É espantoso ver um presidente ainda no segundo ano de mandato, mesmo sem enfrentar uma oposição forte e organizada, apresentando a fragilidade política de Jair Bolsonaro.

Pesquisa Datafolha apontou que 45% dos eleitores brasileiros defendem que o Congresso abra um processo de impeachment do chefe de governo. Na margem de erro de três pontos, a parcela dos que se opõem (48%) é semelhante.

A calamidade do coronavírus desencadeou uma série de desatinos presidenciais. Primeiro, Bolsonaro foi contra o isolamento social, pregando a volta ao trabalho mesmo ao custo de uma explosão da doença. Depois, participou de um ato tresloucado que defendia golpe militar.

Como se não bastasse, a troca do comando da Polícia Federal --marcada por interesses pessoais e suspeitos-- culminou com a saída de seu então ministro mais popular, Sergio Moro (Justiça).

Já são quase 30 os pedidos de impeachment no Congresso, onde a base do presidente é frágil e desarticulada.

A divisão política amplia os riscos dessa tarefa. Os fatos conhecidos até aqui justificam a abertura imediata de investigações, mas não dá para ignorar o apelo que Bolsonaro mantém entre uma parcela considerável do eleitorado.

Segundo o Datafolha, um terço dos brasileiros (33%) considera o desempenho dele ótimo ou bom. Em comparação, o governo Dilma Rousseff contava com apenas 13% de aprovação às vésperas do impeachment. A petista, porém, já entrava em seu sexto ano de mandato, e o país sofria com uma recessão profunda.

O novo tombo econômico vai se juntar à crise sanitária, que se agrava, e a uma crise política já instalada. A solução não parece clara em nenhum dos casos.