Aproximadamente 20 mil lojas encerraram as atividades na capital paulista desde março, quando começou o distanciamento social por causa da pandemia de coronavírus. O número representa 10% do total de estabelecimentos comerciais na cidade. A estimativa é do economista Marcel Solimeo, da ACSP (Associação Comercial de São Paulo).
Apesar dos dados elevados, a perspectiva é de que mais lojas continuem fechando nos próximos meses. “Nós ainda não saímos da crise. O fato de terem permitido uma abertura parcial do comércio é um avanço, mas longe de ter resolvido a questão. Um problema era a loja estar proibida de abrir. O outro, que estamos vivendo agora, é o da descapitalização do consumidor, que perdeu renda”, comenta Solimeo.
A FecomercioSP (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo), estima que, apenas na capital, o comércio perdeu quase R$ 17 bilhões entre março e o dia 9 de junho, véspera da reabertura gradual do setor na cidade. Trata-se de um prejuízo de aproximadamente R$ 220 milhões ao dia.
De acordo com Guilherme Dietze, assessor econômico da federação, os tipos de lojas que mais sofrem com a crise são aquelas que trabalham com itens que não são considerados como de primeira necessidade. Entram nessa categoria, por exemplo, os ramos de vestuário e calçados. Isso ocorre porque, em situações de baixa na economia, as pessoas dão prioridade a produtos essenciais, como de alimentação e farmácia.
"Aqui também entra uma característica importante da quarentena. As pessoas que têm ficado em casa estão com menos necessidade de comprar roupas para sair ou para trabalhar", explica Dietze. Isso faz a demanda do segmento esfriar ainda mais, segundo ele.
Um dos afetados pela diminuição na procura por itens de vestuário foi o comerciante Ivan Zegales Laura, 38 anos. A família dele, que veio da Bolívia na década de 1980, abriu em 2002 uma loja de roupas femininas no Bom Retiro. No ano passado, inaugurou uma filial no mesmo bairro.
Porém, a empresa, que chegou a ter 15 funcionários, foi atingida fortemente pela crise, o que o fez decidir pelo fechamento dos dois pontos comerciais. "Tivemos uma queda de 90% nas vendas desde março. A situação só não foi pior porque atendemos alguns clientes pelo WhatsApp", lamenta.
Na opinião de Zegales, que também é formado em Economia, a situação da loja dele foi ainda mais difícil por se tratar de um comércio atacadista. "Meus clientes também não estão vendendo e deixam de comprar de nós, que ficamos endividados. É uma situação em cadeia", analisa.
Zegales considera que, se o poder público tivesse adotado medidas mais restritivas no início da pandemia, como o lockdown, a situação do comércio poderia estar melhor hoje. "A prorrogação da quarentena a cada 15 dias é muito ruim para nós, pois não conseguimos nos planejar."
Quem também foi afetado pela crise foi Rodrigo Jacopetti, 24. Ao lado de mais dois sócios, ele tinha uma hamburgueria no bairro de Perdizes (zona oeste), perto do Allianz Parque. "O negócio vinha andando, mas a gente dependia muito do estádio", comenta.
Com a quarentena, grandes eventos, como shows e atividades esportivas, foram proibidos, o que comprometeu a renda da lanchonete.
Jacopetti conta que chegou a pensar em manter a casa funcionando apenas com delivery, mas que, após estudos, os sócios chegaram à conclusão de que a opção não era viável, já que o fluxo de caixa não seria suficiente.
Dono de banca há quase 50 anos luta para se manter
A família do comerciante Nelson Damasceno, 80 anos, é dona de uma banca de jornais na região do Brooklin (zona sul) desde 1952. Apesar de ser bastante conhecido na região, ele está com dificuldades para manter o negócio.
De março para cá, durante o período da pandemia, a banca viu sua receita cair cerca de 70%. "Nas semanas em que fiquei proibido de abrir, tive que me virar com o dinheiro da aposentadoria", diz Damasceno, que trabalha sozinho no comércio. "Todo mundo teve queda no faturamento. O que não é alimento praticamente parou", lamenta.
A situação de Damasceno viralizou nas redes sociais depois que um perfil no Instagram publicou a história do idoso e pediu para que as pessoas da região comprassem os produtos na banca dele. Na postagem, é feito um pedido para que os consumidores apoiem pequenos comerciantes.
Cerca de 70 mil trabalhadores foram demitidos, diz sindicato
A crise provocada pelos efeitos do novo coronavírus já provocou a demissão de aproximadamente 70 mil trabalhadores só na capital paulista, segundo o presidente do Sindicato dos Comerciários de São Paulo, Ricardo Patah. A categoria tem aproximadamente 500 mil pessoas na cidade.
Patah informa que cerca de 300 mil comerciários estão com jornadas e salários reduzidos, enquanto outros 30 mil tiveram os contratos de trabalho suspensos. Em torno de 50 mil funcionários de áreas administrativas das lojas foram colocados em home office.
Os efeitos da crise podem ser observados por quem passa pelas ruas do Brás e do Bom Retiro, bairros conhecidos pela grande quantidade de lojas de roupas, principalmente por atacado. Nessas duas regiões, diversas lojas estão fechadas, com placas de "vende-se", "aluga-se" ou "passa-se o ponto".
Apenas na rua José Paulino, no Bom Retiro, foram vistas cerca de 50 placas desse tipo, contando as que foram colocadas em lojas dentro de galerias comerciais.
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