Sem cheque em branco

Mais uma vez o Datafolha mostra que a maioria da população discorda de ideias defendidas com unhas e dentes pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL) e seus eleitores mais fiéis. 

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O presidente Jair Bolsonaro, acompanhado de deputados favoráveis à flexibilização do controle de armas, durante assinatura de decreto presidencial - Pedro Ladeira - 7.mai.19/Folhapress

O exemplo mais claro é a confusa tentativa de ampliar o direito ao porte e à posse de armas. O presidente assinou diferentes decretos para alterar as regras. Porém, ao perceber que não conseguiria mantê-los de pé, recuou. 

Os números indicam que a medida não contava mesmo com a simpatia das ruas. Hoje, mais brasileiros apoiam a proibição da posse de armas. Em junho de 2017, 55% deles pensavam dessa maneira. Neste mês de julho, já são 66%. 

Resultado semelhante ocorre em relação ao projeto de lei que visa facilitar o porte. Ao todo, 70% são contra o texto, enviado pelo governo ao Congresso após o fiasco dos decretos. 

Também estão em baixa os planos para facilitar a vida de infratores no trânsito. A proposta de remover radares de velocidade das estradas e a de pôr fim à multa para quem transporta crianças fora de cadeirinhas têm desaprovação de 67% e 68%, respectivamente.

A rejeição ao aumento do limite de pontos que leva à perda da carteira de habilitação é menor, atingindo 56%. Ainda assim, dá mais de metade do total. 

Um presidente não deve fazer só o que quer a maioria. Às vezes, algumas medidas duras e impopulares são necessárias para evitar problemas ainda piores. Mas isso não vale para esses temas. 

É difícil acreditar que o maior acesso a armas vai melhorar a segurança pública. No caso das regras de trânsito, os perigos são ainda mais claros. Nem o próprio Bolsonaro, aliás, parece empenhado em convencer quem discorda dele.

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