Barraco. Baixaria. Competição.
Os reality shows estão de volta.
“A Fazenda” estreia na TV.
Dona Evarista fazia cara feia.
—Prefiro novela bíblica.
O marido dela se chamava Arnaldo.
—Tem hora para tudo, Evarista.
Ele abriu o livro sagrado.
—Hora de rir e hora de chorar.
Evarista prestava atenção.
—Hora de acordar e hora de dormir.
A voz de Arnaldo ia crescendo.
—Quem ignora o riso do estulto, desconhece a palavra do sábio.
Evarista não estava entendendo.
—Que é que é isso que você está lendo?
—Está tudo na Bíblia, Evarista.
Ela virou a cara.
—O que você quer ver é mulher pelada.
Arnaldo ficou em silêncio.
O controle remoto foi acionado.
Escravos. Chicotes. Faraós.
—Olha aí a sua novela.
—O que é que tem?
—Só tem homem de saiote.
—Fica quieto. Vai começar.
—Calorão. Liga o ventilador, Arnaldo.
—Verdade. Clima de deserto.
Ouviu-se um estouro na tomada.
A TV Semp escureceu definitivamente.
—O que foi isso?
Era apagão.
Na suíte, o casal se reconcilia.
—Vem, meu faraó.
—Haha… hora de capinar na roça.
A conta de luz não é barata.
Mas, na vida de um casal, o importante é não faltar gás nem energia.
Voltaire de Souza: Tem hora para tudo
Voltaire de Souza
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