O motoboy atropelado durante uma briga de trânsito em Campinas, no interior de São Paulo, no domingo (21), já passou uma cirurgia no fêmur e continua internado para realizar dois novos procedimentos. Rafael Fagnani Sampaio Ferraz, 36 anos, foi vítima de uma briga de trânsito na qual ele não participava (leia mais abaixo).
Segundo Priscila Ferraz, de 33 anos, mulher de Rafael, ele deu entrada no Hospital da Unicamp com fratura exposta do fêmur, além de ter quebrado a clavícula, um braço e ter perdido os dentes da frente.
"Ele já fez uma primeira cirurgia na perna, colocou aqueles ferros, mas ainda precisa fazer uma segunda cirurgia na perna e uma no braço", afirma Priscila.
Ela explica, porém, que não há previsão de quando essas outras cirurgias serão realizadas. "Falei com o médico ontem e ele disse que temos que esperar porque é tipo uma fila; se chegar uma emergência de gente de idade, eles dão preferência, e assim vai até sair uma vaga para ele fazer essas outras cirurgias."
Priscila afirma que o marido está "pagando o preço por uma briga que ele não tinha nada a ver" e que o rapaz estava trabalhando no momento que tudo aconteceu.
Segundo ela, Rafael contou que estava descendo a rua, quando viu um carro dando ré na direção de umas motos, mas que, como não sabia o que estava acontecendo, decidiu seguir.
"Ele diz que pulou o canteiro e foi para a rota que ele tinha que ir. Chegando na rua de baixo, ele parou para conferir o trajeto no celular. Aí, ele diz que foi só o tempo de olhar para olhar o celular, que ele já ouviu um barulho e viu o carro vindo para cima dele", afirma a esposa do motoboy.
Quem socorreu Rafael num primeiro momento foi a artista visual Bruna Labaki Zuccato, 26 anos. O rapaz foi atropelado em frente à casa dela, que se assustou com o barulho e saiu para ver o que estava acontecendo.
"A gente ouviu o barulho da batida, barulho de pneu cantando e saímos na rua para ver o que era. Nos deparamos com o Rafael no chão, a moto destruída e o capacete cheio de sangue", afirma Bruna.
A jovem conta que chamaram o Samu e a polícia.
"Rafael estava num estado muito debilitado, com várias fraturas expostas, não conseguia falar porque perdeu vários dentes. Logo a polícia chegou e ele só tentava falar que não sabia por que o moço tinha atropelado ele", afirma a artista.
Preocupação
Priscila Ferraz conta que ficou sabendo do acidente sofrido pelo marido por um bombeiro, após horas tentando se comunicar com ele.
"Estava tentando falar com ele desde as 14h30 porque, como trabalhar de moto é muito perigoso, eu sempre fico preocupada", diz.
Ela afirma que a situação foi a deixando ainda mais preocupada porque o marido sempre responde imediatamente, quando ela manda mensagem. "Fui ficando mais preocupada e ligando mais vezes até que, por volta das 17h, um bombeiro me atendeu e contou o que tinha acontecido. O telefone do Rafael tinha ficado caído na ambulância", afirma Priscila.
A mulher está desempregada no momento e conta que o trabalho do marido como motoboy sustenta o casal e os três filhos. Um deles, o mais velho, de 14 anos, foi diagnosticado há seis meses com diabetes e faz uso de um medicamento que não é fornecido pelo estado.
"A insulina que ele usa é comprada porque a que é fornecida no posto não estava normalizando a diabete dele. Não estava fazendo o efeito que precisava para ele. Então a que ele usa agora custa R$ 220 uma dose", diz.
A situação da família comoveu Bruna, que decidiu criar uma vaquinha online para ajudar Priscila, Rafael e os filhos.
"Tivemos essa ideia de fazer a vaquinha depois que familiares dele vieram aqui buscar a mochila que tinha ficado para trás. Estipulamos uma meta de R$ 30 mil e, em menos de 24 horas, passamos de 50% desse valor. Não estou nem acreditando!", diz a artista visual.
Priscila se diz muito grata pela ajuda que tem recebido e conta que tranquilizou o marido, que, mesmo internado, estava preocupado com a situação financeira da família.
"Ele estava preocupado com isso, preocupado com a gente aqui fora. Mas eu falei para ele que estamos recebendo várias ajudas, que estamos bem, e que ele deve é agradecer a Deus por estar vivo, porque o acidente foi feio."
Investigação
A confusão que culminou no atropelamento do motoboy Rafael Fagnani Sampaio Ferraz está sendo investigada no 4º DP da cidade de Campinas.
Segundo a Secretaria de Segurança Pública, são apurados os crimes de homicídio doloso tentado, periclitação de vida e danos.
No domingo (21), o motorista de uma Mitsubishi Pajero discutiu com um motociclista na avenida Almeida Garret, no bairro Parque Taquaral. As imagens mostram que, após alguns minutos, o rapaz agride o motorista com o capacete. A partir daí, o motorista avança com o carro para cima do rapaz da moto que o agrediu, tentando atropelá-lo por diversas vezes. Há ainda um momento em que os dois entram em luta corporal.
Segundo a polícia, quando o motorista resolver partir, um segundo motorista, que passava pelo local e viu a confusão, decidiu ir atrás do homem para tirar satisfação.
O motorista da Pajero e este segundo motoboy discutiram e, segundo o rapaz, o motorista começou a persegui-lo.
Ainda segunda a polícia, outros motoboys teriam se juntado a ele e, em meio à confusão, uma caminhonete Toyota Hilux avançou para cima do grupo e depois atropelou, Rafael que estava mais a frente na rua.
Segundo o delegado assistente Antônio Nishida, os dois motoboys já foram ouvidos e a Mitsubishi Pajero foi apreendida nesta terça-feira (23).
Ele também afirmou que a polícia aguarda a recuperação de Rafael para ouvi-lo.
Sobre o segundo motorista, que conduzia a Hilux, o delegado afirmou que a polícia já conseguiu identificar quem o proprietário do carro e que agora o grupo trabalha para saber quem estava dirigindo o veículo no momento do atropelamento de Rafael.
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