3 em cada 4 vereadores que se reelegeram perderam votos em São Paulo

Parlamentares avaliam que alto número de abstenções (29,29%) influenciou no resultado eleitoral para a câmara municipal paulistana

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São Paulo

Três a cada quatro vereadores reeleitos na capital tiveram uma redução no número de votos recebidos neste ano na comparação com 2016. Ao todo, 34 parlamentares da cidade serão reconduzidos ao cargo a partir de 2021. Destes, 26 receberam votação inferior à do último pleito municipal.

Juntos, os 34 políticos reeleitos foram escolhidos por 1,229 milhão de eleitores neste ano, uma queda de 22,3% na comparação com 2016, quando esse mesmo grupo recebeu 1,582 milhão de votos. Vereadores ouvidos pela reportagem classificam que a pandemia de Covid-19 e o alto percentual de abstenções (29,29%) provocaram a diminuição de seus eleitorados.

Apesar da queda no número de eleitores, vereador Eduardo Suplicy (PT) se manteve como o candidato mais bem votado da capital - Ze Carlos Barretta - 26-mar.19/Folhapress

"Pela primeira vez, eu fiz a campanha inteiramente da minha residência, atendendo às recomendações do meu médico. Portanto, eu não pude ir às ruas para ter um diálogo com a população, como eu sempre fiz", comenta Eduardo Suplicy (PT), que, com 79 anos, é considerado grupo de risco para a Covid-19. Apesar de ter se mantido como o candidato mais votado da capital, seu eleitorado teve uma queda de 44,4%.

Vereador desde 2004, Adilson Amadeu (DEM) avalia ter sido impactado pelas abstenções. "Houve um número grande de idosos que não foram votar. E eu tenho um público antigo, idoso", afirma. Na opinião dele, dificilmente os votos são mantidos pelas gerações seguintes. "Os filhos [dos idosos] têm outra cabeça e votaram em outra pessoa."

Entre os oito parlamentares reeleitos que tiveram aumento no eleitorado está Fernando Holiday (Patriota), cuja votação cresceu 40,9%, passando de 48.055 para 67.715. Ele também enxerga as abstenções como fator de influência para a eleição deste ano, mas cita uma mudança no perfil de quem votou.

"O eleitorado que foi às urnas é, em sua maioria, bem mais seletivo. Aparentemente são pessoas que pesquisaram mais e que buscaram mais novidades e mais representatividade", analisa. Para Holiday, sua candidatura se enquadra nesse perfil, pois considera ter um eleitorado "mais engajado" no campo político da direita.

Vereador reeleito Fernando Holiday (Patriota) teve aumento de 40,9% no número de votos na comparação com a eleição de 2016 - André Bueno - 5.set.19/ Divulgação CMSP

A cientista polícia Roseli Coelho, professora da FESPSP (Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo) acredita que as novas candidaturas "deslocaram para baixo" políticos mais tradicionais.

"Tenho impressão que a eleição em São Paulo está em parte movida pela novidade. Vejo isso na candidatura do [Guilherme] Boulos [do PSOL]. É mais do que uma identificação ideológica, é apostar em alguém que é novidade", diz a especialista.

Políticos não reeleitos criticam aumento nas candidaturas

Vereadores que não conseguiram se reeleger consideram que o aumento no número de candidaturas é um dos fatores que contribuíram para a mudança no cenário político da capital. Em 2016, 1.315 pessoas concorreram ao cargo de vereador na cidade. Neste ano, foram 2.002 - um aumento de 52,4%.

Com 13,3 mil votos, vereadora Soninha Francine (Cidadania) não conseguiu ser reeleita para novo mandato na Câmara - Fabio Braga - 10.nov.16/Folhapress

Para Soninha Francine (Cidadania), o número elevado de candidatos "dispersa demais a representatividade". A parlamentar teve uma queda de 66,7% em seu eleitorado, que passou de 40.113 para 13.338. "Eu não tenho só 13 mil eleitores. Não tem o que explique eu perder tantos votos", desabafa.

Outro fator citado pelos parlamentares é o aumento na polarização do debate político no Brasil. "O centro, centro-esquerda e centro-direita diminuíram. [Entre os eleitos] tem mais gente para o PSOL e para o lado da direita", comenta Daniel Annenberg (PSDB), que ficou como segundo suplente do partido.

"O voto que não é bem marcado de território, categoria ou bandeira intensificada se divide", acrescenta Soninha. Outros vereadores tradicionais da cidade como Mario Covas Neto (Podemos) e José Police Neto (PSD) também não conseguiram a reeleição.

"Foi uma eleição de bandeiras, da representatividade trans, LGBTQI+, das mulheres, do combate ao racismo. Vejo que a eleição municipal antecipa o movimento que pode indicar o cenário para daqui a dois anos", analisa Caio Miranda Carneiro (DEM).

Vereadores reeleitos que perderam votos

Candidato Eleição de 2016 Eleição de 2020 Variação
Eduardo Suplicy (PT) 301.446 167.552 -44,42%
Eduardo Tuma (PSDB) 70.273 40.270 -42,69%
Atilio Francisco (Republicanos) 46.961 35.345 -24,74%
João Jorge (PSDB) 42.404 34.323 -19,06%
Donato (PT) 32.592 31.920 -2,06%
Rodrigo Goulart (PSD) 49.364 31.472 -36,25%
Adilson Amadeu (DEM) 67.071 30.549 -54,45%
Tripoli (PSDB) 88.843 30.495 -65,68%
Jair Tatto (PT) 30.989 29.918 -3,46%
Dra. Sandra Tadeu (DEM) 34.182 28.464 -16,73%
Juliana Cardoso (PT) 34.949 28.402 -18,73%
George Hato (MDB) 26.104 25.599 -1,93%
Aurélio Nomura (PSDB) 41.954 25.316 -39,66%
Senival Moura (PT) 45.320 25.311 -44,15%
Alfredinho (PT) 36.324 25.159 -30,74%
Arselino Tatto (PT) 26.596 25.021 -5,92%
Fabio Riva (PSDB) 28.041 24.739 -11,78%
Isac Félix (PL) 25.876 23.929 -7,52%
Camilo Cristófaro (PSB) 29.603 23.431 -20,85%
Ricardo Teixeira (DEM) 28.515 23.280 -18,36%
Edir Sales (PSD) 39.062 23.106 -40,85%
Gilberto Nascimento Jr. (PSC) 30.382 22.659 -25,42%
Eliseu Gabriel (PSB) 52.355 21.122 -59,66%
Dr. Milton Ferreira (Podemos) 21.849 20.126 -7,89%
Paulo Frange (PTB) 29.242 17.796 -39,14%
Rinaldi Digilio (PSL) 20.916 13.673 -34,63%

Vereadores reeleitos que ganharam mais votos

Candidato Eleição de 2016 Eleição de 2020 Variação
Milton Leite (DEM) 107.957 132.716 22,93%
Fernando Holiday (Patriota) 48.055 67.715 40,91%
André Santos (Republicanos) 37.393 41.584 11,21%
Rute Costa (PSDB) 33.999 41.546 22,20%
Alessandro Guedes (PT) 26.780 31.124 16,22%
Janaína Lima (Novo) 19.425 30.931 59,23%
Celso Gianazzi* (PSOL) 12.139 28.535 135,07%
Toninho Vespoli (PSOL) 16.012 26.748 67,05%

* Ficou como suplente após a eleição de 2016 e assumiu mandato durante a legislatura

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