Ficar atento às novas regras previdenciárias é apenas o início do planejamento de uma aposentadoria saudável. Quem está pensando em deixar o mercado de trabalho precisa considerar ainda a nova renda mensal e o novo estilo de vida.
Para ajudar a se preparar para essa etapa, o Agora separou dicas de especialistas em sete passos para a esperada aposentadoria.
Quando alguém da casa vai se aposentar, toda a família deve se preparar para mudar hábitos e saber que o benefício não será uma renda extra, mas a substituição de um salário por um valor, na maioria das vezes, menor.
Manter o estilo de vida com a nova renda vai exigir cautela nos gastos e economia. O educador financeiro Reinaldo Domingos recomenda identificar quanto será preciso ter de reserva financeira para ter uma renda que possa complementar a aposentadoria.
“O futuro aposentado deve se perguntar por quanto tempo manteria seu atual padrão de vida se não recebesse seu ganho mensal”, diz o especialista. Domingos lembra que poder aquisitivo do brasileiro sofre perda significativa a cada ano, por isso a dica é, sempre que possível, constituir uma reserva financeira duas vezes maior que o custo de vida atual.
A saúde do idoso também não pode ser deixada em segundo plano. O profissional que tem convênio médico da empresa deve aproveitar para colocar os exames e as consultas em dia, e até fazer tratamentos se for preciso, antes de aposentar as chuteiras.
A transição para a nova fase deve incluir ainda planos para a nova rotina, como a realização do sonho de montar o negócio próprio.
E antes de pedir a aposentadoria ao INSS, é fundamental conferir o seu extrato de contribuições (Cnis) e providenciar toda documentação que comprove o direito ao benefício.
Vida nova | saiba se é hora de pedir o benefício
- Se aposentar é o sonho de muitos brasileiros, mas antes de calcular o valor do benefício, é necessário refletir sobre o padrão de vida esperado para os próximos dez ou 20 anos
- O planejamento previdenciário auxilia a tomar uma decisão que afeta toda a família
1 - ELABORE UM PLANO
- Antes de fazer o pedido ao INSS, responda a perguntas básicas: se terá condições de pagar um plano de saúde, irá morar sozinho ou depender de parentes, por exemplo
- Essas respostas vão direcionar para a melhor hora de se aposentar
Faça sua poupança
Se sustentar apenas com a aposentadoria nem sempre é possível. É preciso considerar quais serão todas as fontes de renda da família e o custo do atual padrão de vida.
Para se adequar à nova realidade financeira, o ideal é poupar mensalmente
- Elimine gastos supérfluos
- Separe uma parte dos seus rendimentos mensais (pelo menos 10%)
- Escolha uma forma de investimento, considerando por quanto tempo quer investir e qual o valor
- Planos de previdência privada, por exemplo, em geral são investimentos de vários anos
2- VERIFIQUE SE TEM DIREITO AO CONVÊNIO MÉDICO DA EMPRESA
Check-up
- Idosos são mais suscetíveis a desenvolver alguns problemas de saúde, exigindo exames e consultas com especialistas mais frequentes
- Antes de se aposentar, o trabalhador com plano de saúde pode aproveitar para fazer um check-up e iniciar os tratamentos, se necessário
Como manter o plano de saúde da empresa
- Quem tem convênio empresarial com descontos mensais no salário poderá mantê-lo depois da aposentadoria
- O aposentado pagará todo o valor do plano, incluindo a parte do patrão
- Se contribuiu com o convênio por dez anos ou mais, poderá mantê-lo por tempo indeterminado, desde que a empresa continue oferecendo cobertura médica a seus funcionários da ativa
- Se pagou o plano por menos de dez anos, manterá o convênio pela quantidade de anos que contribuiu
- Quando o plano de saúde deixa de ser oferecido pelo empregador, o aposentado tem o direito de contratar um plano individual com aproveitamento das carências já cumpridas, caso a operadora comercialize plano de contratação individual e familiar
3 - CONHEÇA A SUA SITUAÇÃO
Quem trabalha com carteira assinada é obrigado a contribuir ao INSS, mas também é possível fazer os recolhimentos como contribuinte individual. É o caso de autônomos e desempregados, por exemplo
Quanto tempo de contribuição
- Verifique o seu Cnis no site Meu INSS
- Pelo extrato previdenciário será possível saber quantos recolhimentos já tem ao INSS
- Dessa forma, é possível saber quando terá cumprido as exigências para o benefício
Comprovar o tempo de atividade especial ou rural pode fazer muita diferença no valor da aposentadoria. Não deixe esses períodos de fora
Nova regra geral
A reforma da Previdência, em vigor desde 13 de novembro de 2019, instituiu a idade mínima para trabalhadores que contribuem ao INSS, servidores públicos e parlamentares. A será de:
- 65 anos, para os homens
- 62 anos, para as mulheres
- É preciso ter 15 anos de contribuição ao INSS para requerer o benefício
Transição
Quem está no mercado de trabalho não cai na idade mínima imediatamente
Nestes casos, há cinco regras de transição que eles poderão utilizar para se aposentar
- Pedágio de 50%
- Pedágio de 100%
- Pontos
- Idade mínima
- Idade mínima na aposentadoria por idade
Valor da contribuição
- Os trabalhadores que atingiram as condições para se aposentar depois da reforma terão os benefícios calculados pela nova média salarial, que considera todo o tempo contributivo do segurado
- Já quem completou 30 anos de contribuição (mulher) ou 35 anos de contribuição (homem) até 12 de novembro mantém o direito de pedir a aposentadoria por tempo de contribuição pelo cálculo antigo, que descartava os 20% menores salários pagos em reais (desde julho de 1994)
4- ORGANIZE TODA A DOCUMENTAÇÃO
Para garantir a melhor aposentadoria possível, junte todos os documentos de sua carreira. Eles vão garantir exatidão na análise do pedido pelo INSS, principalmente para quem tem direito à aposentadoria especial, na qual a contagem de tempo é feita de uma forma diferente
Principais documentos
- Carteira de trabalho (originais e sem rasuras)
- Extrato do FGTS e demais documentos que provem tempo de contribuição
- Ficha de registro
- Contrato individual de trabalho
- Acordo coletivo
- Termo de rescisão do contrato
- Recibos de pagamento
- Ação trabalhista
- Carnês e guias de recolhimento
- Laudo de insalubridade ou PPP (Perfil Profissiográfico Previdenciário)
Aposentadoria especial
Trabalhador em atividade insalubre pode se aposentar com as regras diferentes
Para antecipar a aposentadoria, o trabalhador precisará completar um período mínimo de contribuição em atividade insalubre (conforme o grau de risco) e atingir uma idade mínima:
Risco à saúde | Tempo de contribuição | Idade mínima |
---|---|---|
Máximo | 15 anos | 55 anos |
Médio | 20 anos | 58 anos |
Mínimo | 25 anos | 60 anos |
Regra de transição
Trabalhadores poderão se aposentar antes da idade mínima quando a soma da idade com o tempo de contribuição for de:
66 pontos
Para atividades que exijam 15 anos de efetiva exposição
76 pontos
Para atividades que exijam 20 anos de efetiva exposição
86 pontos
Para atividades que exijam 25 anos de efetiva exposição
Desde 13 de novembro de 2019, o cálculo do benefício é de 60% da média para quem se aposenta com:
- 15 anos de serviço insalubre, para mulheres e mineiros de subsolo
- 20 anos, para homens
Cada ano a mais de contribuição acrescenta 2% da média salarial ao valor final da aposentadoria
5- RESOLVA PENDÊNCIAS
Deixar para correr atrás de documentos e acertar vínculos trabalhistas na hora de se aposentar pode atrasar o recebimento do benefício em anos
Acerto de vínculos
- Caso algum vínculo empregatício não conste no extrato previdenciário (Cnis), é necessário verificar com o ex-patrão e o INSS, para que esse período seja incluído
- O vínculo empregatício precisa ser comprovado com documento da época do trabalho
- A carteira profissional e a ficha de registro na empresa são provas do tempo de contribuição
- Se a empresa já fechou, será preciso localizar o síndico da massa falida pela Junta Comercial do estado
- Pelo site www.jucesp.sp.gov.br ou pelo telefone (11) 3468-3050
ATENÇÃO! Se teve o reconhecimento de um vínculo na Justiça do Trabalho, ou foi reconhecido um salário maior que o registrado, é preciso pedir expressamente para o INSS considerar esses períodos no cálculo
Contribuições em atraso
- Pagar as contribuições pendentes ao INSS garante mais tempo de contribuição ao segurado
- Mas é preciso ficar atento às regras de pagamento para não perder dinheiro
- O INSS só vai considerar as contribuições depois de analisar e aprovar a documentação que prova que o segurado exerceu a atividade
- O segurado que vai acertar as contas com o INSS precisa estar preparado para pagar multa e juros
- O cálculo leva em conta a correção pela taxa básica de juros (Selic), além de multa proporcional ao período das contribuições atrasadas em até cinco anos. Ele pode ser feito no site da Receita Federal, em http://sal.receita.fazenda.gov.br/
- No caso dos recolhimentos pendentes há mais de cinco anos, o valor pago será de 20% da média das 80% maiores contribuições desde julho de 1994
- Depois, será acrescida multa de 10%, além de 0,5% de juros ao mês até o máximo de 50% sobre o total
- Para atrasos de período anterior a 14/10/1996, o INSS não pode cobrar juros nem multa
Recolhimentos com o código errado
- Quem já contribuiu como autônomo deve ficar atento ao código que está no carnê. Se o código estiver errado, o sistema do INSS não vai registrar essas contribuições
- Neste caso, é possível fazer um pedido para complementar as contribuições pagas. A complementação é a diferença entre o valor que você pagou e a alíquota que você deveria ter recebido
- É possível também apresentar os comprovantes de contribuição ou pedir para o INSS as microfichas de recolhimento
6 - DESCUBRA NOVAS ATIVIDADES
A adaptação ao novo estilo de vida, principalmente para quem tem uma rotina intensa de trabalho, precisa ser levada em conta
Nova rotina
Mesmo que o plano seja descansar, o futuro aposentado pode aproveitar o momento para se dedicar a novas atividades, como cursos e trabalhos voluntários
Enquanto o benefício não chega, é tempo de pesquisar opções
Outra profissão
A aposentadoria pode ser ainda a oportunidade de iniciar um nova carreira ou abrir a própria empresa
Neste caso, antes de se aposentar, estude o mercado e tudo que esteja relacionado para realizar esse sonho seja realizado
7 - DECIDA SE QUER ACEITAR O BENEFÍCIO
Se discordar do cálculo feito pelo INSS na concessão da aposentadoria, o segurado tem direito de recusar o benefício e e fazer um novo pedido
O que fazer
Escreva uma carta, de próprio punho, e leve duas cópias do documento à agência onde o benefício saiu
Esse procedimento é necessário para desistir formalmente da aposentadoria
TOME CUIDADO! Para desistir do benefício, o segurado NÃO pode sacar:
- Aposentadoria liberada pelo INSS
- FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço)
Fontes: INSS; ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar); Ingrácio Advocacia; advogados Roberto de Carvalho Santos, do Ieprev (Instituto de Estudos Previdenciários) e Rômulo Saraiva
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