PEC da impunidade

Depois da prisão do deputado federal Daniel Silveira (PSL-RJ), uma parte de seus colegas achou por bem apresentar uma proposta de emenda à Constituição para definir de modo mais preciso os limites da imunidade parlamentar.

Na prática, porém, a medida não limita nada; ao contrário, o que se propõe é ampliar a blindagem constitucional a que deputados e senadores já têm direito. Não surpreende que, nos bastidores do Congresso Nacional e nas redes sociais, tenha circulado um apelido merecido: PEC da impunidade.

Parlamentares precisam de algumas garantias para que exerçam seus mandatos com a máxima liberdade e o mínimo de receio. Somente assim poderão defender os interesses de seus eleitores sem censuras externas nem internas.

É por esse motivo que congressistas são invioláveis por votos e opiniões emitidas no exercício do mandato. Pela mesma razão, só podem ser presos em circunstâncias muito específicas --flagrante de crime inafiançável. E, ainda, têm a oportunidade de suspender um processo contra um de seus pares ou mesmo de tirá-lo da cadeia.

A ideia por trás de todas essas vantagens é proteger o mandato parlamentar contra abusos de outros Poderes. A democracia seria muito mais frágil se o Judiciário, sem nenhum freio, pudesse tirar do Congresso deputados e senadores que não fossem de seu agrado.

O sistema funciona. Se o Judiciário exorbitar, basta o Legislativo corrigir o erro com os mecanismos já existentes.

Pegou muito mal, por isso, a pressa do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), em criar novas regras de proteção. Felizmente, a pressão da sociedade segurou, ao menos por ora, a manobra.

Presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), durante votação na Casa, em Brasília - Najara Araújo/Câmara dos Deputados

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