Trilhas do Horto Florestal, em São Paulo, desafiam automodelistas

Grupo 'pilota' miniaturas de carros off-roads no parque da zona norte da capital

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Alexandre de Aquino Rubens Cavallari
São Paulo

Com integrantes de vários cantos da capital paulista e da Grande SP, um grupo de pessoas se reúne a cada 15 dias, geralmente aos domingos, no Parque Estadual Alberto Löfgren, o Horto Florestal. Eles são pilotos de crawler, uma modalidade off-road de automodelos controlados por rádio e mostram que as trilhas do local na zona norte da cidade não são apenas para caminhadas.

O protético dentário Maurício Antônio Pessotti, de 39 anos, por exemplo, sai de São Bernardo do Campo (ABC) e roda cerca de 30 km até a zona norte de São Paulo para praticar o crawler ao lado do filho Matheus Thomé Pessotti, 11.

Há dez anos, Pessotti corria em automodelismo de velocidade, porém, resolveu deixar a prática e passou a disputar aventuras off-road com um carro de verdade. O filho, contudo, viu alguns vídeos antigos dele com seus automodelos e pediu para que retomasse os "carrinhos menores".

Porém, ao invés de voltar a controlar carros de velocidade, ele propôs ao filho que adotassem a modalidade crawler, a mesma que ele pratica com seu jipe de verdade.

"O crawler não tem velocidade, não tem risco de perder o controle e não machuca. Comecei a voltar ao hobby de RC [rádio controle] e agora fazemos trilha e brincamos no Horto. Meu filho ama de paixão", explica Pessotti . "Ele tem o carrinho dele e eu o meu", acrescenta.

No crawler o objetivo é tentar vencer obstáculos que outros não conseguem, tentar fazer a trilha melhor do que todos.

Mauricio Pessoti com o filho Matheus e seus carrinhos off-road de rádio controle antes de desafiarem trilhas do Horto Florestal - Rubens Cavallari/Folhapress

A responsabilidade em reunir o grupo, batizado de Trilha Horto Crawler RC, é do eletricista Paulo Henrique Furlan, 43. É ele quem administra a turma desde o início, em 2015. "Começamos com 12 pessoas, mas atualmente já somos 79", diz. "A ideia é estarmos juntos, fazer uma confraternização", diz o eletricista.

O encontro acontece a partir das 8h no estacionamento do parque. "A gente marca esse horário para tentar começar 8h30, mas nunca dá certo, às vezes temos que esperar mais tempo porque vem gente de todos os pontos de São Paulo e até de outras cidades, como de Suzano [Grande SP]."

A trilha, com cerca de 15 carrinhos, demora cerca de 4h30 para ser percorrida.

Há seis anos praticando crawler no Horto, Furlan explica que o parque ainda pode apresentar várias surpresas. "Dos parques de São Paulo, o Horto é o o mais legal. A gente não precisa construir obstáculos. Em um dia seco a trilha é de uma forma, mas se chover durante a madrugada, já muda completamente. A trilha muda todo fim de semana", diz.

Ele afirma que é possível começar a trilha de pontos diferentes ou mesmo inverter a ordem da pista.

Há ainda alguns pontos específicos que ganharam nomes como o "Penhasco Furlan", um trecho da trilha com aproximadamente 8 metros de altura. O nome é uma homenagem ao responsável pelo grupo, que já derrubou ao menos duas vezes o seu carrinho enquanto fazia a passagem pelo trajeto.

Paixão a dois

Quem também costuma marcar presença é o casal formado pelo mecânico de automóveis, Victor Doratiotto, 40, e pela corretora de imóveis Renata Godoy, 46, companheiros há 13 anos. Ambos descobriram na atividade um gosto em comum. "Eu comecei no Horto há quatro anos e sempre que fui para a trilha ela me acompanhou", conta Doratiotto. "Mas, com o tempo, falei para ele que gostaria de um carrinho para mim, porque comecei a gostar e pegar interesse enquanto eu via ele se divertindo", emendou Renata.

A corretora, então, conquistou seu primeiro carrinho, sempre apoiada e incentivada por Victor. "Eu sempre fiz questão de ela vir porque é ruim você ir para uma brincadeira dessa e deixar a sua mulher em casa", diz.

Renata, por sua vez, diz nunca ter implicado com a atividade, o que facilitou o encaixe entre ambos e o gosto criado pelo crawler. "Às vezes, as mulheres não gostam que os meninos gastem muito dinheiro com isso. Eu já não me incomodo. É o hobby dele e passou a ser o meu também."

Grupo de automodelistas de carros radio controlados off-roads em trilha do Horto Florestal - Rubens Cavallari/Folhapress

Entenda o automodelismo

De acordo com Paulo Furlan, os modelos são réplicas idênticas dos automóveis, porém, feitos em menor escala. Eles são controlados por ondas de rádio e podem ir para qualquer lugar. Para cada grupo existem categorias que determinam seu tamanho. As mais comuns são 1/5, 1/8 e 1/10, esta última a mais utilizada pelos grupos no parque.

Estes números representam escalas que têm como base, os carros reais, então, um automodelo 1/10 tem um décimo do tamanho de um carro real.

Além da diferença de tamanho, os carros também podem ser a combustão, neste caso eles precisam de metanol, nitrometano e óleo para funcionar ou, então, são elétricos, os preferidos dos praticantes do Horto pelas facilidades encontradas.

"É ruim [o carrinho de combustão] porque queima vela, tem que ficar puxando cordinha para pegar e às vezes você está brincando, ele morre e não se consegue fazer funcionar mais. Eu voltei para o elétrico", afirma Furlan, que diz ter iniciado na prática com carros a combustão.

Mas seja a combustão ou elétrico, o mecanismo de controle utilizado pelos pilotos para manejar os modelos são os RCs (rádios controle). O funcionamento é simples: a transmissão é feita pelos comandos do rádio que está com o piloto, para acelerar, virar e parar, e no carro existe um receptor que capta esses sinais.

Furlan ainda complementa que a prática de automodelismo pode ser considerada bastante ampla e diversificada. Ela se subdivide em on-road, quando disputada no asfalto. Nesta modalidade se reúnem, em geral, as pessoas que gostam mais de velocidade.

De acordo com Furlan a prática do off-road pode fazer a brincadeira durar mais que nas corridas de velocidade em pistas de cimento ou asfalto.

"Uma bateria dura de 30 a 40 minutos em um carrinho de corrida. No de crawler pode chegar a três ou quatro horas, porque não se exige velocidade e é uma coisa mais técnica", conta.

Para quem deseja iniciar na modalidade, Furlan avisa que o investimento inicial deve sair em torno de R$ 1.500. Ele alerta para que as pessoas tomem cuidado e não confundam os automodelos com brinquedos. Na internet é possível se achar alguns carrinhos de modelo off-roads a partir de R$ 200, mas segundo Furlan, a estes preços trata-se de brinquedo e não de um automodelo.

Carros personalizados

Os automodelos, na sua maioria, são adquiridos prontos, já montados de fábrica. Mas há quem prefira construir seu próprio carrinho, partindo do zero. É o caso, por exemplo, do analista em logística, Anibal Barros da Fonseca, 44.

Ele compra kits totalmente desmontados e escolhe as peças para montar o carrinho, como rádio, bateria, carregador, motor, câmbio, bolha (a carenagem), além da tinta para personalizar a pintura e concluir a montagem ao seu estilo. "Eu faço como gosto", afirma. "Tenho preferência por bolhas flexíveis, que são as de lexan, um material que lembra uma garrafa pet", diz. "É mais leve e, como é flexível, dependendo do capote na trilha, não danifica o modelo", explica.

De acordo com Anibal o custo para montar um carro, comprando separadamente as peças, pode chegar a R$ 3.000, isso se a opção for por produtos mais baratos. "As peças são importadas e com o preço do dólar alto, elas acabam ficando mais caras", conta.

Ele faz a ressalva de que quanto mais a pessoa opte em fazer o automodelo replicando os carros reais, mais pode perder desempenho nas trilhas. "Se você faz um modelo em escala parecido com o automóvel, ganha em beleza, em realismo, mas, com certeza perde, em desempenho de trilha."

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Anibal Barros da Fonseca com uma replica da Chevrolet C10 no Horto Florestal - Rubens Cavallari/Folhapress

Ao todo, Anibal já construiu seis modelos. Um deles é a réplica da picape Chevrolet C10, que passou a ser chamada de "Benedita". Existe ainda a "Consuela", também uma C10, a "Vovó", um Ford Panel 58, além do "Shelby", um Mercedes 6x6.

Outro que também gosta de estilizar é o aposentado Alexandre Garcia Voiga, 58, que já personalizou, ao menos, uns dez carros. Ele, contudo, se dedica exclusivamente à produção de bolhas. "Recupero bolhas, refaço algumas ou crio modelos exclusivos", conta.

O aposentado conta que um dia espera se dedicar exclusiva mente a criação de automodelos estilizados para, desta forma, complementar a sua renda. "Um projeto hoje de uma bolha personalizada não sai menos de R$ 1.000", afirma. "Um carro bom aí com todas as peças, você vai gastar em torno de uns R$ 5.000", finaliza.

Serviço

Onde praticar crawler: Parque Estadual Alberto Löfgren - Horto Florestal, na rua do Horto, 931
Horário de início da atividade: 8h30
Ponto de encontro: Estacionamento
Próximo evento: Domingo (17) - Grupo se reúne sempre a cada 15 dias
Investimento inicial estimado: a partir R$ 1.500
Lojas onde é possível comprar: Indicado procurar lojas especializadas em modelismo tais como FAB Modelismo, Competition Hobbies, Point Modelismo, Coimbra Modelismo, Action Modelismo

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