Descrição de chapéu Coronavírus

Professores estaduais de SP ameaçam greve contra reabertura de escolas na pandemia

Docentes citam falta de segurança e são contra retomada em setembro; escolas privadas querem voltar antes

São Paulo

Os professores da rede estadual de São Paulo ameaçam entrar em greve contra a volta gradual das aulas nas escolas públicas, anunciada nesta quarta-feira (24) pelo governador João Doria (PSDB) e pelo secretário de Estado da Educação, Rossieli Soares.

A proposta prevê que as aulas presenciais devem retornar, com rodízio entre os alunos, em 8 de setembro, apenas se todo o estado se mantiver por 28 dias (quatro semanas) na fase amarela, que é a terceira do plano de reabertura da economia paulista.

Representantes dos professores dizem, no entanto, que os docentes receberam a notícia com preocupação, numa decisão que avaliam como "prematura" e "incerta", o que pode levar à paralisação da categoria.

"Além da gravidade e extensão da pandemia, nossas escolas não estão preparadas nem aparelhadas para isso. Caso o governo insista na volta às aulas presenciais em plena pandemia, colocando em risco a vida de professores, estudantes, funcionários e famílias, o sindicato debaterá a greve com a base da categoria", disse a presidente da Apeoesp (Sindicato dos Professores do Ensino Oficial de SP), a deputada Professora Bebel (PT).

"Acreditamos que não era o momento ainda de se anunciar, porque não se sabe como estará a situação até setembro. Muitos professores já entraram em contato conosco, antecipando que não irão voltar às escolas caso não haja mais certeza sobre a segurança contra a transmissão do vírus", diz Silvio dos Santos Martins, 2º vice-presidente do CPP (Centro do Professorado Paulista). "Sem clareza, não dá para marcar data com antecipação para o retorno."

O estado de São Paulo registrou, nesta quarta (24), o segundo maior número de novos casos de coronavírus em 24h desde o início da pandemia: 9.347. Chegou, assim, a 238.822 no total.

O recorde permanece de mais de 19 mil novos registros, mas na ocasião, um problema no sistema do governo causou um atraso de dois dias na contagem, o que causou o pico anormal.

Retomada das aulas em SP será feita com rodízio e faseada, mas não regionalizada - Divulgação

O plano de volta às aulas prevê ainda que haverá uma combinação de aulas presenciais e a distância. Desde abril, o governo do estado tem feito aulas remotas para os estudantes da rede estadual —parte dessas atividades continuará sendo feita com o uso de tecnologia no segundo semestre.

"A criança e o adolescente não são do grupo de risco, de maneira geral. Mas o aluno volta para casa e pode ter contato com membros da família que são. Sem falar que muitos dos professores e diretores são, eles mesmos, do grupo de risco. As pessoas estão com medo", diz o vice-presidente do CPP.

A entidade afirma que vai se reunir e estudar o que pode ser feito contra a decisão do estado, da maneira que está sendo apresentada.

Medida é criticada por setores público e privado

Junto a mais de 40 representantes de entidades ligadas à Educação, a Apeoesp assinou, na última semana, uma nota pública contestando a volta às aulas. Uma versão digital do texto está disponível para assinatura no portal da entidade e conta, até a tarde desta quarta (24), com 16 mil assinaturas, afirma a Apeoesp.

"Não há nenhuma orientação das autoridades sanitárias embasada em estudos científicos que garanta, neste momento, um nível aceitável de segurança para o retorno das aulas em meio à pandemia causada pelo novo coronavírus", diz o documento.

O Sieeesp (Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino do Estado de São Paulo), representante da rede privada, também emitiu uma nota pública, nesta quarta (24), em repúdio à decisão do governo estadual de retomar as aulas em 8 de setembro.

"Causou estranheza a data, pois já estava acertada reunião que aconteceria antes desse anúncio, com a Secretaria de Educação, exatamente para discutir como seria essa volta nas escolas particulares em todo o estado, para se tentar chegar a um consenso sobre o protocolo", diz no documento o presidente da entidade, Benjamin Ribeiro da Silva. "Se é só para voltar em setembro, por que se faz esse anúncio agora, com mais de 70 dias de antecedência?", questiona.

A Secretaria de Educação do Estado de São Paulo diz "lamentar" as colocações do Sieeesp e afirma que realizou quatro videoconferências, juntamente com a Abepar (associação das escolas particulares) e equipe da Secretaria de Desenvolvimento Econômico, para construção dos protocolos apresentados pelo Secretário Rossieli Soares na coletiva de quarta-feira (24).

"A crítica sobre a data de retorno prevista, anunciada para 8 de setembro, está pautada apenas em interesses próprios e econômicos, enquanto o governo de São Paulo planeja este retorno pautado em medidas de contenção da epidemia, atendendo aos interesses da população e sem colocar nenhuma vida em risco", diz a pasta, em nota.

Medida pode ser contestada na Justiça

O deputado estadual Carlos Giannazi (PSOL) afirma que pretende acionar a Justiça para revogar o decreto que será publicado no dia 2 de julho e defende que o anúncio da retomada deveria ser feito após a redução drástica da pandemia, com garantias de segurança sanitária.

"Foi um anúncio inconsequente e irresponsável, pois estamos tendo em São Paulo o aumento do contágio e de mortes. Muitas cidades estão voltando atrás com a flexibilização, como Sorocaba, Registro, Marília, Campinas. O plano de retorno transforma nossos alunos e profissionais da educação em cobaias", diz ele.

"As escolas não têm condições de atender às orientações apresentadas. Faltam funcionários, temos mais de 100 escolas de lata só na rede estadual."

Fase de reabertura

A condição anunciada pelo governo para retomada das aulas é que o estado esteja durante pelo menos quatro semanas na fase amarela, mas nenhuma região de São Paulo está nessa fase, que prevê flexibilização com abertura controlada de comércio e serviços.

Até agora, todas estão na fase vermelha (alerta máximo, sem abertura) ou laranja (controle, com abertura de comércio e serviços a 20% da capacidade). Segundo Doria, (PSDB), a medida anunciada nesta quarta-feira engloba de creches a universidades da rede estadual e municipal e serve como recomendação para as escolas particulares.

Dentre as medidas anunciadas para a retomada estão uso obrigatório de máscaras para todos os alunos e funcionários, higienização frequente das unidades, revezamento dos alunos em dias alternados e uso de copos individuais na hora do lanche.

No caso das redes municipais e particulares, há autonomia para decidir o modelo de retorno às aulas.

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