Antes de chefiar o Ministério da Saúde, o médico Luiz Henrique Mandetta foi deputado (DEM-MS) por dois mandatos. Nestas semanas de emergência, por causa da sua atuação técnica, a carreira política vinha passando despercebida. Mas o próprio Mandetta se encarregou de alertar os brasileiros sobre ela.
"Eu sou político, eu sou político, não se esqueçam disso", disse a prefeitos no domingo (22). "Eleição no meio deste ano é uma tragédia. Vai todo mundo querer fazer ação política."
Além de querer adiar as eleições municipais de outubro, o ministro propôs ao Congresso dar de presente aos milhares de prefeitos e vereadores atuais um mandato-tampão. Alguém duvida de que eles adorariam a ideia de ganhar uma estadia extra no cargo mesmo sem ter os votos dos eleitores para isso?
Até aqui, Mandetta colheu aplausos por seu trabalho. Segundo o Datafolha, tem 55% de boas avaliações, 20 pontos a mais que o chefe, Jair Bolsonaro.
O político médico abriu um precedente desnecessário na guerra sanitária em que é comandante. Depois, até reconheceu que o adiamento não é da sua alçada.
Se realmente necessário, caberá ao Congresso aprovar emenda para tanto, já que a Constituição determina eleições regulares de quatro em quatro anos.
No meio dessa pandemia, a última coisa que deveria ocupar a pauta do Parlamento seriam votações na Câmara e no Senado para distribuir a aliados locais mandatos que só cabe ao eleitor conferir.
O processo eleitoral só esquenta em agosto. Não é hora de levantar a discussão. Mandetta tem prioridades mais urgentes, como ampliar o número de testes para a doença e o de leitos de UTI com respiradores. Ou seja, salvar vidas.
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