Loteria da chuva

Todos os anos, as chuvas de verão trazem incontáveis transtornos para os moradores da cidade de São Paulo. Ruas e avenidas se tornam intransitáveis; casas e estabelecimentos comerciais são varridos pela enxurrada; túneis e viadutos terminam inundados —e isso quando não acontecem tragédias humanas.

Tão costumeira quanto o aguaceiro, a incompetência municipal faz com que o tamanho da desgraça dependa mais do volume das águas que baixa dos céus do que da prevenção realizada em terra.

Há mais de cinco anos, por exemplo, a cidade mais rica do país aguarda a estratégia de redução de riscos, uma exigência do Plano Diretor aprovado em 2014. 

O documento deverá definir as obras estruturais prioritárias, além de medidas de segurança e proteção, tanto das áreas sob perigo de inundação, deslizamento e solapamento como das pessoas que vivem nessas regiões, fixando prazos para cumprir as diretrizes.

O último mapeamento de risco geológico da cidade, feito há uma década, identificou 407 áreas sob ameaça e ao menos 29 mil famílias vivendo em regiões de risco alto ou muito alto. 

O atraso na elaboração de um plano capaz de lidar com essa realidade motivou a abertura de um inquérito por parte do Ministério Público paulista. A gestão Bruno Covas (PSDB) ainda não respondeu as cobranças a contento.

Das 17 grandes obras de drenagem hoje em curso, 14 já deveriam estar prontas, caso as previsões estipuladas pela administração tucana e a anterior, petista, tivessem sido cumpridas.

Enquanto os políticos culpam sempre os adversários, o paulistano, sobretudo o mais pobre, só conta com a sorte para escapar das tormentas de verão.

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