o prefeito sobre a compra, por meio de sua assessoria de imprensa, na sexta, durante vistoria à seda da Iope (Inspetoria Regional de Operações Especiais), da GCM.
A inspetoria especial, segundo Nunes, ajuda a combater o comércio ilegal, a pirataria, fazendo "um trabalho excepcional na cracolândia", no centro da cidade, "combatendo o traficante, que é inimigo da cidade, da prefeitura, da Iope e da GCM".
A secretária municipal da Segurança Urbana, Elza Paulina, afirmou que a futura compra está respaldada por legislação federal.
“Essas armas não serão utilizadas pelo efetivo normal. Somente pelo Iope, que tem uma caraterística diferente das demais unidades da CGM. Eles terão treinamento e as armas só serão usadas em situações específicas”, disse.
Segundo a prefeitura, o Iope atua em apoio às outras unidades em "situações de crise, patrulhamento em regiões onde a mancha de criminalidade se acentua, controle de multidões, desocupação de prédios e instalações ocupadas de formas alheias à lei."
Especialistas criticam aquisição
O pesquisador Dennis Pacheco, do FBSP (Fórum Brasileiro de Segurança Pública), ressaltou que a GCM cuida do patrimônio, ordem e espaços públicos. "De maneira nenhuma a função da guarda está ligada a noção de policiamento, que é voltada para o enfrentamento. Na cracolândia, as questões a serem trabalhadas pela prefeitura estão muito mais ligadas à gestão urbana, com pessoas em situação de vulnerabilidade, do que de policiamento."
Ele acrescentou que fuzis são armas de "potencial destrutivo imenso". "Isso [fuzil] é exatamente o que não precisa ter em São Paulo e na GCM."
Para o professor Rafael Alcadipani, integrante do fórum, a compra dos fuzis é "um problema de redundância", pois segundo ele a Polícia Militar já conta com batalhões especializados nas mesmas situações mencionadas pela prefeitura, como a Rota (Rondas Ostensivas Tobias Aguiar), Gate (Grupo de Ações Táticas Especiais) e Baeps (Batalhões de Ações Especiais de Polícia).
"Isso [comprar fuzis para a GCM] me parece um desperdício de dinheiro público, uma coisa muito mais para o marketing do que para a realidade. É o que me chama a atenção, neste caso", destacou.
O analista criminal Guaracy Mingardi, também membro do FBSP, dá força ao coro de especialistas, questionando as atribuições da GCM. "Se a Guarda faz o mesmo que a PM, tem de estar bem armada. O problema é que ela deveria trabalhar mais no policiamento de proximidade, comunitário. Se é para fazer o que a PM faz, não precisaríamos da Guarda e, se os dois fazem a mesma coisa, ficam se atropelando", afirmou.
A própria Secretaria Municipal da Segurança Urbana afirma, em seu site, ser a missão da GCM proteger bens, serviços e instalações municipais.
"A corporação atua em toda a capital paulista e tem como principais atividades os seguintes programas: Proteção Escolar, Controle do Público, Proteção Ambiental, Proteção aos Agentes Públicos, Proteção ao Patrimônio Público e Proteção às pessoas em situação de risco", diz trecho do texto de apresentação da instituição.
Questionada nesta terça-feira (3), a pasta não respondeu sobre as armas atualmente usadas pela GCM.
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