Foi esquisito quando o procurador-geral da República, Augusto Aras, pediu a apuração das manifestações antidemocráticas lideradas por bolsonaristas radicais, mas teve o cuidado de deixar o presidente --que participou desses atos-- fora da investigação.
Tido como um aliado do Planalto, Aras já contestou o modo como o Supremo Tribunal Federal instaurou outro inquérito, o das fake news, também uma pedra no sapato do presidente.
Assim, é uma grata surpresa o avanço da investigação conduzida pelo procurador-geral. Na segunda (15), foram detidos integrantes de uma ala mais delirante da direita, que ameaçavam usar violência em seus atos. No dia seguinte, 11 parlamentares ligados a Jair Bolsonaro tiveram o sigilo bancário quebrado; outros nomes importantes foram alvos de mandados de busca e apreensão.
Descobrir como esses grupos golpistas são bancados é essencial, mesmo que seja necessário preservar a liberdade de expressão de todos.
Como de hábito, Bolsonaro alegou perseguição e reagiu com ameaças veladas. Disse que estaria próxima "a hora de colocar tudo em seu devido lugar".
Mesmo que Aras atue em seu favor, uma apuração bem feita tende a apontar ligações incômodas para o presidente e seus apoiadores --e isso o apavora.
Tanto a investigação das fake news quanto a dos movimentos antidemocráticos podem desaguar em práticas de financiamento ilegal de campanha, tema que já consta de um processo no Tribunal Superior Eleitoral.
Bolsonaro pode reclamar à vontade --é do jogo. Mas ele e seus aliados sabem que não há saída fora da Constituição. Os inquéritos vão continuar.
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