Descrição de chapéu Opinião

Caneladas do Vitão: Pelota messalina

Messias argentino, Deus brasileiro

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São Paulo

Messianidade. Qualidade de quem é enviado pelos deuses do futebol. Tem o dom miraculoso de desafiar a física com curvas inexplicáveis, passes indescritíveis, arrancadas sobrehumanas e de abrir o mar de defensores com o genial poder transcendental de transformar o sobrenatural em algo rotineiro, semanal, banal.

Messiânico. Indivíduo de outro planeta encarnado neste mundo de provas e expiação com a missão de liderar as ações, comandar os seguidores e transformar o coletivo fraco, desorganizado, falho, desmoralizado e demasiadamente humano em algo capaz de conquistar a terra prometida representada pelo topo dourado. Sem, para isso, usar de intimidação, chilique, tirania, egoísmo, vaidade, maledicência, complacência, arminhas, dancinhas diabólicas e simulações fraudulentas. É a liderança técnica incomum imposta pelo exemplo, empenho e humildade em se colocar na câmara dos comuns, no mesmo gramado pisado por todos os mortais.

charge de Messi e Neymar de costas um para o outro com os uniformes das seleções que defendem
Cláudio Oliveira

Messiado. A função do Messias é superar a várzea organizacional, tabelar com burocratas e, apoiado e irmanado em apóstolos humanos, abrir caminhos e conduzir o seu povo, descrente pelas humilhações, derrotas e sofrimentos recentes, divinamente à sonhada e consagradora vitória final. Em campo, o Messias usa e abusa da vara mágica para pescar, ensinar a pescar e ainda oferecer o filezinho de peixe pronto e sem escama para o companheiro bem colocado encher a rede.

Messianismo. Movimento religioso, com menor grau de fundamentalismo e fanatismo em relação ao maradonismo, que consiste na crença em um messias capaz de reorganizar, reescrever e reestabelecer a ordem e o triunfo.

Messalina. Sensual e libertina, a bola, como toda apaixonada, sempre espera alguma coisa para sábado à noite. E está sempre pronta para ser seduzida por Messi. Ah, coitada da bola, ora, quase toda hora, tão bem tratada, ora, na hora h, ignorada. Pelota feita de pelotuda. É hoje, Messi? Ou a bola pode, de novo, levar bolo...

Desde Maradona e sua mão de Deus que a Argentina espera que um novo messias faça a diferença com os pés... Se, enfim, chegou o grande dia quem sabe é Deus... E Deus, todos sabem, é brasileiro!

Júlio Cortázar: “Andávamos sem nos procurar, mas sabendo sempre que andávamos para nos encontrar”.

Vitor Guedes
Vitor Guedes

44 anos, é ZL, jornalista formado e pós-graduado pela Universidade Metodista de São Paulo, comentarista esportivo, equilibrado e pai do Basílio.

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