Conselheiros e moradores da zona leste de SP reclamam de problemas na saúde

Entre os apontamentos estão falta de médicos e medicamentos em UBSs

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Mariane Ribeiro
São Paulo

Conselheiros de saúde, moradores da da zona leste da cidade de São Paulo e o Movimento de Saúde da Zona Leste fizeram um protesto contra problemas em UBS e hospitais da região, principalmente em São Miguel Paulista. O ato ocorreu na quinta-feira (11) em frente à Coordenadoria Regional de Saúde Leste. Entre as reclamações estão falta de médicos e remédios.

Segundo os organizadores, o grupo também pretendia entregar um documento com as reivindicações à coordenadora da CRS Leste, mas ela não estava presente no momento da manifestação, apesar de, segundo os manifestantes, ter sido avisada do ato.

PROTESTO CONSELHIEOROS DE SAUDE SAO MIGUEL
Conselheiros de saúde que atuam nas unidades de saúde da Coordenadoria Regional de Saúde Leste, com atenção especial na região de São Miguel Paulista, protestam nesta quinta-feira. Uma das reclamações é que as organizações sociais que administram as UBSs estão trocando médicos contratados por eventuais - Arquivo Pessoal

O grupo com aproximadamente 50 pessoas, se reuniu em frente à unidade com cartazes e, por um período, chegou a fechar parte de uma das faixas da avenida Pires do Rio.

Claudia Afonso de Castro, 62 anos, integrante do Movimento de Saúde da Zona Leste, disse que a região de São Miguel Paulista vem enfrentando há meses problemas com as UBSs (Unidades Básicas de Saúde) que são administradas pela Organização Social de Saúde Santa Marcelina. "A nossa região tem 16 UBSs de estratégia saúde da família e todas estão com menos de 50% da equipe médica", afirma.

Uma equipe de estratégia de saúde da família deve ser composta por um médico, com carga horária de 40 horas semanais, um enfermeiro, um auxiliar ou técnico de enfermagem e agentes comunitários, lembra ela.

Claudia afirma que a reclamação do grupo se dá porque estão sendo contratados médicos plantonistas ou itinerantes, que atuam em regiões diferentes no mesmo dia, para trabalhar nessas equipes.

"Essa situação acaba com um dos pontos principais da estratégia que é ter um médico e uma equipe que tenham vínculo com a comunidade, que conheça bem o território e, assim, possa cuidar melhor da saúde das pessoas", afirma.

Para os manifestantes, o tratamento com esses médicos se assemelha ao que é fornecido em um pronto-socorro. "Você chega hoje e é atendido por um médico e aí, na semana seguinte, já é outro que nunca lhe viu e que não sabe da sua história. Não há continuidade ou acompanhamento."

Segundo a organizadora do protesto, o problema nas UBSs tem refletido em outros equipamentos de saúde da região. "Quando a pessoa vê que está sem médico, ela vai procurar atendimento em outro lugar. Aí os hospitais ficam cheios. A UPA de São Miguel mesmo tem tido filas de horas para o atendimento."

Outro ponto levantado no protesto é a falta de medicamentos em diversas unidades. Os conselheiros da região afirmam que há problemas constantes no abastecimento de remédios básicos para tratamentos de doenças crônicas como hipertensão, diabetes, asma e também para outros tipos de casos como antialérgicos e antibióticos.

Claudia diz ainda que alguns hospitais da região viraram referência para o tratamento de Covid-19 durante a pandemia e que, por isso, diversas especialidades deixaram de ser atendidas. O Hospital Municipal Tide Setúbal, por exemplo, segundo ela, deixou de atender saúde mental, ortopedia e ainda não retomou a normalidade. "Os pacientes até foram encaminhados para um hospital em Itaquera [zona leste], que já tinha muito movimento e, mais tarde, passou a receber casos de Covid também."

Ela aponta que tem sido difícil para a população da região conseguir atendimento na área de saúde mental. "O Hospital de Ermelino Matarazzo, o Professor Alípio Corrêa Neto, por exemplo, desativou a os leitos que tinha no 5º andar para tratamento desses pacientes", afirma Claudia.

Os manifestantes também reclamam da retirada do Ipepo (Instituto Paulista de Estudos e Pesquisa em Oftalmologia) de dentro do Hospital Dia da rede Hora Certa São Miguel. Segundo eles, a mudança ocorreu quando a OSS Santa Marcelina passou a administrar o hospital.

"Aqui o Ipepo tinha um centro cirúrgico em que eram realizadas inúmeras cirurgias de catarata. Agora, ele foi passado para uma unidade deles em Itaquera onde não há centro cirúrgico", afirma Claudia. Moradores reclamam que agora precisam enfrentar grandes filas para conseguir realizar as cirurgias.

Resposta

Em nota, Coordenadoria Regional de Saúde Leste diz que estava definida uma agenda para o próximo dia 23 de novembro com os representantes do conselho gestor de saúde da região para a devolutiva das considerações apontadas.

A CRS afirma que foi solicitada ao conselho gestor a criação de uma comissão para acompanhar as adequações e construção do novo espaço do serviço. No local, existe uma área cedida no Parque Linear do Jardim Helena para instalação dos consultórios da UBS Jardim Helena, até a construção da nova unidade. "O parque está localizado na mesma rua da atual UBS e tanto funcionários quanto usuários terão garantida a continuidade do acesso."

Com relação ao Hospital Dia São Miguel, a Organização Social de Saúde Santa Marcelina, que administra a unidade, diz que o local, por meio do departamento da atenção primária, realizou 7.754 consultas de especialistas, 7.195 exames de apoio diagnóstico e 809 cirurgias em outubro.

A OSS afirma ainda que realizou a aquisição dos medicamentos e insumos para uso interno da UPA (Unidade de Pronto Atendimento) Tito Lopes, sem histórico de desabastecimento.

A organização social assumiu a gestão do HD São Miguel e a Secretaria Municipal da Saúde diz que a transição foi negociada junto ao Ipepo (Instituto Paulista de Estudos e Pesquisas em Oftalmologia) para a realocação do serviço em prédio próprio sediado na região de Itaquera. "Até as adequações necessárias, alguns procedimentos cirúrgicos são realizados nas outras sedes, sem prejuízo na assistência à população", afirma a pasta da gestão Ricardo Nunes (MDB).

A CRS Leste diz que os medicamentos de uso contínuo estão em processo de compra e que são realizados remanejamentos entre unidades de saúde, quando necessário.

"O Hospital Municipal Tide Setúbal está focado no atendimento aos pacientes com a Covid-19. Além disso, com a queda dos casos da doença na cidade, a unidade está em transição para atendimento de outras doenças, assim como o Hospital Municipal Dr. Ignácio Proença de Gouvêa que já atende outros casos. Nesta fase da pandemia, a gestão municipal monitora as taxas de transmissão do vírus na cidade para que novas medidas sejam adotadas, ampliando cada vez mais os atendimentos", afirma.

"Os leitos psiquiátricos do Hospital Municipal Prof. Dr. Alípio Correa Netto – Ermelino Matarazzo foram transferidos para o Hospital Municipal Prof. Waldomiro de Paula, ambos ficam na zona leste da capital", diz a secretaria, afirmando que os leitos do Ermelino Matarazzo foram adaptados para maternidade, com atendimento integral às gestantes da região.

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