Ken Loach leva a voz dos trabalhadores ao cinema

Em seus filmes, diretor conta histórias de homens e mulheres comuns

Cena do filme "Eu, Daniel Blake", do diretor Ken Loach - Divulgação
São Paulo

Após sofrer uma parada cardíaca, um trabalhador tem um auxílio negado pelo governo e se vê preso em um emaranhado burocrático sem fim. Esta poderia ser uma das tantas histórias que o Agora já mostrou em suas páginas, mas está no filme “Eu, Daniel Blake”, do diretor Ken Loach, conhecido por dar voz à classe trabalhadora do Reino Unido.

Crítico do liberalismo econômico, Loach concentra suas crônicas sociais nos homens e mulheres comuns e anônimos. Seu longa mais recente, “Você não Estava Aqui”, que estreou na última quinta-feira, mostra a precarização do trabalho em tempos de aplicativos de entregas e de transportes, como Rappi e Uber.

Mesmo falando do Reino Unido, suas histórias são cotidianas e universais. Como em “Chuva de Pedras”, de 1993, em que um trabalhador se desdobra em bicos e acaba recorrendo a um agiota para conseguir comprar um novo vestido de comunhão da filha.

Ou em “Meu Nome é Joe”, de 1998, que segue um alcoólatra em recuperação, desempregado, que treina um time de futebol e começa um romance com uma assistente social, quando ambos tentam ajudar um casal jovem envolvido em drogas e dívidas.

O futebol, sempre presente nos filmes de Loach, é o fio condutor de “Procurando Eric”. O longa, de 2009, conta a história de Eric, um carteiro torcedor fanático do Manchester United, cuja vida está uma bagunça. Para entrar nos trilhos, ele recebe conselhos de um amigo imaginário incomum, o ex-jogador Eric Cantona, interpretado pelo próprio ídolo do Manchester nos anos 1990.

Outro tema caro a Loach é a liberdade, e não por acaso a palavra está nas versões brasileiras dos títulos de alguns de seus filmes. Em “Terra e Liberdade”, de 1995, um britânico vai à Espanha se juntar à luta contra os fascistas na Guerra Civil Espanhola. “Ventos da Liberdade”, por sua vez, retrata o movimento pela independência irlandesa nos anos 1920.

Já em “Jimmy’s Hall”, de 2014, um rapaz volta a sua cidade natal na Irlanda, nos anos 1930, e reabre um salão de danças, que se torna uma espécie de centro comunitário. A luta, para ele, é a de ter a liberdade de manter o espaço diante da oposição da Igreja.

Mas talvez “Eu, Daniel Blake” seja a obra mais emblemática do cinema de Loach. No longa, o personagem nos lembra que, antes de ser um número ou um nome em uma tela de computador de um órgão do governo, quem está na fila de espera de um benefício do INSS, de uma vaga em creche, de uma cirurgia ou do Bolsa Família, entre tantos exemplos, é um cidadão, que tem o direito de ser tratado como tal. Simples, mas difícil de acontecer no Brasil e em outros locais do mundo.
 



ONDE VER
(preços pesquisados em 27 de fevereiro)

CHUVA DE PEDRAS 
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EU, DANIEL BLAKE 
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Google Play: R$ 3,90 (aluguel) e R$ 12,90 (compra)
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JIMMY’S HALL 
iTunes: R$ 4,90 (aluguel) e R$ 9,90 (compra)
Globo Play: grátis para assinantes
NOW: R$ 6,90 (aluguel)

À PROCURA DE ERIC 
Globo Play: grátis para assinantes

A PARTE DOS ANJOS 
iTunes: R$ 4,90 (aluguel) e R$ 9,90 (compra)
Google Play: R$ 3,90 (aluguel) e R$ 12,90 (compra)
Globo Play: grátis para assinantes
Looke: R$ 4,99 (aluguel) e R$ 19,99 (compra)
NOW: R$ 6,90 (aluguel)

VENTOS DA LIBERDADE
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Google Play: R$ 6,90 (aluguel) e R$ 39,90 (compra)
Looke: R$ 9,99 (aluguel) e R$ 29,99 (compra)
 

Hanuska Bertoia
Hanuska Bertoia

47 anos, é formada e pós-graduada em jornalismo. Gosta de ver filmes em qualquer plataforma (TV, celular, tablet), mas não dispensa uma sala de cinema tradicional.

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