Descrição de chapéu Opinião

Caneladas do Vitão: Parabéns?

Alemão é raiz. Não só no samba. Amor a distância é complicado. É preciso contato. Não que ele seja de muito tato. Ao contrário, ostenta repulsa por tudo que não compactua. Nem acredita. Tem a sua ideologia: na era dos cristãos sem Cristo e dos capitalistas sem capital, escanteia a hipocrisia. E, mesmo que só perca com isso, sempre deixa bem claro o seu lado, que é o outro lado.

Quando deixou a casa dos pais, cumpriu a (auto)promessa de construir o seu lar do seu lado. Não o lado em que nasceu, mas o lado de São Paulo que sempre foi identificado. O amor declarado pela zona leste, que orgulhosamente veste, tem mais a ver com a proximidade com o povo corinthiano do que com a vizinhança com o Corinthians, amor de berço, da vida, que permeia toda a sua história, da escolha da profissão ao nome do filho, homenagem a Basílio.

charge para a coluna caneladas do vitao de 25 de janeiro
Cláudio Oliveira

Se o Corinthians é um estado de espírito espalhado por todos os lugares, como o próprio viu até no Japão, Alemão é mais ele e, pois, mais Corinthians do lado em que jogou bola na infância e onde construiu amizades e valores focados na diversidade racial, social, religiosa, econômica e cultural. De forma natural. Nada pensado ou forçado, todo mundo junto e misturado.

Espírito também encontrado no Pacaembu onde ninguém era mais preto e branco do que ninguém. Maria mole no boteco, futsal federado, busca por trabalho, mulherada na balada, almoço de lei na tia são-paulina e na vó palmeirense todo domingo: tudo que gostava e frequentava estava na “sua” ZL, uma 23 de Maio e uma Radial Leste inteira de onde morava.

São Paulo faz aniversário. Daí a estar de parabéns vai uma distância do Valo Velho a Guaianases. Alemão sente falta da São Paulo dos torcedores misturados da infância, período de uma ingenuidade que não se encontra mais em nenhum canto da cidade. E que talvez nunca existiu e só exista em sua saudade.

Zona leste somos nós, São Paulo somos nós. Que tristeza que é conhecer o que pensa o vizinho racista na reunião de condomínio ou os valores nazistas do estranho que abraçamos na hora do gol. Mas Alemão ama toda a sua São Paulo, especialmente a sua ZL, mesmo assim.

Juca ​Kfouri: “O grande problema de São Paulo é não se chamar Corinthians”.

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