O ex-jogador Walter Casagrande Júnior, 57 anos, comentarista de futebol da TV Globo, questionou publicamente, em uma rede social, quais políticas de tratamento para dependentes químicos serão implementadas pelos dois candidatos à Prefeitura de São Paulo, que foram para o segundo turno das eleições municipais.
No texto, publicado nesta segunda-feira (16), Casão afirma ser dependente químico em recuperação e, para que isso acontecesse, ficou internado por aproximadamente um ano.
"Sei que os tratamentos eficazes são caros e nem todos têm essa condição. Você [candidato] tem algum projeto para ajudar os dependentes químicos, principalmente os da Cracolândia [?]", escreveu Casagrande aos candidatos Bruno Covas (PSDB) e Guilherme Boulos (PSOL) no Twiter..
Após interpelar os dois candidatos, Casão postou outro texto em que afirma ser "uma preocupação particular" saber as propostas de ambos sobre o tema da dependência química em São Paulo, "cidade [em] que nasci, amo, moro e morei grande parte da minha vida", escreveu.
Casão jogou no Corinthians, time onde se consagrou na década de 1980, ajudando a conquistar os campeonatos paulistas de 1982 e 1983. Ele também compôs, junto com Sócrates, outro ídolo do Timão, a chamada "Democracia Corinthiana", movimento que lutou pela retomada democrática no país, após a ditadura militar, e mudou o comportamento do clube em relação aos jogadores na época.
No próprio Twitter, ambos os candidatos responderam a Casagrande. O primeiro foi Guilherme Boulos, que foi para o segundo turno com 20,24% dos votos válidos na capital paulista.
Ele agradeceu ao questionamento, afirmando que a cracolândia “é um problema complexo”, envolvendo questões como saúde, moradia e geração de renda.
Sobre a saúde, Boulos afirmou pretender lidar com a questão com um programa de redução de danos, usando como exemplo outros países. “Vamos criar CAPS [Centros de Atenção Psicossocial] móvel na região [central], com atendimento permanente, e tendo na internação um último recurso.”
Boulos disse ainda na rede social pretender criar casas de acolhimento aos dependentes químicos, chamadas por ele de “Casas Solidárias”, com a presença de assistentes sociais.
A última proposta do candidato, respondida a Casagrande, é sobre geração de renda “que pode ser para muitos [dependentes] a porta de saída [das drogas]. Por isso, vamos criar frentes de trabalho, dando oportunidade das pessoas trabalharem em serviços de zeladoria da cidade”, finalizou Boulos.
Covas, que disputa a reeleição, também respondeu ao questionamento de Casagrande na própria rede social. O tucano mencionou ações promovidas pela sua gestão. “Sei que o problema da dependência – seja de álcool ou drogas – afeta muitas pessoas, destrói vidas e famílias. E é muito importante que a Prefeitura ajude a enfrentar esse desafio ”, escreveu ele, que foi para o segundo turno com 32,85% dos votos válidos.
"Para isso, criamos o Programa Redenção, com 8 Serviços Integrados de Acolhida Terapêutica em diversas regiões da cidade, que oferecem diversos tipos de tratamentos para dependentes químicos, respeitando a necessidade de cada um deles. Foram realizados 2,9 milhões de atendimentos", prosseguiu.
Covas também disse que internação hospitalar é uma possibilidade. "Fica aqui minha admiração pelo jogador, comentarista e, principalmente, pelo cidadão que é. Reconheço sua coragem e seu testemunho pessoal", afirmou.
Casagrande agradeceu aos dois pelo Twitter.
A luta de Casagrande com as drogas
O jornalista Gilvan Ribeiro conhece Casão desde a década de 1980. Ele escreveu junto com o comentarista uma trilogia em que é narrada a luta do ex-jogador para vencer o vício com drogas e álcool.
Ribeiro afirmou que Casão sempre se incomodou com a falta de políticas públicas com relação à dependência química, ou com a precariedade das que existem.
“Ele valoriza muito a democracia e a luta contra a dependência química. A ideia dele ao cobrar os políticos [na rede social] creio que foi uma forma de participar do processo democrático, levantando uma questão cara para ele [dependência química];”
Em 2013, o jornalista Gilvan Ribeiro e Casão lançaram “Casagrande e Seus Demônios”. Três anos depois, foi a vez de “Sócrates e Casagrande, uma história de amor”. A trilogia foi fechada, em junho deste ano, com a publicação de "Travessia". Todos os livros saíram pela Globo Livros.
Procurado pela reportagem, Casagrande não se manifestou.
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