Cuidado, pessoal, lá vem vindo a veraneio, toda pintada de preto, branco, cinza e vermelho, com números do lado, e dentro dois ou três tarados, assassinos armados, uniformizados... Alô, povão, agora é fé! Há 17 anos, em 19 de julho de 2003, eu, como repórter deste Agora, estava no Pacaembu para Corinthians 1 x 0 Guarani e presenciei Jô (então com 16 anos, 3 meses e 39 dias) ser o atleta mais novo a vestir a camisa do clube em uma partida oficial.
Era outro mundo, outro Brasil, outra São Paulo, outro Corinthians… O Timão, que vinha de conquistas recentes, inclusive título mundial, vivia crise financeira e tinha sua diretoria, vencedora no passado, questionada pela oposição formada por ex-situacionistas.
A base, fatiada, era usada como vitrine, não como planejamento esportivo. Era ação na justiça, contas atrasadas, denúncias. Ouvia cada história no Parque: era superfaturamento do cloro da piscina ao feijão servido no alojamento da base, era conselheiro que ficava com a grana do estacionamento, cartola octogenário que comprava lingerie para a secretária (que tinha idade para ser sua bisneta) e colocava a nota como “despesas” de viagem…
À época, a polícia era civilizada em Alphaville, e, na perifa, batia sem dó e passava geral! E o que morria de “suspeito” no caminho do hospital quando era socorrido...
Tudo mudou. Temos celulares que transmitem ao vivo. E não é que eu recebi um WhatsApp confirmando a contratação do Jô quando assistia (“surpreso”) o caso do inocente Guilherme Silva Guedes, 15 anos, assassinado por PM em Americanópolis, periferia da ZS. Mas poderia ser no Jaçanã, em Barueri, ou em Mineapolis.
O Corinthians está devendo geral, dispensou funcionários, gente da base, está na pindaíba. Jô, que não tem culpa, está de parabéns. Saiu da periferia de Sapopemba (ZL), sobreviveu a inúmeras operações policiais no bairro e fará sua terceira passagem pelo Coringão. Se não estiver preocupado em receber em dia, será feliz.
Eduardo Galeano: “Na luta do bem contra o mal, é sempre o povo que morre”.
Sou o Vitor Guedes e tenho um nome a zelar. E zelar, claro, vem de ZL. É tudo nosso! É nóis na banca!
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