Novo Sesc no centro de SP começa a ser erguido e deve ser inaugurado em 2025

Terreno abrigava o antigo edifício São Vito; complexo terá 9.000 metros quadrados

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São Paulo

Depois de uma longa espera, as obras do Sesc Parque Dom Pedro 2º, no Brás (região central da cidade de São Paulo), tiveram início. A antiga unidade provisória, que estava presente no local desde 2015, foi retirada e desde o mês de agosto o terreno já começou a ser preparado para receber o novo espaço, que tem previsão para ficar pronto no fim de 2024 e deve ser inaugurado no começo de 2025.

O grande triângulo de 9.000 m² entre as avenidas do Estado, Mercúrio e a praça São Vito, concedido pela Prefeitura de São Paulo, contará com um edifício, projetado pelo escritório UNA Arquitetos, com sala de espetáculos, espaços de convivência e para oficinais, piscinas, quadras, e uma cafeteria, além de jardins e áreas arborizadas.

“É a realização de um sonho antigo. Vai ser um projeto importante para a região, que é carente de atividades culturais e sociais”, diz Danilo Santos de Miranda, diretor regional do Sesc no Estado de São Paulo.

O local, ao lado do Mercado Municipal e da tradicional zona cerealista da capital paulista, deverá receber entre 2.500 a 3.000 pessoas por dia para as atividades presenciais.

“Nós temos a expectativa de colaborar com a revitalização daquela região toda, com habitação, frequência, presença de público e uso do equipamento. Queremos dar condição para aquilo tudo ganhar importância na cidade”, afirma o diretor regional.

O edifício, que contará com um pedaço em forma de um triângulo com um parque central, poderá ser acessado por três entradas, voltadas para cada uma das ruas no entorno do local. No nível térreo, estão as oficinas, a central de atendimento, uma cafeteria e uma sala de espetáculos. Esses programas estão localizados ao redor de um pátio arborizado.

“O Sesc para aquela região foi concebido como uma lanterna para aquele lugar. É um projeto pensado para valorizar toda a dimensão pública que o Parque Dom Pedro tem e valorizar a região em todas as suas multiplicidades de elementos e valores”, destaca Fernanda Barbara, coordenadora do projeto ao lado do arquiteto Fábio Valentim.

O primeiro andar contará com espaço para alimentação, biblioteca e áreas administrativas. A circulação interna entre os primeiros pavimentos é feita por escadas rolantes que ligam o nível térreo ao terraço que caracteriza o segundo pavimento. Já o segundo andar terá a convivência e varandas.

“É um projeto que busca ser muito convidativo, com muitos espaços para você estar e conviver com as pessoas, para descansar, animar e fazer outras coisas. Uma das coisas mais importantes é essa ligação forte com a cidade e com a região central”, diz Fernanda.

Um andar um pouco mais elevado, que ocupa apenas uma parte da projeção do edifício, contará com uma quadra poliesportiva, além de áreas reservadas para atividades esportivas diversas e uma sala de ginástica. Uma pista de aquecimento, que margeia toda a fachada do edifício, permite que os usuários possam correr ou caminhar com vistas sobre abertas para o entorno.

A cobertura do prédio será ocupada pelo conjunto aquático, que inclui uma piscina coberta para treino e mais duas piscinas de lazer ao ar livre. O lugar ainda conta com um terceiro volume mais alto e que está interno ao volume principal, como um mirante.

Segundo a arquiteta, o paisagismo foi uma das prioridades e muitas áreas arborizadas estão espalhadas pelo local. “O projeto foi concebido com uma qualidade ambiental importante e relevante. Tem um jardim triangular no centro do prédio muito arborizado e que faz um contraponto com o restante da cidade”, ressalta Fernanda Barbara.

Projeto da futura unidade do Sesc Parque Dom Pedro 2º, no Brás (região central da cidade de São Paulo), feito pela UNA arquitetos. Na foto, projeto da quadra esportiva.
Projeto da futura unidade do Sesc Parque Dom Pedro 2º, no Brás (região central da cidade de São Paulo), feito pela UNA arquitetos. Na foto, projeto da quadra esportiva. - Divulgação/Una Arquitetos

Todo o espaço ainda conta com brise-soleil, um dispositivo arquitetônico para impedir a incidência direta do sol no interior do edifício, evitando um calor excessivo.

“Esse elemento traz uma temperatura ambiente controlada e o local tem uma ventilação natural muito eficiente. Além disso, conta com esses recursos de painéis solares e reservatórios de água”, diz Fernanda.

O projeto do Sesc Parque Dom Pedro 2º foi exposto na Bienal de Veneza, na Itália, um dos eventos de arquitetura mais importantes do mundo, e venceu em três categorias do Prêmio Saint-Gobain AsBEA de Arquitetura (categoria Profissional – Modalidade Projeto Institucional, Destaque Sustentabilidade e Destaque da Edição “Roberto Claudio dos Santos Aflalo”).

Apesar do desmonte da estrutura provisória, a unidade do Sesc segue com atividades virtuais até dezembro de 2021 pelo Facebook, Instagram e Twitter, assim como no canal no Youtube.

O antigo edifício São Vito

A área que contará com o Sesc Parque Dom Pedro 2º carrega uma longa história. No terreno, em 1959, em pleno período de verticalização de São Paulo, foi erguido o edifício São Vito, projetado pelo engenheiro e arquiteto Aron Kogan, no parque Dom Pedro, com 25 andares, com mais de 600 quitinetes —apartamento de dimensões pequenas com normalmente apenas três cômodos— e conjuntos comerciais.

O edifício teve influência do modernismo e foi projetado como uma moradia popular, vendida a baixo custo.

“O Aron Kogan foi um arquiteto que dedicou sua carreira para atender uma demanda popular e foi importante porque projetou edifícios com apartamentos pequenos, com uma grande arquitetura e de qualidade”, diz José Geraldo Simões Júnior, professor de arquitetura e urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie.

O então edifício São Vito, no Parque D. Pedro, na região central de São Paulo.
O então edifício São Vito, no Parque D. Pedro, na região central de São Paulo. - Tuca Vieira - 23.6.2005/Folhapress

Já nos anos 1960, a região do parque Dom Pedro passou a sofrer um processo de esvaziamento e de degradação, somado à construção de viadutos e terminais de ônibus.

“Durante os anos 1970 e 1980, o edifício passou a ser estigmatizado com alcunhas pejorativas porque a própria manutenção se tornou difícil”, afirma Claudia Muniz, professora de arquitetura de urbanismo da Faap (Fundação Armando Alvares Penteado).

Segundo José Geraldo Simões Júnior, o prédio atendeu a demanda com as pessoas de baixa renda e conseguiu cumprir esse papel durante quase 25 anos. “A vida em condomínio depende do pagamento de contas e o prédio tinha muitos apartamentos, com famílias mais pobres, então o local começou a se degradar”, comenta o professor do Mackenzie.

Nesse período, o edifício ganhou as alcunhas de “treme treme” e “balança, mas não cai” pelos problemas estruturais que passou a enfrentar. “Se tornou um local inadministrável porque, além da conta não fechar, não tinha dinheiro para investir", destaca Júnior.

“Nesse período, os apartamentos que já eram pequenos chegaram a ser divididos no meio e foram sublocados, além de ter a água cortada, por exemplo”, afirma o professor.

O primeiro prefeito de São Paulo que se debruçou na questão foi Jânio Quadros, que governou a cidade pelo segundo mandato de 1986 até 1988.

“O Jânio previa um grande projeto urbano de requalificação do parque Dom Pedro 2º. Ele entendeu que o prédio deveria ser demolido e os moradores deveriam sair”, diz Claudia Muniz.

Edifícios Francisco Herrrias, Mercúrio e São Vito, na região central de São Paulo
Edifícios Francisco Herrrias, Mercúrio e São Vito, na região central de São Paulo - Fabio Braga - 14.7.2009/Folha I.magem

Durante esse período, o Contru (Departamento de Controle e Uso de Imóveis, órgão associado à Secretaria de Habitação) apontou o São Vito como caso de calamidade e com risco de enchentes.

“Mas na época de Jânio, ninguém entrava, nem a polícia. Os moradores jogavam coisas pela janela, como botijão de gás e privada. Era uma loucura”, afirma Júnior.

O tema só voltou a virar pauta na Prefeitura de São Paulo na gestão Marta Suplicy, de 2001 até 2004. “Ela propôs uma recuperação ambiental e urbana da região do parque Dom Pedro 2º e junto desse projeto também houve um outro projeto habitacional”, afirma a professora da Faap.

“Esse projeto visava a destinação do edifício para habitação. Se daria prioridade para os proprietários e inquilinos ou em apartamentos cedidos, e o restante dos apartamentos receberiam novos moradores. O financiamento seria público”, destaca a especialista.

Nesse período, inclusive, a área foi demarcada como zona especial de interesse social e a gestão Marta fez um esforço para que o edifício fosse recuperado e destinado à habitação social para famílias de baixa renda.

Enquanto isso, o prédio sofria com a falta de manutenção e a região passou a ser mais esvaziada ainda. O estigma que o edifício carregava também ajudou a piorar a sua realidade.

Montagem das fotos realizadas entre dezembro de 2010 e abril de 2011 sobre a demolição do edifício São Vito e do edifício Mercúrio, localizados na região central de São Paulo
Montagem das fotos realizadas entre dezembro de 2010 e abril de 2011 sobre a demolição do edifício São Vito e do edifício Mercúrio, localizados na região central de São Paulo - Diego Padgurschi - 20.4.2011/Folhapress

Nas gestões seguintes, de José Serra, de 2005 e 2006, e na sequência com Gilberto Kassab, de 2006 até 2012, a ideia de Marta Suplicy não teve continuidade e o processo de finalização da ocupação e de demolição voltou a ser pauta, até ser concretizada em 2011.

“Foi um longo processo porque entraram as procuradorias e a ação não andava. A própria demolição foi lenta porque teve que ser feita à mão”, diz o professor do Mackenzie.

O terreno ainda contava com o edifício Mercúrio, que era coligado ao São Vito e também foi demolido no mesmo período.

“É importante enfatizar que o prédio não é um objeto isolado, ele fez parte de como todas as gestões municipais enxergam a região do Padre Dom Pedro 2º”, afirma Claudia Muniz.

Novo Sesc | Parque Dom Pedro 2º

  • As obras foram iniciadas em agosto de 2021
  • O término está previsto para 2024 e a inauguração para o início de 2025
  • O terreno de 9.000m² fica no espaço do antigo edifício São Vito
  • O edifício contará com um pedaço em forma de um triângulo com um parque central e poderá ser acessado por três entradas
  • Todo o espaço será arborizado

Térreo

  • Sala de espetáculos
  • Salas para oficinas
  • Central de atendimento
  • Cafeteria

Primeiro andar

  • Comedoria (vista para o pátio arborizado e para a zona leste)
  • Biblioteca (voltada para a praça São Vito)
  • Áreas administrativas

A circulação interna entre os primeiros pavimentos é feita por escadas rolantes que ligam o nível térreo ao terraço que caracteriza o segundo pavimento

Segundo andar

  • Convivência
  • Varandas

Andares mais elevados

  • Uma quadra poliesportiva
  • Áreas reservadas para atividades esportivas diversas
  • Sala de ginástica
  • Uma pista de aquecimento, que margeia toda a fachada do edifício
  • Um andar mais alto como um mirante

Cobertura

Conjunto aquático (uma piscina coberta para treino e mais duas piscinas de lazer ao ar livre)

Fonte: UNA Arquitetos

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