Não é cova grande, é cova medida, é a terra que querias ver dividida, é uma cova grande pra teu pouco defunto, mas estarás mais ancho que estavas no mundo, é uma cova grande pra teu defunto parco, porém mais que no mundo, te sentirás largo... Alô, povão, agora é fé! Com a realização do Dérbi da morte em Itaquera, na ZL paulistana, o futebol e a humanidade morreram um pouco mais nesta marcha sepulcral travestida de clássico (válido?) do Covidão-2020.
O Corinthians 1 x 0 Palmeiras de 22 de julho de 2020 será eternizado e aclamado como uma ode à estupidez e ao descaso à vida. O Dérbi dos rivais com fundadores italianos merecia ter os piores momentos incluídos como uma cena grotesca de “A Vida É Bela”.
No premiado e aclamado filme italiano, Roberto Benigni dirige e dá vida ao judeu Guido, que usa a imaginação para o filho Giosué encarar os horrores do campo de concentração como se fosse uma gincana, uma brincadeira, na tentativa de proteger a criança do terror e da violência nazistas durante a Segunda Guerra.
Lembrei do filme (que me é antipático por tratar com humor e leveza, ainda que crítica, a aberração nazista) porque não me conformo que pessoas (seres humanos, não gado que muge efusivamente um lunático vendedor de cloroquina travestido de presidente) normalizem e tratem com leveza a realização do clássico paulista mais tradicional enquanto cadáveres são empilhados ao milhares (84.082) por causa do coronavírus!
A economia, como o número de mortos da pandemia tratada por “gripezinha” pelo líder da manada, não pode parar, talkey?
Não sou crítico de cinema, mas prefiro “Bastardos Inglórios”, do diretor Quentin Tarantino, por espelhar melhor meu gosto. E por ilustrar melhor do que “A Vida É Bela” o que, sinceramente, desejo a nazistas e fascistas.
Voltemos à tragédia brasileira. Ao dirigir Lima Duarte, em “Boleiros”, na cena em que o personagem Edil, treinador alviverde, fala (à maria-chuteira gostosamente vivida por Marisa Orth) “a senhora não sabe o que é um Parmera e Curintchá”, o palestrino Ugo Giorgetti imortalizou a frase que, tirada de contexto do filme, serve para as “otoridades” que decidiram pela volta do Covidão-2020!
Da série “a morte como ela é”, foram 90 minutos abjetos, divididos em dois atos, com direito a um intervalo de 15 minutos de silêncio, para as pessoas sentirem mais vergonha do absurdo, do nonsense, do surreal.
Para os familiares e amigos dos mortos, sejam eles corinthianos ou palmeirenses, foi nada, não ficou nada.
E daí?
José Saramago: “Saberemos cada vez menos o que é um ser humano”.
Sou o Vitor Guedes e tenho um nome a zelar. E zelar, claro, vem de ZL. É tudo nosso! É nóis na banca!
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