3 em cada 4 vereadores que se reelegeram perderam votos em São Paulo
Parlamentares avaliam que alto número de abstenções (29,29%) influenciou no resultado eleitoral para a câmara municipal paulistana
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Três a cada quatro vereadores reeleitos na capital tiveram uma redução no número de votos recebidos neste ano na comparação com 2016. Ao todo, 34 parlamentares da cidade serão reconduzidos ao cargo a partir de 2021. Destes, 26 receberam votação inferior à do último pleito municipal.
Juntos, os 34 políticos reeleitos foram escolhidos por 1,229 milhão de eleitores neste ano, uma queda de 22,3% na comparação com 2016, quando esse mesmo grupo recebeu 1,582 milhão de votos. Vereadores ouvidos pela reportagem classificam que a pandemia de Covid-19 e o alto percentual de abstenções (29,29%) provocaram a diminuição de seus eleitorados.
"Pela primeira vez, eu fiz a campanha inteiramente da minha residência, atendendo às recomendações do meu médico. Portanto, eu não pude ir às ruas para ter um diálogo com a população, como eu sempre fiz", comenta Eduardo Suplicy (PT), que, com 79 anos, é considerado grupo de risco para a Covid-19. Apesar de ter se mantido como o candidato mais votado da capital, seu eleitorado teve uma queda de 44,4%.
Vereador desde 2004, Adilson Amadeu (DEM) avalia ter sido impactado pelas abstenções. "Houve um número grande de idosos que não foram votar. E eu tenho um público antigo, idoso", afirma. Na opinião dele, dificilmente os votos são mantidos pelas gerações seguintes. "Os filhos [dos idosos] têm outra cabeça e votaram em outra pessoa."
Entre os oito parlamentares reeleitos que tiveram aumento no eleitorado está Fernando Holiday (Patriota), cuja votação cresceu 40,9%, passando de 48.055 para 67.715. Ele também enxerga as abstenções como fator de influência para a eleição deste ano, mas cita uma mudança no perfil de quem votou.
"O eleitorado que foi às urnas é, em sua maioria, bem mais seletivo. Aparentemente são pessoas que pesquisaram mais e que buscaram mais novidades e mais representatividade", analisa. Para Holiday, sua candidatura se enquadra nesse perfil, pois considera ter um eleitorado "mais engajado" no campo político da direita.
A cientista polícia Roseli Coelho, professora da FESPSP (Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo) acredita que as novas candidaturas "deslocaram para baixo" políticos mais tradicionais.
"Tenho impressão que a eleição em São Paulo está em parte movida pela novidade. Vejo isso na candidatura do [Guilherme] Boulos [do PSOL]. É mais do que uma identificação ideológica, é apostar em alguém que é novidade", diz a especialista.
Políticos não reeleitos criticam aumento nas candidaturas
Vereadores que não conseguiram se reeleger consideram que o aumento no número de candidaturas é um dos fatores que contribuíram para a mudança no cenário político da capital. Em 2016, 1.315 pessoas concorreram ao cargo de vereador na cidade. Neste ano, foram 2.002 - um aumento de 52,4%.
Para Soninha Francine (Cidadania), o número elevado de candidatos "dispersa demais a representatividade". A parlamentar teve uma queda de 66,7% em seu eleitorado, que passou de 40.113 para 13.338. "Eu não tenho só 13 mil eleitores. Não tem o que explique eu perder tantos votos", desabafa.
Outro fator citado pelos parlamentares é o aumento na polarização do debate político no Brasil. "O centro, centro-esquerda e centro-direita diminuíram. [Entre os eleitos] tem mais gente para o PSOL e para o lado da direita", comenta Daniel Annenberg (PSDB), que ficou como segundo suplente do partido.
"O voto que não é bem marcado de território, categoria ou bandeira intensificada se divide", acrescenta Soninha. Outros vereadores tradicionais da cidade como Mario Covas Neto (Podemos) e José Police Neto (PSD) também não conseguiram a reeleição.
"Foi uma eleição de bandeiras, da representatividade trans, LGBTQI+, das mulheres, do combate ao racismo. Vejo que a eleição municipal antecipa o movimento que pode indicar o cenário para daqui a dois anos", analisa Caio Miranda Carneiro (DEM).
Vereadores reeleitos que perderam votos
Candidato | Eleição de 2016 | Eleição de 2020 | Variação |
---|---|---|---|
Eduardo Suplicy (PT) | 301.446 | 167.552 | -44,42% |
Eduardo Tuma (PSDB) | 70.273 | 40.270 | -42,69% |
Atilio Francisco (Republicanos) | 46.961 | 35.345 | -24,74% |
João Jorge (PSDB) | 42.404 | 34.323 | -19,06% |
Donato (PT) | 32.592 | 31.920 | -2,06% |
Rodrigo Goulart (PSD) | 49.364 | 31.472 | -36,25% |
Adilson Amadeu (DEM) | 67.071 | 30.549 | -54,45% |
Tripoli (PSDB) | 88.843 | 30.495 | -65,68% |
Jair Tatto (PT) | 30.989 | 29.918 | -3,46% |
Dra. Sandra Tadeu (DEM) | 34.182 | 28.464 | -16,73% |
Juliana Cardoso (PT) | 34.949 | 28.402 | -18,73% |
George Hato (MDB) | 26.104 | 25.599 | -1,93% |
Aurélio Nomura (PSDB) | 41.954 | 25.316 | -39,66% |
Senival Moura (PT) | 45.320 | 25.311 | -44,15% |
Alfredinho (PT) | 36.324 | 25.159 | -30,74% |
Arselino Tatto (PT) | 26.596 | 25.021 | -5,92% |
Fabio Riva (PSDB) | 28.041 | 24.739 | -11,78% |
Isac Félix (PL) | 25.876 | 23.929 | -7,52% |
Camilo Cristófaro (PSB) | 29.603 | 23.431 | -20,85% |
Ricardo Teixeira (DEM) | 28.515 | 23.280 | -18,36% |
Edir Sales (PSD) | 39.062 | 23.106 | -40,85% |
Gilberto Nascimento Jr. (PSC) | 30.382 | 22.659 | -25,42% |
Eliseu Gabriel (PSB) | 52.355 | 21.122 | -59,66% |
Dr. Milton Ferreira (Podemos) | 21.849 | 20.126 | -7,89% |
Paulo Frange (PTB) | 29.242 | 17.796 | -39,14% |
Rinaldi Digilio (PSL) | 20.916 | 13.673 | -34,63% |
Vereadores reeleitos que ganharam mais votos
Candidato | Eleição de 2016 | Eleição de 2020 | Variação |
---|---|---|---|
Milton Leite (DEM) | 107.957 | 132.716 | 22,93% |
Fernando Holiday (Patriota) | 48.055 | 67.715 | 40,91% |
André Santos (Republicanos) | 37.393 | 41.584 | 11,21% |
Rute Costa (PSDB) | 33.999 | 41.546 | 22,20% |
Alessandro Guedes (PT) | 26.780 | 31.124 | 16,22% |
Janaína Lima (Novo) | 19.425 | 30.931 | 59,23% |
Celso Gianazzi* (PSOL) | 12.139 | 28.535 | 135,07% |
Toninho Vespoli (PSOL) | 16.012 | 26.748 | 67,05% |
* Ficou como suplente após a eleição de 2016 e assumiu mandato durante a legislatura