Abaixo do mínimo

Num país tão desigual como o Brasil, a política de correção do salário mínimo mexe com a vida de muita gente. Atualmente, quase 28 milhões de pessoas recebem do poder público benefícios previdenciários e assistenciais no valor do piso, ou R$ 1.045 mensais.

Ninguém vai dizer que isso é muita grana, claro, mas já foi muito menos. De 1995, no governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB), até 2014, no final do primeiro mandato de Dilma Rousseff (PT), houve uma política clara de valorização.

Para se ter uma ideia, o mínimo não passava de R$ 70 no final de 1994, o que equivale hoje a apenas R$ 371.

Na maior parte desta década, vigorou a política de aumentar o piso de acordo com o crescimento da economia, além da inflação acumulada. Com a crise do segundo mandato de Dilma, essa regra deixou de proporcionar bons reajustes.

Mesmo assim, o governo Jair Bolsonaro decidiu que não dá mais para prometer ganhos para o mínimo. Por um bom tempo, deve ser a inflação e só. O motivo é a pindaíba dos cofres públicos.

Pelas contas oficiais, cada R$ 1 a mais no piso custa R$ 355 milhões por ano em benefícios como aposentadorias, pensões, auxílios, seguro-desemprego e abono salarial. A alta de R$ 998 para R$ 1.045, portanto, vai custar uns R$ 16,7 bilhões neste ano para a União —e ainda há os estados e prefeituras.

O governo precisa consertar logo suas contas e parar de atrapalhar o crescimento da economia. Enquanto isso, deve tratar de atender pelo menos os mais pobres, pois existe gente que nem o mínimo ganha. O Bolsa Família deveria ganhar prioridade, mas a gestão de Bolsonaro ainda não parece dar a devida atenção a esse programa.

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