Lula foi preso no histórico 7 de abril de 2018, véspera, portanto, do histórico 8 de abril de 2018. Da cadeia, assistiu pela televisão ao título de seu Corinthians sobre o arquirrival Palmeiras na casa do adversário.
A festa alvinegra foi quase solitária, em um Allianz Parque esvaziado logo após o chute certeiro de Maycon. Também foi solitária a festa do torcedor ilustre. De longe, preso como tantos outros corinthianos condenados em instâncias inferiores, o pernambucano juntou seus dedos aos do gaúcho Cássio e aos do potiguar Rodriguinho, que levantavam a taça, para celebrar o 29º título estadual do time do povo.
Para o vice-campeão despeitado, foi um Paulistinha. Para os alvinegros, uma das mais saborosas conquistas em uma história repleta delas, ainda que a Fiel não estivesse no estádio da zona oeste —ou por isso.
Na aberração da torcida única nos clássicos de São Paulo, ganhar do rival, na casa do rival, só com torcedores rivais, acabou se tornando algo quase erótico. De mais a mais, os jogadores sabiam que não estavam sozinhos: dois dias antes, em um simples treino, a Itaquera de 2018 pareceu o Anhangabaú de 1984.
A solidão, por vezes, é uma ilusão. No histórico 8 de abril de 2018, nem os corinthianos cercados de hostilidade e concreto por todos os lados estavam largados à própria sorte. Era essa, afinal, a ideia.
Preso na véspera daquele Dérbi, Lula foi solto ontem, na véspera de outro. A prisão em desacordo com a Constituição foi abolida, mas a aberração da torcida única continua em vigor.
Ou seja, na cadeia ou na rua, nenhum corintiano terá a liberdade de ir ao Pacaembu hoje para fazer seu poropopó. E quem assistir ao clássico pela TV, no sistema pay-per-view, vai fazer isso com a tornozeleira eletrônica do VAR, tolhido da possibilidade de gritar gol.
A liberdade é limitada, está claro. Gritar gol é coisa do passado. Há torcedores e presidentes que podem ir ao estádio hoje; outros, não.
Mas é Dérbi. Ninguém estará sozinho.
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