Restauração da Casa das Rosas, em SP, tem início e obras devem ir até 2023

Atividades presenciais continuam no espaço externo do museu na avenida Paulista

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São Paulo

As obras de restauro na Casa das Rosas — Espaço Haroldo de Campos de Poesia e Literatura, museu literário na avenida Paulista (região central de São Paulo), tiveram início na última segunda-feira (18). A previsão oficial para entrega é de 15 meses, mas a organização estipula até dois anos para o fim das obras, ou seja, para o fim de 2023.

Entre os objetivos da reforma, que foi anunciada em dezembro de 2019, mas acabou adiada em um ano e meio por causa da pandemia de Covid-19, estão a recuperação das características originais do casarão de 1935, atualização do sistema elétrico e hidráulico, ampliação da acessibilidade de pessoas com mobilidade reduzida e aprimoramento da funcionalidade do espaço.

Restauração da Casa das Rosas, na avenida Paulista (região central de São Paulo); obras no museu devem ficar prontas no fim de 2023 - Ronny Santos/Folhapress

"A casa é um patrimônio importante e emblemático da cidade de São Paulo e o tempo ocasiona alguns desgastes que precisam ser trabalhados para a recuperação plena do local", diz Marcelo Tápia, tradutor, ensaísta, professor e diretor da Rede de Museus-Casas Literários de São Paulo, da qual a Casa das Rosas faz parte.

Segundo Tápia, as obras vão associar a restauração de aspectos originais da casa a uma melhor funcionalidade do museu, como um elevador até o subsolo, onde está o acervo de Haroldo de Campos, poeta, tradutor, crítico literário e patrono do espaço, e mais salas para pesquisadores, banheiros e um novo ambiente.

"A empresa contratada [Estúdio Sarasá Conservação e Restauração] é bastante sensível e empenhada. Por enquanto eles retiraram a rampa da fachada para fazer uma nova mais adequada e estão investigando a história de infraestrutura da casa", afirma o doutor em teoria literária e literatura comparada pela USP (Universidade de São Paulo).

"Eles farão o restauro dos pisos, alvenarias, forros, papéis de parede, cobertura e elementos decorativos, esquadrias das janelas e o vitral, que vai ser retirado para ser restaurado, e por fim a área externa. A última fase também vai restaurar a edícula, que é onde atualmente funciona o café e que vai seguir aberto", diz Tápia.

Durante as obras, os objetos abrigados no museu, inclusive seu acervo museológico, estão acondicionados na sede da Poiesis (Instituto de Apoio à Cultura, à Língua e à Literatura), organização social responsável pela gestão do museu, onde o acervo bibliográfico Haroldo de Campos permanecerá aberto para consulta de pesquisadores mediante agendamento prévio.

O investimento total para a obra é de R$ 4,2 milhões, com 80% do valor custeados por recursos do Fundo de Defesa de Direitos Difusos do Ministério da Justiça —que devolve à população valores arrecadados de condenações judiciais e multas, direcionados a projetos que recomponham o patrimônio histórico e artístico, danos ao meio ambiente, ao consumidor e a outros interesses coletivos —e 20% custeados pelo governo estadual.

Outro ponto destacado por Marcelo Tápia é que o imóvel não será cercado por tapumes ao longo da obra, mas sim por um alambrado de arame que permite a visualização da casa. Segundo o diretor, serão programadas visitas de alguns grupos para ver o restauro e acompanhar a equipe.

Além da programação online, serão realizadas atividades presenciais no jardim do museu durante as obras, como exposições, recitais, feiras e lançamentos de livros, entre outras. A programação do museu está no site da Casa das Rosas e no +Cultura.

Desde a última quarta-feira (20) a exposição fotográfica "Onde Mora a Esperança" está instalada no jardim da casa e ficará montada até 28 de novembro. Tendo como tema lares ao redor do mundo, a mostra é formada por cerca de 80 fotos do acervo da instituição Habitat para a Humanidade Internacional e fotografias que o projeto fez em comunidades da área rural de Pernambuco e da cidade de São Paulo.

Para novembro, está planejada a exposição "Rearquiteturas da Memória", que contará a história da avenida Paulista e da própria Casa das Rosas.

Fachada da Casa das Rosas, museu literário na avenida Paulista, que teve início de restauração - Ronny Santos/Folhapress


A Casa das Rosas teve sua construção concluída em 1935 pelo escritório do arquiteto Francisco de Paula Ramos de Azevedo. É uma mansão em estilo clássico francês com 30 cômodos, edícula, jardins, quadras e pomar.

O local

A Casa das Rosas já foi espaço de muitos lançamentos de livros, recitais, saraus, apresentações literárias e musicais, rodas de conversa, ciclos de debates e palestras.

A escritora, ensaísta e pesquisadora Beatriz Helena Ramos Amaral destaca a importância do restauro do espaço na avenida Paulista.

"A Casa das Rosas é um dos mais importantes museus do nosso estado e do país. Em breve teremos o local plenamente reaberto e resplandecendo cultura", diz Beatriz, que integra o Conselho dos Museus-Casas Literários de São Paulo e já lançou livros autorais no local.

Beatriz, que conviveu com o poeta paulistano Haroldo de Campos desde os 10 anos de idade, enfatiza a necessidade de preservar o seu acervo. "Haroldo de Campos vislumbrou o futuro. Sua obra é um dos maiores patrimônios do Brasil e é respeitada em todo o mundo. Acho que, por isso, ela se mantém e se manterá viva para além dos tempos", afirma.

Atividades presenciais continuam acontecendo na área externa da Casa das Rosas; na foto, a exposição “Onde Mora a Esperança”, que ficará até o dia 28 de novembro no local
Atividades presenciais continuam acontecendo na área externa da Casa das Rosas; na foto, a exposição “Onde Mora a Esperança”, que ficará até o dia 28 de novembro no local - Ronny Santos/Folhapress

​O sentimento de alegria pelo restauro se estende para Paulo Ferraz, poeta e que colabora regularmente com a Casa das Rosas organizando lançamentos, palestras e saraus.

"Imagino que não haja muitos outros espaços no mundo dedicados à poesia como a Casa das Rosas, que tem importância para a produção e circulação da poesia há anos", afirma Ferraz, que atualmente ministra o Clipe, curso de criação literária para poetas.

"É necessário que haja políticas públicas de conversação, mas o local também deve estar equipado de forma adequada para atender as demandas contemporâneas", destaca.

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