Foi nos anos 1950 que Djalma Santos começou a construir sua figura como um dos maiores laterais de todos os tempos. Colocando nos lances mais banais “toda a paixão de um Cristo negro”, como descreveu o cronista Nelson Rodrigues, mostrou talento na Portuguesa e ganhou espaço na seleção brasileira.
Mais ou menos nessa época, sem o mesmo cartaz, outro Djalma também fazia um bom papel como lateral. Era um jogador de canelas finas, que não chegava a preocupar os adversários como arma ofensiva, porém era implacável na marcação em suas peladas no Rio de Janeiro.
“Certa vez, o técnico do time adversário ficou tão irritado com seus atletas, que invariavelmente perdiam a bola, que gritou: ‘Dá uma porrada nesse perna de sabiá. Esse cara está tirando onda com a gente, ninguém passa por ele’”, relatou Leonardo Bruno, no livro “Explode, Coração — Histórias do Salgueiro”.
O apelido pegou, e Djalma Sabiá o carregou com dignidade até o último dia de sua vida, na última segunda-feira. Seus 95 anos não foram suficientes para colocá-lo entre os melhores laterais de todos os tempos, mas deixaram uma marca na história do Carnaval.
Filho de uma porta-bandeira, casou-se com duas. Entre um amor e outro, fundou a Acadêmicos do Salgueiro e compôs seis sambas de enredo da escola bebericando outra de suas criações, o leite de onça —mistura de leite condensado, leite de coco e cachaça.
Se o drinque fez sucesso, não foi essa batida que o imortalizou. Gente que entende do riscado, como Martinho da Vila, aponta o “Chico Rei” cantado pelo Salgueiro em 1964 como o mais bonito entre todos os sambas de enredo.
A letra de Sabiá é um espetáculo de coesão, uma linda poesia que passa perfeitamente por prosa se ignorada a divisão dos versos. Falta neste texto talento semelhante para homenagear um Djalma que, mesmo com a qualificada chancela de Martinho, merece muito mais crédito do que geralmente recebe.
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