Farra no tribunal

O Judiciário brasileiro parece não ter limites quando se trata de conceder privilégios a si próprio. Como se não fizesse parte de um país que ainda luta para superar a pobreza e a crise das contas públicas, o Tribunal de Justiça de Pernambuco resolveu torrar uma fortuna com parte de seus membros.

No mês passado, dos 53 desembargadores na folha de pagamento, 25 deles receberam acima de R$ 200 mil líquidos (já considerados os descontos obrigatórios); 13 ganharam mais de R$ 300 mil; 4, de R$ 400 mil, e 1, além de R$ 600 mil. Assim, a média dos valores recebidos pela turma foi de assustadores R$ 206,4 mil. 

Quando se acrescentam os juízes à lista, 30,3% dos 699 magistrados do tribunal receberam acima de R$ 100 mil. No caso mais escandaloso, uma juíza embolsou nada menos que R$ 853 mil. 

Segundo o TJ, a gastança decorre do pagamento de "vantagens eventuais", como férias acumuladas e penduricalhos de todo tipo --regalias imorais para uma categoria cujos vencimentos já a colocam no 1% mais rico da nação.

Como se não bastasse, a farra teve a ajuda do governador pernambucano, Paulo Câmara (PSB), que apresentou um projeto de lei para liberar toda a grana envolvida. Para piorar a história, a mulher dele estava entre as beneficiárias.

Atitudes como essa revelam um corporativismo inaceitável do Judiciário, além de clara falta de espírito republicano. É impressionante como um governo estadual cede a esse tipo de demanda. 

Num momento em que setores da sociedade se sacrificam, como parte dos já aposentados e dos trabalhadores que ainda pretendem se aposentar, o TJ de Pernambuco mostra que falta à instituição o que mais se esperava dela: juízo.

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.