Na contramão da vida

O presidente Jair Bolsonaro (PSL) foi pessoalmente ao Congresso entregar um projeto que alivia as punições a quem infringe as leis de trânsito.

Trânsito na Marginal Tiete, em São Paulo - Rivaldo Gomes - 3.jun.19/Folhapress

As propostas deixaram os especialistas no assunto de cabelo em pé. Afinal, o trânsito no Brasil já é um dos mais violentos do mundo: cerca de 37 mil pessoas morreram só em 2016.

Entre as mudanças sugeridas por Bolsonaro está a que amplia, de 20 para 40, o limite de pontos por multas que leva à suspensão da carteira de motorista. 

O presidente não apresentou nenhum argumento técnico. Disse apenas que "alcançar 20 pontos está cada vez mais comum na conjuntura brasileira". 

A intenção, na verdade, é agradar os caminhoneiros, categoria aliada, mas que têm pressionado o governo.

Outro afago é a ideia de acabar com a obrigatoriedade de exames toxicológicos para que motoristas profissionais tirem e renovem as suas habilitações.

O maior absurdo disso tudo talvez seja o fim das punições a quem desrespeitar as regras de transporte de crianças em automóveis. Hoje, a falta de cadeirinha é infração gravíssima, sujeita a multa mínima de R$ 293,47, perda de sete pontos na CNH e retenção do veículo.

Na proposta do presidente, as sanções seriam substituídas por uma simples "advertência por escrito". Acontece que a cadeirinha salva vidas. Estudo nos EUA apontou que o uso do equipamento reduziu as mortes de bebês em 71%. 

Não há dúvida de que o país tem questões mais urgentes e menos descabidas para tratar. Resta contar com o bom senso do Congresso para consertar ou derrubar o projeto --ou, se isso falhar, com a esperança de que bons motoristas sejam maioria e sigam no caminho certo.

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.