Há uma tentação, sobretudo em nosso tempo, de falar enquanto o pensamento ainda está sendo formulado. As pessoas falam muito e dizem nada, porque a ânsia de abrir a boca é anterior à construção de uma mensagem consistente.
Na era das redes sociais, esse descompasso fica registrado por escrito. O sujeito aperta o botão e publica um texto de cento e poucos caracteres antes de se dar ao trabalho de reler a frase e perceber os erros de digitação e sintaxe. Aí, escreve outro, também com erros de digitação e sintaxe, tentando explicar os erros de digitação e sintaxe da publicação anterior.
Nem tudo, porém, é culpa das redes. Nada é, na verdade. Elas não tornam ninguém ridículo. Apenas expõem o ridículo.
O busílis —no Twitter, na parede da caverna ou à beira do campo de futebol— é ter o que dizer. E, quando você faz questão de anunciar que tem algo a dizer, o mínimo é ter algo a dizer.
Veja Sylvinho, o novo técnico do Corinthians, que grita, gesticula, contorce o rosto e diz nada. Na eliminação alvinegra na Copa do Brasil, nesta semana, houve um momento em que ele suplicou a atenção do meia Araos: “Araos, Araos, Araos!”. Quando o chileno finalmente olhou na direção do comandante, ouviu a orientação decisiva: “Respira!”. Era a única coisa que Araos estava fazendo corretamente.
Na seleção, os jogadores também fizeram questão de chamar a atenção para si. Anunciaram um manifesto, que foi previamente tratado como histórico e encheu de esperança a parcela da população que está cansada de contar mortos.
A expectativa de boicote à abjeta Copa América, porém, logo foi desfeita. E a mensagem apresentada foi tão lamentável que não teve nem a elementar orientação de Sylvinho a Araos.
A redação entregue pelos atletas provavelmente seria mal avaliada em um curso primário, já que conseguiu ser ainda mais vazia do que as palavras do treinador do Corinthians. Ele ao menos falou “respira”, algo que não passou pela cabeça dos aluninhos de Tite.
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